"Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a se mover

em direção ao seu desejo".

3 de jan. de 2009

GOSHO - Resposta a Yasaburo

(Yasaburo Dono Gohenji, págs. 1449-1451)

Em sua carta diz: "Embora eu seja um leigo ignorante, entre os ensinos que escutei do senhor, fiquei especialmente impressionado pela passagem no segundo volume do Sutra de Lótus que declara: 'Agora este mundo tríplice (é todo meu domínio…)'. Essa passagem mostra que esse presente país, Japão, é o domínio do Buda Sakyamuni. Não apenas a Deusa do Sol, o grande Bodhisattva Hatiman, o imperador Jimmu e todos os outros deuses, bem como do soberano da nação às pessoas do povo, todos moram dentro de reino dele, mas também, além disso, ele é um Buda a quem devemos muito por três razões. Primeira, ele é nosso soberano; segunda, ele é nosso mestre; e terceira, ele é nosso pai. Entre todos os Budas das dez direções, somente o Buda Sakyamuni é devoto dessas três virtudes. Portanto, ainda que todas as pessoas do país Japão servissem ao Buda Sakyamuni sinceramente da mesma forma que o fazem agora ao Buda Amida, como estariam colocando-o lado a lado com um outro Buda e tratando-o de maneira igual, isto ainda seria um grave erro. Por exemplo, mesmo que uma pessoa fosse o próprio governante além de sábio, se alguém transferisse sua lealdade ao rei de um outro país, e apesar de morar no Japão prestasse honras ao rei da China ou de Koguryo e menosprezasse o soberano do Japão, tal pessoa poderia ser descrita como alguém que honra o grande soberano desse país ?
Isto é muito mais verdadeiro no caso dos sacerdotes do Japão, que sem exceção tosaram os cabelos e vestiram seus mantos como discípulos do Tathagata Sakyamuni. Eles não são os discípulos do Buda Amida. Contudo, sacerdotes que não possuem nenhum recinto em seus templos onde Sakyamuni esteja consagrado ou onde a meditação do Sutra de Lótus seja praticada, ou que não tenham nenhuma imagem pintada ou de madeira (de Sakyamuni) nem mesmo uma cópia do Sutra de Lótus, estão colocando de lado o Buda Sakyamuni, que é dotado de todas as três virtudes. Por todo o país, em cada distrito, vila e casa, eles erigem um número maior de imagens do Buda Amida - que não possui nem uma única dessas virtudes - do que o de pessoas existentes, e recitam exclusivamente o nome do Buda Amida sessenta ou oitenta mil vezes por dia. Embora tais atos pareçam ser muito admiráveis, quando examinamos a questão à luz do Sutra de Lótus, constatamos que essas pessoas pias são culpadas de ofensas mais graves do que as dos homens perversos que cometem os dez atos maléficos diariamente. Os ímpios não acreditam em Buda nenhum, e não podem, portanto, ser acusados de terem mudado suas lealdades. Além disso, se eles se tornassem pessoas pias, poderiam até se devotar ao Sutra de Lótus. Entretanto, parece impossível que as pessoas do Japão hoje possam inclinar seus corações com maior sinceridade e afeto ao Buda Sakyamuni do que ao Buda Amida, ou ao Sutra de Lótus do que ao Nembutsu. Deste modo, são malfeitoras, são piores e mais terríveis caluniadoras e icchantika em todo o mundo. Com relação a essas pessoas, o Buda Sakyamuni declarou no segundo volume do Sutra de Lótus: "Após morrerem, cairão no inferno de incessantes sofrimentos".
Os sacerdotes do Japão são todos homens de grande mal, superando até mesmo Devadatta ou o Venerável Kokalika. E, pelo fato de as pessoas leigas reverenciarem-nos e fazerem oferecimentos a eles, esse país está sendo transformado, diante de nossos olhos, no inferno de incessante sofrimento. Incontáveis pessoas então, em seus presentes corpos, sofrendo fome e peste, agonias horríveis como jamais vistas em épocas anteriores e, além disso, serão atacadas por uma potência estrangeira. Isto se deve unicamente às ações de Bonten, Taishaku, dos deuses do Sol e da Lua, e outras divindades.
