( Shiiji Shiro Dono Gosho- Páginas 1448 a 1449)
Quando perguntei a ele sobre e o que o senhor havia me dito outro dia, constatei ser exatamente como disse. O senhor, portanto, deve esforçar-se na fé, mais do que nunca, para receber os benefícios do Sutra de Lótus.
Escute com os ouvidos de Shih K'uang (1) e observe com os olhos de Li Lou (2). nos Últimos Dias da Lei, (3) o devoto do Sutra de Lótus(4) surgirá infalivelmente. Quanto maiores sofrimentos lhe sobrevêm, maior a alegria que ele sente, devido à sua forte fé. O fogo não queima mais vivamente quando se adiciona lenha? Todos os rios fluem para o mar. Entretanto, a sua abundância faz com que os rios retrocedam? As correntezas do sofrimento desaguam no mar do Sutra de Lótus e precipitam-se contra o seu devoto. O rio não é rejeitado pelo oceano, nem o devoto recusa o sofrimento. Se não houvesse os rios fluentes não haveria mar. Do mesmo modo , sem adversidades não haveria devoto do Sutra de Lótus. Como Tient'ai(5) afirmou: "Todos os rios fluem para o mar, e lenha faz o fogo estrepitar".
Deve perceber que é por causa de uma profunda relação cármica do passado que o senhor pode ensinar aos outros mesmo uma única sentença ou frase do Sutra de Lótus. O Sutra diz: "É extremamente difícil salvar aqueles que são surdos à Verdadeira Lei". A "Verdadeira Lei" indica o Sutra de Lótus.
Uma passagem do capítulo Hosshi afirma: "Se há alguém, seja homem ou mulher , que secretamente ensine uma única frase do Sutra de Lótus, saiba que é o enviado do Buda". Isto significa que qualquer um que ensine a outras pessoas mesmo uma única frase do Sutra de Lótus é claramente o enviado do Buda, seja ele sacerdote ou freira, leigo ou leiga. O senhor é o praticante leigo e uma das pessoas descritas no Sutra.
Aquele que ouve mesmo uma sentença ou frase do Sutra de Lótus e a alimenta no fundo do coração pode ser comparado a um navio que navega o mar do sofrimento. O Grande Mestre Miao-lo(6) declarou: "Mesmo uma única frase nutrida no fundo do coração infalivelmente o ajudará a alcançar a margem oposta. Ponderar sobre uma frase e praticá-la é exercer a navegação..."
Uma passagem do Sutra de Lótus diz: .como se a pessoa tivesse encontrado um navio para fazer a travessia." Esse "navio" poderia ser descrito da seguinte forma: O lorde Buda, um construtor de navios de sabedoria infinitamente profunda, coletou a madeira dos quatro sabores(7) e oito ensinos(8), projetou -o descartando honestamente os ensinos provisórios, cortou e mostrou os bordos, usando tanto o certo como o errado, e completou a embarcação usando os pregos do ensino único, supremo. Deste modo , ele lançou o navio ao mar do sofrimento. Largando as velas das três mil condições sobre o mastro da doutrina do Caminho Médio, (9)
impelido pelo favorável vento de "todos os fenômenos revelam a verdadeira entidade," a embarcação navega à frente, transportando todos os praticantes que conseguem penetrar no estado de Buda através da sua pura fé. O Buda Sakyamuni (10) e o timoneiro, o Buda Taho(11) maneja as velas , e os Quatro Bodhisattvas(12) liderados por Jogyo movem harmoniosamente os remos regentes. Esse é o navio de " um navio para fazer a travessia", a embarcação do Myoho-rengue-kyo. Aqueles a bordo dele são os discípulos e seguidores de Nitiren. Acredite nisso sinceramente. Quando visitar Shijo Kingo ,(13) por favor, converse seriamente com ele. Eu lhe escreverei novamente.
