Forjar uma prática de grande avanço
Uma mensagem de Matilda Buck, responsável da Divisão Feminina da SGI-USA -
tradução não oficial de Ariel Ricci aricci@estadao.com.br do artigo publicado no jornal da SGI-USA
Ultimamente, tenho falado com pessoas que chegaram a uma parede após mais de 20 anos de prática. A maioria das pessoas poderia pensar que depois de décadas de prática, a vida deveria estar plena de profunda satisfação. Creio que tudo o que experimentamos nos prepara para o passo seguinte; e sempre há um passo seguinte. O sei porque foi depois de 20 anos de prática – depois de ter realizado mudanças enormes na minha vida - que encontrei-me imersa numa tristeza impossível de negar. A tristeza profundamente enraizada que achei ter erradicado, só tinha ficado oculta.
Isso não era o pior; na medida que orava ia chegando mais fundo e me sobressaltou encontrar outro sentimento mais profundo ainda: verdadeira desesperança, uma convicção férrea de que jamais seria feliz ou estaria tranqüila. Agora poderia suportar tudo melhor, poderia me dedicar a uma causa nobre, mas nunca me sentiria realmente bem. Não merecia a felicidade. Achava que minha vida profundamente não era Nam-myoho-rengue-kyo, e sim tristeza.
Como podia ser, depois de tantos anos de prática, de trabalhar de todo coração para ajudar e incentivar aos outros? Para quê tinha praticado durante 20 anos?
Já assistiram esse filme?
Faz pouco voltei a descobrir uma citação de Nitiren Daishonin que creio ajuda a explicar como podemos nos sentir atacados inclusive depois de muitos anos de prática budista. Em “Resposta à mãe de Ueno” (ainda não traduzido ao português) descreve como é usada a madeira melhor e mais forte para construir um pagode, enquanto que a madeira de inferior qualidade é usada para o andaime temporário que é usado durante a construção. “Quando nos preparamos para construir um grande pagode”, escreve Daishonin, “o andaime é de grande importância. Mas uma vez que o pagode está terminado, então retira-se o andaime e dispensa-se. Este é o significado da passagem sobre de ‘descartar honestamente os meios oportunos’. Mesmo que o andaime seja necessário para terminar o pagode, ninguém sonharia jamais com descartar o pagode e venerar o andaime”. (Los Escritos de Nitiren Daishonin, pág. 1074).
Daishonin está explicando que o Sutra de Lótus é o grande pagode e que os outros ensinos constituem o andaime. Creio que podemos fazer uma analogia com a nossa vida: freqüentemente temos levantado um andaime de falsas crenças a respeito de nós mesmos e do mundo. Como sugere Daishonin, num determinado momento podem ter permitido erguer nossa vida. Inclusive a madeira do auto-menosprezo, do medo, da ira ou da arrogância podem ter nos ajudado a sobreviver em certo momento.
Como praticantes, temos construído o grande pagode de Nam-myoho-rengue-kyo na nossa vida; mas, como o demonstra a experiência que divido com vocês, pode ser que ainda estejamos aferrados ao andaime de falsas crenças. No meu caso era a profunda convicção de que nunca mereceria ser feliz.
Encontram alguma destas “madeiras inferiores” na sua vida?
Sou diferente de todos os outros. Ninguém me entende.
Não mereço triunfar e mesmo que triunfe, algo ruim irá acontecer.
As drogas e o álcool são a única maneira de escapar do que sinto.
Comer em excesso é a única forma de encher este buraco negro que tenho dentro.
Todos os que me rodeiam são (tontos, vingativos, estúpidos, egocêntricos, etc.).
As cartas que recebi para jogar não são boas. O melhor que posso esperar é simplesmente sobreviver. Talvez a próxima existência seja melhor.
Nunca terei um casamento feliz. Ninguém poderá me amar jamais.
Diminuir os outros é a única maneira de sentir-me melhor comigo mesmo.
Não importa fazer escolhas ruins referente a relações / dinheiro / o que for porque isso é o que mereço – ou porque essa é a única forma de chamar a atenção.
Sou um mal budista
Fracassei em tudo. A vida não faz sentido.
Após anos de prática, o pagode de nossa iluminação pode ser grande, mas o andaime que o obscurece tem ficado tanto tempo no seu lugar, que podemos não notá-lo mais. Este andaime que num determinado momento pode inclusive até nos ter protegido, na realidade acaba convertendo-se num prejuízo para a nossa felicidade. Se a iluminação quer dizer despertar ao fato de que somos o Buda, que a vida é incomensurável, então a nossa missão é abrir os olhos a todos os seres com respeito a este fato e vive-lo nós mesmos mediante nossa própria transformação. As crenças negativas profundas encontram-se em direta contradição com a verdade fundamental, iluminada, da vida.
