"Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a se mover

em direção ao seu desejo".

25 de jan. de 2009

Forjar uma prática de grande avanço

Forjar uma prática de grande avanço
Uma mensagem de Matilda Buck, responsável da Divisão Feminina da SGI-USA -

tradução não oficial de Ariel Ricci aricci@estadao.com.br do artigo publicado no jornal da SGI-USA

Ultimamente, tenho falado com pessoas que chegaram a uma parede após mais de 20 anos de prática. A maioria das pessoas poderia pensar que depois de décadas de prática, a vida deveria estar plena de profunda satisfação. Creio que tudo o que experimentamos nos prepara para o passo seguinte; e sempre há um passo seguinte. O sei porque foi depois de 20 anos de prática – depois de ter realizado mudanças enormes na minha vida - que encontrei-me imersa numa tristeza impossível de negar. A tristeza profundamente enraizada que achei ter erradicado, só tinha ficado oculta.
Isso não era o pior; na medida que orava ia chegando mais fundo e me sobressaltou encontrar outro sentimento mais profundo ainda: verdadeira desesperança, uma convicção férrea de que jamais seria feliz ou estaria tranqüila. Agora poderia suportar tudo melhor, poderia me dedicar a uma causa nobre, mas nunca me sentiria realmente bem. Não merecia a felicidade. Achava que minha vida profundamente não era Nam-myoho-rengue-kyo, e sim tristeza.
Como podia ser, depois de tantos anos de prática, de trabalhar de todo coração para ajudar e incentivar aos outros? Para quê tinha praticado durante 20 anos?
Já assistiram esse filme?
Faz pouco voltei a descobrir uma citação de Nitiren Daishonin que creio ajuda a explicar como podemos nos sentir atacados inclusive depois de muitos anos de prática budista. Em “Resposta à mãe de Ueno” (ainda não traduzido ao português) descreve como é usada a madeira melhor e mais forte para construir um pagode, enquanto que a madeira de inferior qualidade é usada para o andaime temporário que é usado durante a construção. “Quando nos preparamos para construir um grande pagode”, escreve Daishonin, “o andaime é de grande importância. Mas uma vez que o pagode está terminado, então retira-se o andaime e dispensa-se. Este é o significado da passagem sobre de ‘descartar honestamente os meios oportunos’. Mesmo que o andaime seja necessário para terminar o pagode, ninguém sonharia jamais com descartar o pagode e venerar o andaime”. (Los Escritos de Nitiren Daishonin, pág. 1074).
Daishonin está explicando que o Sutra de Lótus é o grande pagode e que os outros ensinos constituem o andaime. Creio que podemos fazer uma analogia com a nossa vida: freqüentemente temos levantado um andaime de falsas crenças a respeito de nós mesmos e do mundo. Como sugere Daishonin, num determinado momento podem ter permitido erguer nossa vida. Inclusive a madeira do auto-menosprezo, do medo, da ira ou da arrogância podem ter nos ajudado a sobreviver em certo momento.
Como praticantes, temos construído o grande pagode de Nam-myoho-rengue-kyo na nossa vida; mas, como o demonstra a experiência que divido com vocês, pode ser que ainda estejamos aferrados ao andaime de falsas crenças. No meu caso era a profunda convicção de que nunca mereceria ser feliz.
Encontram alguma destas “madeiras inferiores” na sua vida?
Sou diferente de todos os outros. Ninguém me entende.
Não mereço triunfar e mesmo que triunfe, algo ruim irá acontecer.
As drogas e o álcool são a única maneira de escapar do que sinto.
Comer em excesso é a única forma de encher este buraco negro que tenho dentro.
Todos os que me rodeiam são (tontos, vingativos, estúpidos, egocêntricos, etc.).
As cartas que recebi para jogar não são boas. O melhor que posso esperar é simplesmente sobreviver. Talvez a próxima existência seja melhor.
Nunca terei um casamento feliz. Ninguém poderá me amar jamais.
Diminuir os outros é a única maneira de sentir-me melhor comigo mesmo.
Não importa fazer escolhas ruins referente a relações / dinheiro / o que for porque isso é o que mereço – ou porque essa é a única forma de chamar a atenção.
Sou um mal budista
Fracassei em tudo. A vida não faz sentido.

