"Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a se mover

em direção ao seu desejo".

3 de jan. de 2009

GOSHO - Três Mestres Tripitaka oram por chuva

(San Sanzo Kiu no Koto – Págs. 1468 a 1469)

Quando se transplanta uma árvore, mesmo que ventos violentos possam soprar contra ela, esta não tombará se possuir um firme suporte para sustentá-la. Porém, mesmo uma árvore que tenha crescido no local adequado poderá cair, caso suas raízes sejam fracas. Mesmo uma pessoa de pouca coragem não tropeçará , se aqueles que a apóiam são fortes, enquanto que uma pessoa de considerável força de caráter, se deixada completamente só, pode cair nos caminhos do mal. Se o Buda não tivesse feito o seu advento nesse nosso grande sistema de mundos, então com a exceção de Sharihotsu e o venerável Kashyapa, todas as pessoas cairiam nos três maus caminhos. Contudo, pelos forte laços formados através de confiar no Buda, um grande número de pessoas pode atingir o estado de Buda. Mesmo pessoas perversas como o Rei Ajatashatru ou Angulimala, que ninguém esperava que algum dia conseguissem alcançar a iluminação, mas sim que cairiam no inferno Aviti, encontrando o grande homem, Sakyamuni, o lorde dos ensinos, puderam atingir o estado de Buda. Portanto, o melhor modo para se atingir o estado de Buda é encontrar um zentishiki, ou um bom amigo. Até onde a sabedoria do próprio indivíduo pode levá-lo ? Se uma pessoa possuir mesmo que somente a sabedoria suficiente para distinguir o quente do frio, ela deve procurar um bom amigo.
Entretanto, encontrar um bom amigo é a coisa mais difícil possível de acontecer. Assim, o Buda comparou isto á raridade de uma tartaruga de um só olho achar um tronco de sândalo flutuante com uma concavidade do tamanho exato para retê-la, ou à dificuldade de se tentar abaixar uma linha do Céu Brahma e passá-la pelo buraco de uma agulha na Terra. Além disso, nessa maléfica era posterior, maus companheiros são mais numerosos que as partículas de poeira que formam a terra, enquanto que o número de bons amigos é menor do que a quantidade de terra que uma pessoa consegue amontoar sobre a unha.
O Bodhisattva Kanzeon do Monte Potalaka agiu como um bom amigo para Zenzai Doji. Porém, embora ele tenha revelado o ensino específico e perfeito, ele não revelou-lhe o ensino puro e perfeito. O Bodhisattva Jotai vendeu-se como um oferecimento em sua busca por um bom mestre, em consequência do que, encontrou o Bodhisattva Donmukatsu. No entanto, ele somente aprendeu dele, as três doutrinas dos ensinos de ligação, específico e perfeito, e não recebeu instrução do Sutra de Lótus. Sharihotsu agiu como um bom amigo para um ferreiro e instruiu-o durante um período de noventa dias, mas conseguiu somente torná-lo uma pessoa de descrença incorrigível. Purna discursou sobre a doutrina budista por um espaço de todo um retiro de verão, mas ensinou sutras Hinayana a pessoas que possuíam capacidade para as doutrinas Mahayana e, desse modo, transformou-as em adeptos do Hinayana.
Desta forma, até mesmo grandes santos (tais como Kanzeon e Donmukatsu) não tinha permissão para pregar o Sutra de Lótus, e mesmo arhats que haviam obtido o fruto da emancipação (tais como Sharihotsu e Purna) nem sempre eram capazes de medir a capacidade das pessoas corretamente. Esses exemplos devem ser lembrados ao se julgar os eruditos nessa última era, a época maléfica em que nós vivemos. É muito melhor ser uma pessoa má que não aprende absolutamente nada do Budismo do que depositar fé em tais homens, que declaram que o céu é a terra, e o leste é o oeste e que o fogo é a água, ou afirmam que as estrelas são mais brilhantes que a lua ou que os montículos de terra das entradas dos formigueiros são mais altos do que o Monte Sumeru.
Para julgar o valor das doutrinas budistas, eu, Nitiren, acredito que os melhores padrões são os da razão e da prova documental. E, mais valioso que a razão e a prova documental são as provas do fato real. No passado, por volta do quinto ano da era Bun’ei (1268), quando os bárbaros de Ezo rebelaram-se no leste e os enviados mongóis chegaram do oeste com suas exigências, eu presumi que aqueles eventos ocorreram porque as pessoas não depositam fé nas doutrinas budistas verdadeiras.
Imaginei que rituais de oração certamente seriam realizados para subjugar o inimigo, e que esses ritos seriam dirigidos pelos sacerdotes da seita Shingon. Dentre a Índia, a China e o Japão, por enquanto deixarei a Índia de lado. Mas tenho a certeza de que o Japão, assim como a China será destruído pela seita Shingon.
O mestre do Tripitaka Shan-wu-wei viajou da Índia para a China no reinado do Imperador Hsuan-tsung da dinastia Tang. Naquela época, havia uma grande seca, e Shan-wu-wei recebeu a ordem de realizar orações pela chuva. Ele conseguiu fazer cair uma forte chuva e como resultado, todos, do imperador às pessoas do povo, foram tomados pela alegria. Pouco depois, entretanto, começou uma forte ventania, impingindo destruição a todo o país, e o entusiasmo das pessoas se desvaneceu rapidamente.
Durante o reinado, o Mestre do Tripitaka Chin-kang-chih saiu da Índia e foi para a China. Ele também orou pela chuva, e dentro do espaço de sete dias uma chuva intensa caiu e as pessoas alegraram-se como haviam feito anteriormente. Contudo, quando surgiu uma enorme ventania de violência sem precedentes, o soberano concluiu que a seita Shingon era uma seita maléfica e terrível e chegou quase a mandar Chin-kang-chih de volta a Índia. Este, porém, apresentou várias desculpas e consegui ficar.
Novamente, no mesmo reinado, o Mestre do Tripitaka Pu-kung orou pela chuva. Dentro de dias, uma forte chuva precipitou-se, produzindo o mesmo êxtase de antes. Todavia, surgiu mais uma vez uma grande ventania ainda mais furiosa do que as duas anteriores, e durou por várias semanas antes de se acalmar.
Que estranhas essas ocorrências! Não há uma única pessoa no Japão, sábia ou ignorante, que tenha conhecimento destes acontecimentos. Se alguém deseja conhecê-los. Seria melhor que me perguntasse em detalhes e aprendesse sobre assuntos enquanto ainda estou vivo.
Quanto ao Japão, no segundo mês do primeiro ano da era Tentyo (824), houve uma grande seca. O Grande Mestre Kobo foi requisitado para orar pela chuva no jardim Shinsen’en. Porém, um sacerdote chamado Shubin ofereceu-se para substituí-lo e, dizendo ser membro do clero há mais tempo e possuir posição mais elevada do que Kobo, pediu que lhe fosse permitido dirigir o ritual. Shubin recebeu a permissão e efetuou as orações. No sétimo dia, caiu uma forte chuva, mas somente na capital e não na regiao rural circunvizinha.
Então, Kobo foi instruído a assumir a tarefa de orar, mas sete dias se passaram sem que chuva alguma caísse e depois, outros sete dias, e mais outros sete dias. Finalmente, o próprio imperador orou por chuva e a fez cair. Entretanto, os sacerdotes do templo de Kobo, To-ji, referiram-se ao fato como ‘a chuva do nosso mestre’. Se alguém quiser maiores detalhes, somente precisa consultar os registros.
Esta foi uma das maiores fraudes jamais conhecidas por nossa nação. E, além disso, houve a questão da epidemia que irrompeu na primavera do nono ano da era Konin (818) e a do almofariz tridentado de diamante, que também foram logros muito peculiares. Este fatos devem ser transmitidos verbalmente.
