"Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a se mover

em direção ao seu desejo".

4 de jan. de 2009

Sobre as formalidades budistas

Sobre as formalidades budistas

Essencialmente, o budismo é o ensino que nos capacita a manifestar nosso inato estado de Buda. E o objetivo da prática budista é estabelecer o estado de Buda como nossa condição de vida básica. O princípio que torna esta realidade possível, é conhecido como Lei. Enquanto, as formalidades budistas são meios para que possamos alcançar tal realidade e possamos expressar nossa gratidão por ter descorberto a forma de alcançá-lo.
Embora a Lei não seja uma criação humana, as formalidades são. Assim, podemos dizer que a Lei foi descoberta, enquanto as formalidades foram criadas no decorrer da história do budismo. Por esta razão, podemos seguir como diretrizes o tema formalidades no Budismo com as seguintes passagens do gosho de Nitiren Daishonin, "O mais importante é o coração" e "A fé é o que realmente importa".
Em toda a história budista, as mentes e corações das pessoas são expressas através do comportamento em oferecer em prol do Buda e do budismo. Com este sentimento, devemos lembrar estes pontos-chaves quando realizamos oferecimentos ao Gohonzon.
Água
O ato de oferecer um copo de água fresca ao Gohonzon (supremo objeto de adoração do Verdadeiro Budismo) tem origem na valorização que a antiga sociedade indiana tinha em relação a água - pois devido ao clima quente, as qualidades da água em purificar e refrescar eram apreciadas. Como forma de expressar nossa sinceridade na fé, oferecemos ao Gohonzon um copo de água fresca todas as manhãs, e no decorrer dos anos, o costume de remover e jogar a água, geralmente antes do gongyo (recitação do Sutra) da noite, foi se estabelecendo.
Folhas Verdes
Uma folhagem chamada shikimi tem sido oferecida tradicionalmente ao Gohonzon no Japão. Sendo originária da Índia, foi trazido ao Japão por Chin Chien-chan (688-763), um bonzon da dinastia chinesa Tang e fundador da escola budista Ritsu. O shikimi tem sido valorizado como a mais perfumada árvore no Japão e tem sido utilizada para oferecimentos diante estátuas budistas. Diz a tradição que este costume teve origem devido ao seu formato, que lembra a flor de lótus azul. Historicamente, o shikimi simboliza a vibrante força vital e a pureza eterna. Entretanto, esta descrição não é encontrada em nenhum dos escritos de Nitiren Daishonin e a formalidade em oferecer ao Gohonzon o shikimi, somente foi estabelecida após muitos anos da morte de Nitiren.
Como o shikimi não é disponível no Ocidente, outros tipos de folhagens – incluindo as artificiais – tem sido utilizadas pelos membros da SGI. O oferecimento de folhagem tem sido feito com o espírito de seguir as palavras de Daishonin: "Caso se recite o nome do buda, o sutra ou meramente se ofereça flores ou incenso, todos os seus atos virtuosos irão implantar benefícios em sua vida. Como esta convicção, deve-se transformar sua fé, em prática". Além disso, consta no Sutra de Lótus: "Os reis Brahma..levaram as flores celestiais e jogaram-nas sobre o Buda". O Sutra de Lótus também narra sobre os monumentos erigidos com a perfumada madeira de sândalo e outras plantas em homenagem ao Buda, após o seu falecimento.
O presidente Ikeda escreveu: "Há um conceito no Budismo conhecido como zuiho bini – que, enquanto não se desvia dos ensinos básicos do budismo de Daishonin, é adequado seguir as formalidades budistas de acordo com os costumes e maneiras de cada região e de acordo com a época.
Em qualquer caso, é importante manter a convicção que nossos sinceros oferecimentos ao Gohonzon constituem em atos virtuosos que irão implantar benefícios e boa fortuna em nossas vidas. O presidente Ikeda acrescenta: "No caso aonde o shikimi não é disponível, poderá ser feito o oferecimento de outras folhagens. Mesmo folhas artificiais podem ser oferecidas, pois o que importa é a sinceridade". Embora muitas escolas budistas ofereçam flores, a tradição da SGI, adotada pela tradição provinda da Nitiren Shoshu, não as utiliza. Este ato surgiu pelo simbolismo das folhagens verdes, que sugerem permanência e vitalidade – o eterno aspecto da vida que buscamos desenvolver através da prática budista. De outro lado, as flores, com o seu rápido murchar, simboliza a transitoriedade da vida. Nos escritos de Nitiren, não existe nenhuma rejeição ao oferecimento de flores, o que podemos assumir como um costume estabelecido posteriormente. Assim, não existe nenhuma razão doutrinária que proiba o oferecimento de flores.
Velas
As escrituras budistas relacionam o oferecimento de luz, como a sabedoria que dispersa a escuridão provinda da ignorância. Assim, as velas são um oferecimento de luz. Entretanto, na época de Nitiren Daishonin, as velas ainda não existiam no Japão e a principal fonte de luz, eram as lamparinas à óleo. De fato, há passagens nas escrituras de Nitiren que comprovam esta teoria: "uma lamparina brilha quando óleo é adicionado".
O significado de oferecimentos de luz é ilustrado por atos como o da mulher pobre que vendeu os seus próprios cabelos para vendê-los e comprar óleo (para o Buda) sendo que as chamas produzidas pelo seu oferecimento não foram apagadas, mesmo pelos ventos vindos do Monte Sumeru.
Tradicionalmente, velas brancas têm sido utilizadas, mas não há nenhuma doutrina que proíba o uso de outras cores. Esta é uma escolha pessoal. Embora, em locais aonde são realizadas reuniões, é aconselhável o uso do bom senso, para que seja utilizado um cor de preferência da maioria. Geralmente, velas muito coloridas podem distrair as pessoas deixando que elas consigam concentrar no Gohonzon.
Além disso, em locais aonde haja perigo de incêndio, é desaconselhável o uso de velas. Atualmente, muitos membros utilizam velas elétricas. Em suma, o que importa é o nosso sentimento em iluminar em honrar a área diante do Gohonzon.
Incenso
O incenso representa um oferecimento de fragrância. Como fragrância, o incenso era utilizado em ambientes quentes e úmidos com o objetivo de dispersar o odor e proporcionar uma atmosfera agradável. Assim como todos os oferecimentos, o incenso é uma expressão de gratitude – não uma regra. Se uma pessoa é alérgica ou não aprecia o cheiro de incenso, não é necessário acendê-lo. Para aqueles que estão preocupados com os efeitos nocivos à saúde ao inalar fumaça em excesso, é aconselhável evitar acender velas e incensos em ambientes confinados ou com pouca ventilação.
Algumas escolas budistas acendem incensos de pé. Nossa tradição tem sido de queimá-los na horizontal. Esta também, não é uma questão doutrinária, embora algumas explicações tenham sido acrescentadas no decorrer dos séculos pelos clérigos.
Em ocasiões especiais e missas para falecidos, há o oferecimento de três pitadas de incenso em pó sobre uma brasa. Embora, em certas ocasiões, somente uma pitada é oferecida. Elas simbolizam as três formas na qual o carma é criado – pensamentos, palavras e ações.
Sino
O sino representa o oferecimento de som. Por esta razão, é melhor buscar um som agradável ao tocar o sino. Assim, é aconselhável evitar tocar o sino muito forte. Não existe nos escritos de Nitiren Daishonin, uma descrição sobre a maneira específica de tocar os sinos, embora este assunto tenha sido enfatizado pelo clérigo. O presidente Toda declarou: "Tocar o sino durante o gongyo é um ato de proporcionar o bem-estar ao Buda. Assim, o sino não deve ser tocado de forma leviana. Nós também usamos o sino como um sinal para os outros, quando recitamos com um grupo de pessoas."
Grou
O grou com as asas em forma de círculo foi adotados pela Nitiren Shoshu durante o período Edo (aproximadamente 300 anos atrás) como um símbolo desta escola a ser utilizado nos documentos oficiais do regime Tokugawa. Recentemente, dois acessórios em forma do grou são posicionados diante do Gohonzon, mas não simbolizam nenhum oferecimentos. Como uma expressão de rejeição ao clero da Nitiren Shoshu, alguns membros utilizam um acessório em forma de lótus com oito pétalas, que é o símbolo da Soka Gakkai. Em nenhum dos casos, há um significado doutrinário e são utilizados somente para decorar e dignificar o oratório. Não é essencial ser usado.
Alimentos e Bebidas
No Japão, um taça com arroz cozido é geralmente oferecida diante do Gohonzon durante a refeição e bolinhos de arroz (mochi) são oferecidos no dia do Ano Novo. Na carta de Ano Novo de Nitiren Daishonin há menção sobre o oferecimento de bolinhos de arroz, pois este tem sido o alimento básico de muitos países asiáticos, e por esta razão, é natural que tenha sido usado como um oferecimento budista.
Frutas também tem sido um oferecimento comum em muitos países, talvez porque não seja um alimento que pereça rapidamente. No dia do Ano Novo e outras datas significativas, é comum no Japão oferecer duas garrafas de sake (destilado feito à base de arroz). Como declarou o 28th Sumo Prelado, Nichiu, no seu "Sobre as formalidades": "Desde que a sinceridade é expressa através do ato de oferecer sake dentro da sociedade secular neste país, a sinceridade no Budismo também pode ser expressa através do oferecimento de sake".