Após anos de prática, o pagode de nossa iluminação pode ser grande, mas o andaime que o obscurece tem ficado tanto tempo no seu lugar, que podemos não notá-lo mais. Este andaime que num determinado momento pode inclusive até nos ter protegido, na realidade acaba convertendo-se num prejuízo para a nossa felicidade. Se a iluminação quer dizer despertar ao fato de que somos o Buda, que a vida é incomensurável, então a nossa missão é abrir os olhos a todos os seres com respeito a este fato e vive-lo nós mesmos mediante nossa própria transformação. As crenças negativas profundas encontram-se em direta contradição com a verdade fundamental, iluminada, da vida.
A sabedoria do Gohonzon é que o pagode e o andaime não podem conviver facilmente. Uma vez que o pagode foi construído e o andaime continua em pé, sentimo-nos incomodados, seja vaga ou intensamente. Esse incômodo na realidade é um benefício. Nos diz que temos que refletir. Temos que perguntarmo-nos: “junto com a minha fé no poder da Lei Mística e do meu potencial de buda, ao mesmo tempo tenho uma visão distorcida da realidade mais profunda da minha vida?”. Podemos começar orando para perceber e para descartar este andaime de ilusão para que o grande pagode de nossa vida que temos construído fique visível sem obstruções. Isto exige coragem. Por outro lado, não dar esse passo, não avançar, é não ter benevolência porque quando damos um grande passo à frente, inspiramos a fazer o mesmo a uma quantidade inumerável de pessoas que nos rodeiam.
Se somos sérios a esse respeito, devemos perguntarmo-nos o que estamos dispostos a deixar de fazer. Estamos dispostos a desmanchar o andaime inferior que obscurece nossa vida essencial? Podemos deixar de castigar-nos ou de castigar aos outros? Podemos despertar da anestesia ou da negação?
Quando me dei contra a parede depois de 20 anos de pratica, tomei a decisão consciente de praticar a filosofia de Nitiren Daishonin, não a minha própria. No início, fingi. Li as escrituras de Daishonin “Sobre atingir o estado de Buda nesta vida” e “A torre do tesouro” para lembrar a mim mesma – convencer a mim mesma – de que era um Buda. Não acreditava mas repetia a mim mesma: “Minha vida é Nam-myoho-rengue-kyo. Sou um Buda e, portanto, tenho todo o poder de um Buda. Posso fazer surgir a sabedoria e o poder necessários para mudar meu problema. Serei feliz. Como Bodhisattva da Terra que sou, me corresponde ser feliz. Se me permitir. É a maneira como demonstrarei a veracidade da Lei”.
O presidente Ikeda da SGI tem dito, “Enquanto tiverem coragem, sabedoria e sinceridade, poderão converter tudo e todos em aliados mediante a arte da humanidade” (Pág.3, World Tribune, 30/11/01).
Coragem, sabedoria e sinceridade; estas são precisamente as qualidades que desenvolvemos quando saímos de nós mesmos uma e outra vez para ajudar a outros para praticar, quando desenvolvemos nossa humanidade. É por estes 20 anos de tentar ajudar a outros, que tive a coragem no momento crucial de olhar esta parte obscura do meu ser e que tive a força de converter o que mais me assustava – a crença profunda de nunca poder ser feliz – numa aliada para a minha iluminação.
O maior benefício é que, mediante esta experiência, conheci minha identidade essencial de Buda e que todas as pessoas e todas as situações compartilham esta identidade. E isto afeta todas as relações e todas as situações com as que me defronto. É a antítese da desesperança e da morte. Quer dizer que tudo é possível.
Considerem esta fórmula:
Determinem usar sua situação para converter-se em alguém que não duvida que Nam-myoho-rengue-kyo é o núcleo da sua vida, aconteça o que acontecer.
Orem assim: “como Bodhisattva da Terra, tenho o carma de passar por isto; portanto, tenho a missão de supera-lo e sair vencedor”. Nada iguala o poder da oração do daimoku.
Atuem na prática para os outros e para propagar este Budismo – para cumprir com a sua missão, aquela que só vocês podem cumprir.
Transformem o negativismo e reconheçam cada revés como um simples sucesso, que não é o símbolo da sua vida. Não se deixem vilipendiar pelo que ocorreu no passado. Usem cada situação para fazer surgir mais força, não para retroceder. Desmontem o andaime das crenças negativas.
O presidente Ikeda tem dito: “Uma pessoa pode ter toda a riqueza e os tesouros do mundo; mas desde a perspectiva da realidade última da vida, essas coisas não são mais do que meras ilusões… O mais importante é construir um palácio indestrutível de felicidade dentro de nossa vida… É experimentando obstáculos que podemos saborear a verdadeira alegria. É mediante os esforços que podemos crescer.”
Revelemos e saboreemos nosso grande pagode, nosso palácio da felicidade.

Obs. foi criado um título nesta matéria para facilitar a indexação no site, este site é pessoal, não oficial e seu conteúdo é meramente cultural/educacional sem finalidade lucrativa.

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