A sabedoria do Gohonzon é que o pagode e o andaime não podem conviver facilmente. Uma vez que o pagode foi construído e o andaime continua em pé, sentimo-nos incomodados, seja vaga ou intensamente. Esse incômodo na realidade é um benefício. Nos diz que temos que refletir. Temos que perguntarmo-nos: “junto com a minha fé no poder da Lei Mística e do meu potencial de buda, ao mesmo tempo tenho uma visão distorcida da realidade mais profunda da minha vida?”. Podemos começar orando para perceber e para descartar este andaime de ilusão para que o grande pagode de nossa vida que temos construído fique visível sem obstruções. Isto exige coragem. Por outro lado, não dar esse passo, não avançar, é não ter benevolência porque quando damos um grande passo à frente, inspiramos a fazer o mesmo a uma quantidade inumerável de pessoas que nos rodeiam.
Se somos sérios a esse respeito, devemos perguntarmo-nos o que estamos dispostos a deixar de fazer. Estamos dispostos a desmanchar o andaime inferior que obscurece nossa vida essencial? Podemos deixar de castigar-nos ou de castigar aos outros? Podemos despertar da anestesia ou da negação?
Quando me dei contra a parede depois de 20 anos de pratica, tomei a decisão consciente de praticar a filosofia de Nitiren Daishonin, não a minha própria. No início, fingi. Li as escrituras de Daishonin “Sobre atingir o estado de Buda nesta vida” e “A torre do tesouro” para lembrar a mim mesma – convencer a mim mesma – de que era um Buda. Não acreditava mas repetia a mim mesma: “Minha vida é Nam-myoho-rengue-kyo. Sou um Buda e, portanto, tenho todo o poder de um Buda. Posso fazer surgir a sabedoria e o poder necessários para mudar meu problema. Serei feliz. Como Bodhisattva da Terra que sou, me corresponde ser feliz. Se me permitir. É a maneira como demonstrarei a veracidade da Lei”.
O presidente Ikeda da SGI tem dito, “Enquanto tiverem coragem, sabedoria e sinceridade, poderão converter tudo e todos em aliados mediante a arte da humanidade” (Pág.3, World Tribune, 30/11/01).
Coragem, sabedoria e sinceridade; estas são precisamente as qualidades que desenvolvemos quando saímos de nós mesmos uma e outra vez para ajudar a outros para praticar, quando desenvolvemos nossa humanidade. É por estes 20 anos de tentar ajudar a outros, que tive a coragem no momento crucial de olhar esta parte obscura do meu ser e que tive a força de converter o que mais me assustava – a crença profunda de nunca poder ser feliz – numa aliada para a minha iluminação.
O maior benefício é que, mediante esta experiência, conheci minha identidade essencial de Buda e que todas as pessoas e todas as situações compartilham esta identidade. E isto afeta todas as relações e todas as situações com as que me defronto. É a antítese da desesperança e da morte. Quer dizer que tudo é possível.
Considerem esta fórmula:
Determinem usar sua situação para converter-se em alguém que não duvida que Nam-myoho-rengue-kyo é o núcleo da sua vida, aconteça o que acontecer.
Orem assim: “como Bodhisattva da Terra, tenho o carma de passar por isto; portanto, tenho a missão de supera-lo e sair vencedor”. Nada iguala o poder da oração do daimoku.
Atuem na prática para os outros e para propagar este Budismo – para cumprir com a sua missão, aquela que só vocês podem cumprir.
Transformem o negativismo e reconheçam cada revés como um simples sucesso, que não é o símbolo da sua vida. Não se deixem vilipendiar pelo que ocorreu no passado. Usem cada situação para fazer surgir mais força, não para retroceder. Desmontem o andaime das crenças negativas.
O presidente Ikeda tem dito: “Uma pessoa pode ter toda a riqueza e os tesouros do mundo; mas desde a perspectiva da realidade última da vida, essas coisas não são mais do que meras ilusões… O mais importante é construir um palácio indestrutível de felicidade dentro de nossa vida… É experimentando obstáculos que podemos saborear a verdadeira alegria. É mediante os esforços que podemos crescer.”
Revelemos e saboreemos nosso grande pagode, nosso palácio da felicidade.
Obs. foi criado um título nesta matéria para facilitar a indexação no site, este site é pessoal, não oficial e seu conteúdo é meramente cultural/educacional sem finalidade lucrativa.
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