Com o meu profundo respeito
NitirenEm 28 de abril
Fundo de Cena
Nitiren Daishonin escreveu esta carta para Shiiji Shiro, um samurai que vivia em Kamakura. Pouco se sabe a seu respeito. A parte conclusiva deste gosho e referências feitas sobre ele na carta escrita para Shijo Kingo e Toki Jonin em 1280 e 1281, respectivamente, sugerem que ele era íntimo desses dois praticantes. De acordo com os registros de Nikko Shonin, Shiiji Shiro participou no cortejo fúnebre de Nitiren Daishonin. A partir daí, supõe-se que tenha sido um praticante devotado, que mantinha ligação estreita com Daishonin, especialmente nos seus últimos anos de vida. A detalhada metáfora do ‘navio para fazer uma travessia’ faz-nos imaginar se ele não estaria engajado num serviço relacionado com a construção de navios ou engenharia, embora nenhuma informação sobre esse ponto seja disponível.
O manuscrito original não existe mais e algumas ambiguidades cercam a data de sua escritura. Tradicionalmente, afirma-se que Daishonin a tenha escrito em 28 de abril de 1261, aos 40 anos de idade, cerca de duas semanas antes de ser enviado ao exílio na Península de Izu. Contudo, um outro ponto de vista defende que tenha sido composta bem mais tarde. Referências como as encontradas nesta carta ao devoto do Sutra de Lótus encontrando ‘grandes sofrimentos’ raramente aparecem nas escrituras de Nitiren Daishonin anteriores à Perseguição de Tatsunokuti e exílio a Ilha de Sado. Além disso, o teor do incentivo de Daishonin, expresso no final do gosho: "Quando visitar Shijo Kingo, por favor, converse seriamente com ele" – sugere que Daishonin estivesse morando em algum lugar distante de Kamakura. Com base nessas observações, algumas pessoa supõem que este gosho tenha sido escrito após Daishonin ter se retirado para o Monte Minobu, talvez até no ano de 1281. Entretanto, nenhuma conclusão definitiva foi alcançada.
As circunstâncias imediatas envolvendo o exílio a Izu em 1261 podem ser retrocedidas ao verão precedente, quando Nitiren Daishonin submeteu o seu famoso tratado ‘Risho Ankoku Ron’ (A Pacificação da Terra através do Estabelecimento do Ensino Correto) ao imperado aposentado, Hojo Tokiyori, em 16 de julho de 1260. Os praticantes da Nembutsu de altas posições governamentais enfureceram-se com suas críticas à seita da Terra Pura em seu tratado, e em 27 de agosto de 1260, uma multidão atacou sua residência em Matsubagayatsu, em Kamakura. Daishonin escapou por pouco e obteve abrigo durante algum tempo com seu discípulo Toki Jonin, que morava na província vizinha, Shimousa. Quando ele retornou a Kamakura na primavera de 1261 e retomou seus esforços na propagação, foi preso e sentenciado, sem julgamento ou investigação, a ser exilado a Ito, na península de Izu.
Se Nitiren Daishonin realmente escreveu este gosho em 1261, podemos pressupor que ele possivelmente tenha recebido alguma admoestação antecipada de sua expulsão eminente e estava incentivando seus discípulos a resistirem, mesmo no caso de perseguição. Por outro lado, se ele o escreveu no final de sua vida, então ao falar sobre tribulações, ele provavelmente estaria recordando-se da perseguição de Tatsunokuti e os sofrimentos do exílio na ilha de Sado (1271-1274). De qualquer modo, este gosho prova seu espírito invencível em face das adversidades, e a sua voluntariedade para enfrentar perseguições em prol da Verdadeira Lei – uma atitude que ele manteve durante toda a sua vida.
Na primeira parte deste Gosho, Daishonin explana que o devoto do Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei infalivelmente encontrará sofrimentos. No entanto, longe de serem motivos para lamentar, esses sofrimentos capacitam-no a cumprir o seu grande propósito. Ele explana que aquele que espontaneamente suporta essas dificuldades em prol da Verdadeira Lei seguramente experimentará a grande alegria de atingir o Estado de Buda.
Daishonin também aponta quão difícil e, ao mesmo tempo, quão nobre é propagar a Lei nos Últimos Dias da Lei, quando as pessoas não ouvirão prontamente. Ele afirma que acalentar e praticar mesmo uma única frase do Sutra de Lótus levará uma pessoa à iluminação. Na parte final do gosho, utilizando a metáfora do "navio para fazer uma travessia", do vigésimo oitavo capítulo do Sutra de Lótus, ele declara que o Nam-myoho-rengue-kyo das Três Grandes Leis Secretas é o ‘navio’ que seguramente transportará todos os praticantes, sobre o grande oceano do nascimento e morte, à praia da iluminação suprema.
COMPLEMENTOS:
1. Shih k'uang: Um músico da corte da dinastia Chou, que serviu ao Duque P'ing de Chin. Ele foi famoso pelo seu extraordinariamente agudo senso de afirmação. De acordo com o Lu-Shih_Ch'um-Chíu, somente ele, dentre um grupo de músicos ilustres foi capaz de discernir que um sino que o duque havia mandado fundir não estava no tom perfeito.
2. Li Lou: Um personagem lendário da época do Imperador Amarelo. Célebre por sua visão excepcionalmente aguçada, afirma-se que era capaz de distinguir a ponta de um cabelo a centena de passos.
3. Últimos Dias da Lei: O período que, segundo se descreve, começou dois mil anos após a morte de Sakyamuni, quando as pessoas não podem mais atingir a iluminação através de seus ensinos. Nesta época, o Buda Original faz o seu advento para conduzir as pessoas à iluminação. Os budistas do tempo de Nitiren Daishonin geralmente acreditavam que os Últimos Dias da Lei haviam iniciado no ano de 1052. Tradicionalmente, afirma-se que este período irá durar "dez mil anos e mais, toda a eternidade".
4. Devoto do Sutra de Lótus: Aquele que propaga o Sutra de Lótus e pratica o budismo de perfeito acordo com seus ensinos. Nos Últimos dias da Lei, o tempo refere-se especialmente a Nitiren Daishonin, que ensinou a essência do Sutra de Lótus, a Lei do Nam-myoho-rengue-kyo, e cumpriu as profecias do Sutra. Numa acepção mais generalizada, indica os discípulos de Nitiren Daishonin que abraçam o nam-myoho-rengue-kyo e devotam-se a sua propagação. No sentido específico, "devoto do Sutra de Lótus"é um outro nome para o Buda Original do tempo sem começo, que surge nos Últimos Dias da Lei.
5. Tient'ai (538-597) : Também chamado Chih'i. O fundador da escola Tient'ai na China. Ele classificou a totalidade do corpo de sutras budistas de acordo com sua provável ordem, conteúdo e métodos de propagação, demonstrando que o Sutra de Lótus é o mais importante de todos eles. Suas explanações sobre o Sutra de Lótus posteriormente foram compiladas em três grandes obras: Hokke Guengui ( significado profundo do Sutra de Lótus), Hokke Mongu ( palavras e frases do Sutra de Lótus), e Maka Shikan( Grande concentração e discernimento). O Maka Shikan apresenta a profunda doutrina de Itinen Sanzen ( um único momento da vida contém três mil mundos), elucidando a possessão mútua da verdade última e todos os fenômenos.
6. Miao-lo (711-782) : Também chamado Chan-jan. Sexto patriarca da escola Tient'ai na China, considerado como um restaurador da escola. Ele escreveu detalhados comentários sobre as três principais obras de Tient'ai, contribuindo, assim, para a sistematização teórica de seus ensinos. Os comentários mais importantes de Miao-lo são o Hokke Guengui Shakusen, O Hokke Mongu Ki e o Makka Shikan Bugyoden Guketsu.
7. Quatro sabores: Os quatro primeiros dos cinco sabores- leite fresco, nata, coalhada, manteiga e gir (a manteiga purificada mais excelente, suposta possuir propriedades medicinais). Tient'ai utilizava esses cinco sabores como uma metáfora para os cinco períodos que nos quais ele dividiu os ensinos de Sakyamuni, ou seja, os períodos Kegon, Agon, Hodo,Hannya e Hokke-Nehan. Deste modo, ele comparou o processo através do qual o Buda Sakyamuni instruiu os seus discípulos e, gradualmente, desenvolveu a compreensão deles sobre o processo pelo qual o leite é transformado no gir. Os quatro primeiros sabores correspondem aos ensinos pré- Sutra de Lótus, enquanto o gir representa o próprio Sutra de Lótus.