Como mencionado acima, o oferecimento de alimentos e bebidas são significativos quando feitos com sinceridade. A escolha do alimento pode ser uma questão de preferência cultural e pessoal. Como temos visto, as formalidades budistas são derivadas das culturas indiana, chinesa e japonesa e desta maneira, irá envolver outras culturas locais no decorrer dos tempos.
Oratório
Com o objetivo de manter nossa concentração no Gohonzon, é adequado manter o ambiente ao redor do andar sempre limpo e não colocar inúmeros ítens desnecessários dentro do altar. Embora, seja compreensível que se deseje colocar algo íntimo – como a foto de algum familiar – perto do oratório, como forma de sempre nos lembrar desta pessoa em nossas orações.
Juzu (rosário budista)
O rosário budista é um acessório budista tradicional. Não é conhecido que tipo de rosário era utilizado por Nitiren Daishonin. Embora, um grande número de significados tenham sido posteriormente adicionados. Essencialmente, o rosário é somente um instrumento que nos auxilia em nossa prática budista.
A respeito do ato de esfregá-lo ou não em nossas orações, não há uma clara explicação sobre este ponto. Devido ao budismo de Nitiren Daishonin não ser restringido por rígidas formalidade, é incorreto dizer que não se deve esfregá-los, mas devemos ter em mente que o ato de esfregar continua e vigorosamente pode demonstrar um hábito gerado pelo nervosismo, que poderá atrapalhar a nossa concentração e daqueles que estão ao nosso redor. No último capítulo do Sutra de Lótus, consta a passagem: "Sente-se ereto e pondere sobre a realidade última". Assim, com o objetivo de alcançar a mais plena satisfação em nossas orações, é melhor sentar-se de forma calma e sem emoções excessivas enquanto oramos.
Desde que utilizamos o rosário como parte de nossa prática budista, é aconselhável tratá-lo com respeito. Caso ele se quebre, não há problema em jogá-los for a, o mesmo pode ser dito em relação aos sutras antigos que não iremos usar mais.
Outras formalidades
Existe um princípio budista chamado zuiho-bini , ou seja, ou a prática do budismo de acordo com a condição e cultura do local. Assim, o budismo de Nitiren Daishonin foi introduzido no Ocidente por praticantes que imigraram do Japão. Este ponto deve ser sempre lembrado. Entretanto, é importante reconhecer que este pioneiros trouxeram consigo algumas formalidades que eram natural dentro do contexto da cultura japonesa, mas não podem ser estritamente aplicados em outras culturas.
Por outro lado, não é possível simplesmente rejeitar as formalidades, mas sim, devemos observá-las como uma expressão de sinceridade. Pois, caso as rejeitarmos totalmente, poderemos enfraquecer nossa própria fé e prática e consequentemente, nosso crescimento. Em outro extremo, se insistirmos sob a égide de uma rígida formalidade não haverá espaço para ações espontâneas que irão desenvolver nossa prática.
Em qualquer caso, a essência do budismo reside sempre em desafiar a si mesmo e fazer emergir o nosso estado de Buda, não de adotarmos um ritual religioso cheio de cerimônias. Naturalmente, o elevado estado de vida que alcançamos através da prática budista pode ser refletido nos atos de sinceridade expressos no comportamento individual. Neste sentido, a qualidade de nossos oferecimentos e a prova real em nossas vidas são um claro espelho da condição de nossa fé.
Conclusão
O presidente Ikeda referiu-se sobre a relação dos ensinos budistas e as formalidades: "O ensino essencial no budismo de Nitiren Daishonin é recitar o Nam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon. Estudá-lo e propagá-lo são de significado ímpar no âmbito da prática da fé. Todas as outras questões pertencer ao campo da formalidade, na qual varia de acordo com a condição da época.
O budismo de Nitiren Daishonin é seu correto caminho de prática é uma filosofia convincente para qualquer pessoa nos dias de hoje. Desde, que Nitiren Daishonin será sempre o buda dos Últimos Dias da Lei, ele não iria propor um ensino que não fizesse senso para gerações futuras".
Por esta razão, as formalidades concernentes ao ato de oferecimento ao Gohonzon devem ser facilmente compreensíveis para aqueles que vivem no local onde o budismo está sendo propagado. (WT-16 de abril)
Por Ted Morino Fonte: World Tribune – Semanário publicado pela SGI-USA – 16/04/1999

Preciosa Colaboração de Charles Tetsuo Chigusa chigusacharles@hotmail.com
Veja também arquivo em PointPoint sobre as formalidades budistas

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