Houve uma grande seca na China no período da dinastia Chen, mas o Grande Mestre Tientai recitou o Sutra de Lótus e, imediatamente, a chuva começou a cair. O soberano e seus ministros abaixaram suas cabeças e as pessoas do povo juntaram as palmas de suas mãos em reverência. Além disso, a chuva não foi torrencial, nem acompanhada de vento, foi uma chuva fina. O soberano Chen sentou-se enlevado na presença do Grande Mestre e esqueceu-se completamente de voltar ao seu palácio. Naquela ocasião, ele curvou-se diversas vezes (em reconhecimento ao Grande Mestre).
No Japão, na primavera do nono ano da era Konin, ocorreu uma grande seca. O Imperador Saga ordenou que Fujiwara no Fuyutsugu enviasse um oficial de posição inferior, Wake no Matsuna, (ao Grande Mestre Dengyo para pedir-lhe que oferecesse orações apelando por chuva). O Grande Mestre Dengyo orou por chuva, recitando o Sutra de Lótus, Konkomyo e Ninno, e no terceiro dia surgiram nuvens e uma chuva branda começou a cair de forma esparsa. O imperador ficou tão extasiado que deu permissão para a construção de uma plataforma para ordenação Mahayana, cujo estabelecimento havia sido tarefa muito difícil no Japão.
Gomyo, o mentor do Grande Mestre Dengyo, foi um homem santificado, o mais notável sacerdote em Nara, a capital do Sul. Ele e quarenta de seus discípulos reuniram-se para a recitação do Sutra Ninno afim de orar pela chuva, e cinco dias depois ela começou a cair. Foi sem dúvida esplêndido que a chuva tenha caído no quinto dia, mas menos impressionante do que se tivesse ocorrido no terceiro dia, (como no caso do Grande Mestre Dengyo). Além disso, a chuva foi muito violenta, o que tornou a atuação de Gomyo inferior. Com esses exemplos, o senhor pode julgar o quanto os esforços de Kobo para produzir chuva foram inferiores.
Desse modo, o Sutra de Lótus é superior, enquanto a Shingon é inferior. E, no entanto, como se quisessem ocasionar deliberadamente a ruína do Japão, as pessoas de hoje confiam exclusivamente na Shingon.
Considerando o que aconteceu no caso do Imperador Aposentado de Oki, eu acreditava que se as práticas da Shingon fossem usadas para tentar dominar os mongóis e os bárbaros de Ezo, o Japão seguramente seria levado à ruína. Portanto, decidi não levar em consideração a minha própria segurança e fiz uma grave advertência. Quando o fiz, meus discípulos tentaram conter-me, mas em vista do rumo que os fatos tornaram, eles provavelmente estão satisfeitos por eu ter agido assim. Pude perceber algo que nem um único sábio na China ou do Japão entendeu em mais de quinhentos anos !
Quando Shan-wu-wei, Chin-kang-chih e Pu-kung oraram por chuva, esta caiu, mas foi acompanhada por ventos violentos. O senhor deve ponderara a razão disso. Há exemplos de pessoas que conseguiram fazer chover até através do uso de ensinos não-budistas, mesmo os taoístas, que mal merecem discussão. E é óbvio que se os ensinos budistas fosse aplicados corretamente, mesmo que sejam apenas os do Hinayana, como poderia a chuva deixar de cair ? E isso é ainda mais válido no caso de se utilizar um texto como o Sutra Dainiti, que, embora inferior aos sutras Kegon e Hannya, é ainda um pouco superior aos sutras Agon (do Hinayana). Dessa forma, a chuva realmente caiu, mas o fato de ser acompanhada de violentas ventanias é um indicativo de que as doutrinas empregadas estavam contaminadas por erros graves. E o fato de o Grande Mestre Kobo não ter conseguido fazer chover apesar de orar durante vinte e um dias, e de ter se apropriado indevidamente da chuva que o imperador havia feito cair e afirmado ser sua, são indícios de que o erro dele era ainda mais sério do que o de Shan-wu-wei e o dos outros.
Porém, a falsidade mais absurda de todas é a de que o próprio Grande Mestre Kobo registrou quando escreveu: "Na primavera do nono ano da era Konin (818), quando eu estava orando pelo fim da epidemia, o sol apareceu no meio da noite". Este é o tipo de mentira de que esse homem é capaz! Esse assunto é um dos segredos mais importantes confiado aos meus seguidores. Eles devem citar esta passagem para colocar seus oponentes contra a parede. Não entrarei na questão da superioridade doutrinal aqui, mas simplesmente salientarei que os assuntos sobre os quais escrevi são da máxima importância. Eles não devem ser levianamente discutidos ou transmitidos a outras pessoas. Entretanto, por ter-se mostrado sincero, estou chamando a sua atenção para esses fatos.
E quanto a estas minhas admoestrações ? Como as pessoas veêm-nas com desconfiança e recusam-se a levá-las em consideração ocorrem desastres como os que enfrentamos agora. Se os mongóis atacarem-nos com grande força, certo de que (os ensinos do Sutra de Lótus) propagar-se-ão amplamente nesta existência. Nessa ocasião, as pessoas que me trataram rudemente terão motivos para se arrepender.
Os ensinos brâmanes datam de aproximadamente oitocentos anos antes da época do Buda. Primeiro, centralizavam-se nas duas divindades e ascetas, mas, posteriormente dividiram-se em noventa e cinco escolas. Entre os líderes brâmanes havia muitos homens sábios e pessoas dotadas de poderes sobrenaturais, mas nenhum deles foi capaz de libertar-se dos sofrimentos do nascimento e morte. Além disso, as pessoas que ofereceram fidelidade aos seus ensinos de um modo ou outro terminaram, todas, caindo nos maus caminhos.
Quando o Buda surgiu no mundo, estes noventa e cinco grupos de brâmanes conspiraram com os soberanos, ministros e pessoas comuns dos dezesseis maiores estados da Índia, alguns deles insultando o Buda, outros atacando-o ou matando um número incalculável de discípulos e defensores leigos. Entretanto, o Buda não afrouxou sua determinação, pois disse que se parasse de pregar a Lei por causa da intimidação dos outros, todos os seres vivos com certeza também cairiam no inferno. Ele estava profundamente tomado pela compaixão e não pensava de forma alguma em desistir.
Esses ensino brâmanes ocorreram através de uma leitura errada dos vários sutras dos Budas procederam o Buda Sakyamuni.
A situação do Japão, hoje, é exatamente a mesma. Embora muitas espécies de doutrinas budistas estejam sendo ensinadas, basicamente, estas podem ser classificadas como pertencentes às oito seitas, às nove seitas, ou às dez seitas. Dentre as dez seitas deixarei de lado, no momento, a Kegon e outras. Pelo fato de Kobo, Jikaku, e Tisho terem se enganado quanto aos méritos relativos das seitas Shingon e Tendai, o povo do Japão, nesta existência, foi atacado por um país estrangeiro, e, na próxima, cairá nos maus caminhos. E, a queda da China, bem como o fato de seu povo ter sido destinado a cair nos maus caminhos, foram ocasionados pelos erros de Shan-wu-wei, Ching-kang-chih e Puk’ung.
Além disso, após a época de Jikaku e Tisho, os sacerdotes da seita Tendai foram persuadidos pela falsa sabedoria desses homens e desenvolveram algo totalmente diverso da seita Tendai original.
"Isto é realmente verdade?" – alguns de meus discípulos podem estar perguntando. Nitiren, tem, de fato, uma compreensão superior à de Jikaku e Tisho ? Porém, estou somente guiando-me naquilo escrito nos registros do Buda. O Sutra Nirvana declara que nos Últimos Dias da Lei, as pessoas que caluniarão a Lei do Buda e cairão no inferno de incessantes sofrimentos como resultado serão mais numerosas do que as partículas de poeira que compreendem a terra, enquanto que o número daqueles que sustentam a Lei Verdadeira será menor do que a quantidade de areia possível de se amontoar sobre a unha. E, o Sutra de Lótus diz que ainda que haja alguém capaz de erguer o Monte Sumeru e arremessá-lo para longe, será difícil encontrar alguém que consiga pregar o Sutra de Lótus, exatamente como este ensina, nos Últimos Dias da Lei do Buda Sakyamuni.
Os Sutras, Daijuku, Konkomyo, Ninno, Shugo, Hatsunaion e Saishoo registram que, quando os Últimos Dias iniciarem, se surgir uma pessoa que pratique a Verdadeira Lei, então, aqueles que defendem ensinos falsos apelarão para o soberano e seus ministros, e estes acreditando em suas palavras, insultarão aquela única pessoa que mantém a Verdadeira Lei ou a atacarão, a enviarão ao exílio ou a executarão. Nessa oportunidade, Bonten, Taishaku, e todas as outras incontáveis divindades, e os deuses do sol e da terra, apossarão os soberanos, sábios, de países vizinhos e os farão destruir a nação onde tais fatos sucedem. A situação que enfrentamos no presente, é muito semelhante à descrita nesses sutras. Tento imaginar que boas causas formadas em seu passado tenham habitado todos os senhores a visitarem a mim, Nitiren ! Contudo, não obstante o que se possa descobrir ao examinar os seus passados, tenho a certeza de que, desta vez, os senhores conseguirão libertar-se dos sofrimentos do nascimento e morte. Suddhipanthaka não foi capaz de memorizar um ensino de catorze caracteres, mesmo num espaço de três anos, e no entanto, atingiu o estado de Buda. Devadatta, por outro lado, decorou sessenta mil textos sagrados, mas caiu no inferno de incessante sofrimento. Esses exemplos descrevem com exatidão o mundo nessa atual era do Últimos Dias. Jamais pense que refiram-se somente a outras pessoas e não a nós próprios.
Há muitas outras coisas que eu gostaria de dizer. Entretanto, encerrarei por aqui. Não sei como agradecer tudo o que tem feito nessas épocas turbulentas. Como sinal de gratidão, delineei para o senhor alguns importantes pontos em nossa doutrina.
Muito obrigado pelas ervilhas e grãos de soja.
Respeitosamente,
Nitiren
Em 22 de junho de 1275.

Fundo de Cena

Nitiren Daishonin escreveu essa carta no Monte Minobu, em 22 de junho de 1275, aos cinquenta e quatro anos de idade. O seu recebedor, Nishiyama Nyudo, era o administrador da Vila de Nishiyama do Distrito Fuji, na província de Suruga. Pouco se sabe sobre ele. Nishiyama era o nome da vila governada por ele, e o título Nyudo (que penetrou no Caminho) indica que ele foi um sacerdote leigo – alguém que prestou os votos, mas não entrou para o templo e continua a viver no mundo como leigo. Uma explanação identifica-o como um parente materno do sucessor imediato de Nitiren Daishonin, Nikko Shonin, embora não se tenha certeza disso. De qualquer forma, ele parece ter sido um praticante sincero, que visitou Daishonin com frequência em Minobu, levando-lhe oferecimentos.
Esta carta foi composta em resposta a um oferecimento deste tipo. Na parte inicial, Nitiren Daishonin explana a importância dos ‘bons amigos’ou zentishiki – aqueles que podem nos auxiliar em busca da iluminação. Pelo fato de Nishiyama ter pertencido anteriormente à seita Shingon, Nitiren Daishonin utilizou esta oportunidade para apontar as distorções nas interpretações do Budismo cometidas por esta seita. Ele não trata dessa questão na perspectiva da doutrina, mas das ‘provas de fatos reais’, demonstrando que, historicamente, essa seita falhou de forma visível em cumprir o critério mais importante na avaliação de doutrinas religiosas – a prova real, ou efeitos concretos positivos no mundo dos fenômenos. Implícito nisto está a idéia de que uma religião não é meramente um assunto do mundo invisível, espiritual, e deve ter a capacidade para transformar o mundo real onde vivemos.