8. Oito ensinos: Uma outra classificação do corpo de ensinos de Sakyamuni empregada pela seita Tient'ai. Consiste de duas subclassificações: os quatro ensinos de doutrina, uma classificação pelo conteúdo, e os quatro ensinos de método, uma no tripitaka (zogyo), correspondendo geralmente ao Hinayana que enfatiza o rompimento dos desejos mundanos, para se escapar do ciclo de renascimento; (2) o ensino de ligação de (tsugyo) que introduziu o conceito Mahayana de não substancialidade e Kuu; (3) o ensino perfeito (engyo) ou Mahayana verdadeiro, que revela a identidade última do Buda e todos os seres vivos. Os quatro métodos de ensino são: (1) o ensino súbito (tonkyo), ou os ensinos que o Buda expôs diretamente, a partir de sua própria iluminação, sem dar aos seus discípulos qualquer instrução preparatória; (2) o ensino gradual (zenkyo), que o Buda expôs em estágios progressivos para elevar gradualmente a compreensão de seus discípulos; (3) o ensino secreto(himitsukyo), ou os ensinos que o Buda planejou pregar para que cada um de seus ouvintes se beneficiasse com eles diferentemente, de acordo com sua respectiva capacidade, sem estar ciente disto; (4) o ensino indeterminado (fujokyo),através do qual cada um de seus ouvintes, conscientemente, recebiam um benefício diferente. Os quatro ensinos de doutrina são, algumas vezes, comparados aos quatro tipos de remédios, e os quatro ensinos de método às maneiras como esse remédio é prescrito e ministrado. No texto deste Gosho, "oito ensinos" indicam todos os sutras provisórios. O Sutra de Lótus era tradicionalmente conhecido na escola Tient'ai como "o ensino que transcende todas as oito categorias".
9. Caminho Médio: A Lei Mística ou realidade última de todas as coisas que está além de todos os conceitos unilaterais. Em termos das três verdades, a verdade do Caminho Médio transcende as verdades da não substancialidade e existência temporária embora manifeste em ambas. Nitiren Daishonin expressa o" Caminho Médio" como o Nam-myoho-rengue-kyo. Em contraste com as "velas das três mil condições"(sanzen) no texto do Gosho, "o mastro da doutrina do Caminho Médio" corresponde ao momento único da vida (Itinen ).
10. Buda Sakyamuni: O fundador histórico do budismo que viveu há mais de dois mil anos na Índia. Neste contexto, "sakyamuni"indica o Buda que propagou o Sutra de Lótus e sentou-se ao lado do Buda Taho na Torre do Tesouro>
11. Buda Taho: Um Buda que apareceu na assembléia do Sutra de Lótus sentado numa magnífica Torre do Tesouro que se elevava da terra. Segundo o capítulo Hoto (11º) do sutra, o Buda Taho vivia no mundo do Tesouro da Pureza na parte leste do Universo. Quando ainda se empenhava na prática de bodhisattva, ele prometeu que mesmo após Ter entrado no nirvana, surgiria na Torre do Tesouro, e atestaria a veracidade do Sutra de Lótus onde quer que qualquer um pudesse pregá-lo. Após reunir todos os Budas de todo Universo, Sakyamuni abre a Torre do Tesouro, e a convite de Taho, senta-se ao lado deste Buda. Sentados juntos na Torre do Tesouro, Taho representa a realidade objetiva da verdade última, e Sakyamuni, a sabedoria subjetiva para perceber esta verdade.
12. Quatro Bodhisattvas: Jogyo, Muhengyo, Jyogyo e Anryugyo. Os quatro líderes dos Bodhisattvas da Terra descritos no capítulo Yujutsu(15º) do Sutra de Lótus. No capítulo Jinriki (21º), como líder supremo desses bodhisattvas, o bodhisattva Jogyo recebe o mandato do Buda para propagar o Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei.
13. Shijo Kingo: Um samurai e médico habilidoso que vivia em Kamakura. Acredita-se que tenha se convertido aos ensinos de Nitiren Daishonin por volta de1256. Um dos mais dedicados entre todos os seguidores de Nitiren Daishonin. Ele manteve a fé solidamente durante toda a tumultuada carreira e atuou como figura central para os praticantes em Kamakura.
RETIRADO DAS ESCRITURAS DE NITIREN DAISHONIN - VOLUME 3 - Páginas 257 à 263.EDITORA BRASIL SEIKYO LTDA.
As mais Belas Histórias Budistas - As Escrituras de Nitiren DaishoninEndereço: http://www.vertex.com.br/users/san/goshos e-mail: sandro@vertex.com.br
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