Em todo o Japão, eu, Nitiren, sozinho compreendi porque tais coisas estão acontecendo. Inicialmente ponderei se deveria ou não me manifestar. Porém, o que iria fazer? Poderia virar as costas aos ensinos do Buda que é o pai e mãe de todos os seres vivos ? Decidindo suportar o que quer que pudesse suceder a mim, comecei a falar, e nesses mais de vinte anos fui tirado da minha residência, meus discípulos foram mortos, fui ferido, exilado duas vezes e, finalmente quase fui decapitado. Eu me pronunciei unicamente porque há muito sabia que as pessoas do Japão enfrentariam grande sofrimento e senti pena delas. As pessoas ponderadas deveriam, portanto, perceber que encontrei essas provações em benefício delas. Se fossem pessoas que compreendem suas obrigações ou que são capazes de raciocinar, então, de cada dois golpes que incidem sobre mim, elas receberiam um em meu lugar. Porém, longe disso, na realidade eles criaram ódio com relação a mim - algo que não consigo entender. E os leigos, não tendo encontrado a verdade do assunto, tiram-me de minha casa ou odeiam meus discípulos. É além da compreensão. Por exemplo, se alguém mesmo que inconscientemente, confundisse seu pai com um inimigo e o insultasse ou golpeasse e o matasse, como poderia escapar da culpa da ofensa ? Essas pessoas não reconhecem a sua beligerância e ainda acham que eu, Nitiren, sou beligerante. São como um mulher ciumenta que fita com olhos furiosos uma cortesã e, inconsciente de sua própria expressão desagradável, queixa-se de que o olhar da cortesã é assustador. Esses fatos ocorreram somente porque o soberano não me (inquiriu sobre a verdade das doutrinas budistas). A razão de ele não ter investigado é que as pessoas deste país são culpadas de tantas ofensas que o mau carma delas destinou-as a, sem falha, serem atacadas por um país estrangeiro nesta presente existência e a caírem no inferno de incessante sofrimento na próxima - (deve explicar o assunto desta maneira).
Então, declare a seu oponente: 'Acredito nisso tudo porque está claramente evidente nos sutras. Embora possa atacar e ameaçar pessoas desvaliosas como nós ou tirar-nos de nossas casas, no final jamais terá sucesso nisso. Nem mesmo a Deusa do Sol ou o Bodhisattva Hatiman poderia obter à força a obediência desse sacerdote (Nitiren), quanto mais os mortais comuns ! Assim, ouvimos que ele nunca cedeu diante de sucessivas perseguições e tornou-se ainda mais firmemente determinado'.
Caso aquele sacerdote diga algo em resposta, pergunte se o que o senhor acabou de dizer deve ser considerado como uma visão distorcida. Pergunte-lhe se o Sutra de Lótus de fato não contém uma passagem com o sentido de que o Buda Sakyamuni é nosso pai, nosso mestre e nosso soberano. Se ele disser que sim, indague se há também uma outra passagem que afirma que o Buda Amida é o pai, soberano e mestre dele: Sim ou não ? Caso responda que existe uma passagem do sutra assim, pergunte se ele tem, então, dois pais. Se disser que não há tal passagem, pergunte por que ele abandonou seu pai e está dedicando inteiramente o seu apreço a outra pessoa. Além disso, deve asseverar que o Sutra de Lótus não se assemelha aos outros sutras, citando a passagem: "Nesses mais de quarenta anos, (ainda não revelei a verdade)". Se ele mencionar a passagem "Ela irá diretamente à terra tranqüila e feliz", então pergunte se isso significa que ele se rende à alegação com a qual o senhor acabou de encurralá-lo. Nesse caso, deve explanar mais detalhadamente o significado desta passagem.O senhor deve estar firmemente determinado. Não poupe seu feudo, não pense em sua mulher e filhos. Não coloque o Dharma em perigo por depender de outros. Deve simplesmente decidir-se. Olhe para o mundo este ano como um espelho. Quando tantos morreram, o fato de ter sobrevivido até agora foi para que pudesse encontrar esta oportunidade. É aqui que irá cruzar o rio Uji. É aqui que atravessará o Seta. Esse acontecimento determinará se conquistará a honra ou desgraçará o seu nome. Afirma-se que a forma humana é difícil de se obter e o Sutra de Lótus é difícil de acreditar. Tenha a decisão de que Sakyamuni, Taho e os outros Budas das dez direções se reunirão todos e entrarão em seu corpo para assistir-lhe. Se for chamado para visitar o administrador, deve primeiro explicar tudo isto completamente.
Com meu profundo respeito,Nitiren.Em 4 de agosto de 1277.(END Vol. VI, pág. 299)