Os ‘três doutos eruditos’citados no título do Gosho são Shan-wu-wei, Ching-kang-chih, e Puk’ung, três monges hindus que introduziram os ensinos esotéricos Shingon na China, no século VIII. Na porção do meio do gosho, Nitiren Daishonin relata ocasiões nas quais esses três homens oraram por chuva a pedido do trono, e, em cada caso, suas orações produziram ventanias destrutivas. As orações com base no Sutra de Lótus, como as oferecidas por Tientai na China e Dengyo no Japão, pelo contrário, trouxeram uma chuva branda e vivificante.
Podemos entender a questão das orações por chuva como um teste do poder da religião para influenciar as condições objetivas, sob as quais os seres humanos vivem. Em países como o Japão e a China, onde o cultivo de arroz era uma parte essencial à economia, a seca prolongada poderia significar fome e privação. Deste modo, as orações por chuva eram uma parte importante da vida religiosa das pessoas, e a habilidade para produzir chuva através de rituais de oração era considerada uma prova de virtude do sacerdote que os celebrava e da doutrina que ele defendia. Não eram poucos os casos em que disputas com relação aos méritos relativos a ensinos rivais eram resolvidos através das orações por chuva. (Embora não seja mencionado nesta carta em particular, o próprio Nitiren Daishonin esteve envolvido num episódio desse gênero durante a grande seca de 1271, quando o iminente sacerdote da seita Shingon-Ritsu, Ryokan, recebeu a ordem do governo para orar por chuva. Nitiren Daishonin enviou-lhe um desafio, dizendo que se as orações de Ryokan tivessem sucesso, ele, Daishonin, tornar-se-ia discípulo de Ryokan. Porém, se Ryokan falhasse, deveria tornar-se discípulo de Daishonin. Ryokan concordou. Contudo, suas orações não trouxeram chuva, mas violentas ventanias. Ao invés de manter a sua promessa, ele caluniou Nitiren Daishonin perante as autoridades governamentais).
Após citar exemplos na história da China e Japão nos quais os rituais Shingon ocasionaram apenas o desastre, Daishonin critica os erros de Kobo, o fundador da seita Shingon no Japão, e adverte sobre o fato de confiar nas orações dessa seita para a segurança da nação. O Japão, nessa época, estava enfrentando a ameaça do ataque do império mongol. Uma frota de invasão maciça lançada contra as ilhas do sul no Japão, em novembro de 1274, foi repelida por tempestades inesperadas. Porém, na primavera do ano seguinte, Klubai Klan mandou, novamente, emissários exigindo rendição.
A ansiedade tomou o país quando o governo Kamakura organizou apressadamente defesas costais e o povo preparou-se para um segundo ataque.
Mencionando vários sutras, Daishonin declara que a nação encontra-se nessa situação fundamentalmente porque as pessoas crêem em formas enganosas de Budismo, enquanto que o Sutra de Lótus, o ensino da iluminação universal é ignorado ou caluniado. Mostrando que as suas próprias circunstâncias combinam perfeitamente com as predições dos sutras, ele aponta que ele é o devoto do Sutra de Lótus, ou o Buda Original, nos Últimos Dias da Lei.
Concluindo, Nitiren Daishonin elogia Nishiyama pela sua sinceridade, assegurando-lhe que devido a sua devota fé, ele infalivelmente atingirá o estado de Buda nesta existência.

As mais Belas Histórias Budistas - As Escrituras de Nitiren DaishoninEndereço: http://www.vertex.com.br/users/san/goshos e-mail: sandro@vertex.com.br

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