Fundo de Cena

Nitiren Daishonin escreveu esta carta no Monte Minobu, no dia 4 de agosto de 1277. Yasaburo, o praticante a quem foi endereçada, não deve ser confundido com Funabori Yasaburo, que abrigou Nitiren Daishonin durante o seu exílio em Izu. Segundo algumas fontes, este tratava-se de um certo Saito Yasaburo que morava na província de Suruga. As expressões utilizadas no último parágrafo sugerem que ele pode ter sido um samurai.
De qualquer modo, o recebedor deste Gosho estava, visivelmente, preparando-se para um debate próximo com um sacerdote da seita da Terra Pura e havia procurado o conselho de Nitiren. Ela pode, a grosso modo, ser dividida em duas partes. A primeira e mais longa delineia a argumentação geral que Yasaburo deve apresentar no debate com um seguidor da seita da Terra Pura. A segunda, se inicia com 'Caso aquele sacerdote diga algo em resposta…', instrui-o sobre como deve impor certos pontos específicos ao seu oponente e recomenda-lhe que reúna um espírito resoluto.
A primeira parte deste Gosho explana que somente Sakyamuni possui as três virtudes de soberano, mestre e pai com relação às pessoas desse mundo saha. Aqui, a virtude de soberano indica o poder do Buda de proteger todos os seres; a virtude de mestre significa a sua sabedoria para instruí-los e levá-los à iluminação; e a virtude de pai representa a sua compaixão de cuidar deles. Na época de Nitiren Daishonin, por causa da crescente influência da seita da Terra Pura, as pessoas tendiam cada vez mais a depositar sua confiança no Buda Amida do paraíso do oeste, esperando obter renascimento em sua terra pura após a morte. Sob tais circunstâncias, Nitiren Daishonin freqüentemente enfatiza a referência a Sakyamuni, fundador histórico do budismo de que fato surgiu neste mundo. Aqui, ele afirma que adorar Amida, o Buda de um outro mundo, e desprezar Sakyamuni é um ato de total deslealdade. Deste modo, embora os que acreditam em Amida possam aparentemente estarem devotando-se a atos pios, na realidade são culpados de uma ofensa muito pior do que a dos homens ímpios sem nenhuma consciência religiosa. O erro grave deles, diz Nitiren, está causando desastres ao país na forma de fome, epidemias e a iminente invasão mongol. Ele explica que, por saber que as pessoas estavam, desta forma, destinadas a experimentar grandes sofrimentos, decidiu pronunciar-se contra a fé mal orientada delas e sofreu repetidas injúrias como resultado.No parágrafo conclusivo, Nitiren Daishonin adverte Yasaburo a não ser influenciado por considerações periféricas nem pela sua própria mente, e a considerar esse encontro crítico com total responsabilidade coo a acontecimento decisivo de sua vida. Com tal determinação, ele conseguirá manifestar a proteção de todos os Budas e demonstrar a superioridade do Sutra de Lótus, conquistando honra eterna com base na Verdadeira Lei.

As mais Belas Histórias BudistasEndereço: http://www.vertex.com.br/users/san e-mail: sandro@vertex.com.br

Nenhum comentário: