"Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a se mover

em direção ao seu desejo".

24 de jan. de 2009

Jeanny Chen - Perguntar-nos o quê podemos fazer: a solução budista para os relacionamentos conflitantes

Os ensaios de Jeanny Chen Saratoga, California.
Disponível em http://www.happyjeanny.com/

Para mim, freqüentar gente jovem é revigorante e divertido. Realmente desfruto o privilégio de tê-los no meu ambiente e intercambiar pensamentos práticos com eles. Além de discutir temas e de compartilhar experiências da vida e da nossa prática budista, também nos inspiramos e incentivamos mutuamente. Num dos nossos encontros, o tema foi: "O quê podemos fazer quando enfrentamos um problema?". As jovens senhoras (Young Misses) confeccionaram a seguinte lista: Recitar Daimoku. Pensar antes de falar ou reagir. Dar um tempo. Examinar todas as opções. Contemplar o possível resultado de cada opção. Falar com alguém em quem confiemos. Ler o Gosho. Buscar a orientação ou a ajuda profissional mais apropriada. Recorrer ao Gohonzon, aos amigos e aos livros. Chorar, deixar aflorar nossas emoções. Descansar, tirar um cochilo, caminhar, tomar um banho, levar o cachorro para passear. Analisar situações similares que tenhamos experimentado no passado e aprender com elas. Pensar o quê faria o presidente Ikeda nessa situação. Ir pra frente do Gohonzon. Recitar Daimoku para fazer surgir a sabedoria. Refletir qual foi nossa expectativa e atitude mental original quando traçamos o objetivo que nos acarreta este problema. Analisá-lo por um ângulo diferente do que tivemos até agora. Decidir e determinar como conduzir o problema e realizar as ações apropriadas. O objetivo de fazer esta lista era encontrar a solução efetiva para resolver o problema, sem incorrer em mais negatividade ou calúnias. Ninguém queria culpar os outros. Todas estavam preparadas para assumir a completa responsabilidade. Com tal atitude, o problema já estava resolvido pela metade. (Pelo jeito, graças à constante inspiração e às repetidas orientações dos nossos veteranos da Soka Gakkai, as puras e sinceras mentes das jovens senhoras tinham aprendido a focalizar-se numa direção positiva e a refletir a respeito de si mesmas). Uma vez li uma dissertação dada por um antecessor na fé, Greg Martin (“Sobre a Oração", Centro Cultural de Seattle, 9 de junho de 1.995). Meu “coração prático" apaixonou-se por completo por esses parágrafos. A partir desse momento, me converti numa leal e freqüente divulgadora dos mesmos, utilizando-os para ajudar os outros. No Gosho "Sobre atingir o Estado de Buda", lê-se: “Contudo, mesmo que recite e conserve o Nam-myoho-rengue-kyo, se pensa que o Estado de Buda existe fora do seu coração, isto já não é mais Lei Mística; é um ensino provisório”. (END, vol. 1, págs. 107-108) Assim, ilustrando este ensinamento de Daishonin, Greg Martin diz: "Se pensa que a causa do seu problema está fora de você mesmo, ou se pensa que a solução dos seus problemas está fora de você mesmo, você não está abraçando a Lei Mística. O rigoroso ponto de Daishonin aqui, é que se vai recitar Daimoku, não perca seu tempo tentando consertar as coisas fora de você mesmo. O Gohonzon quase não tem poder no âmbito externo, mas sim possui um universo de ilimitado poder para mudá-lo e transformar sua vida. Abra sua vida e veja sua verdadeira natureza. Defronte-se com ela. Sem dúvida estará caracterizada por algum dos três venenos: avareza, ira ou estupidez. Para averiguar qual é, pergunte-se ‘estou sendo avaro, estou irado ou sou estúpido?’ É um desses três!". Estou tão fascinada com os ensinamentos de Daishonin! Eles mostram o caminho para todos os seres humanos. Nos guiam para achar a solução dos problemas em nós mesmos, através da recitação de Nam-myoho-rengue-kyo, utilizando nosso poder inato. Que maneira tão precisa e clara de solucionar os problemas! E que jeito tão infalível de conquistar resultados positivos! Esta assombrosamente poderosa filosofia budista é tão clara e prática, que merece toda nossa atenção e esforço para extrair todo seu profundo significado e seu imenso valor. Sei que muita gente guarda ressentimentos e ódio para com seus pais, fundamentalmente devido a acontecimentos ocorridos na sua infância. Neste ensaio, gostaria de ilustrar sobre como ter um controle positivo e resolver os sentimentos negativos mediante a perspectiva budista, ou seja baseando-se nos ensinamentos de Nitiren Daishonin. Por favor não esqueçam nunca de perguntar-se: "O que posso fazer a respeito?". Devido a que somos nós a causa dos nossos próprios problemas, as soluções também residem dentro de nossas vidas. Por isso, temos o poder de mudar a situação e sem ajuda externa. A seguinte história nos mostra o enfoque colocado em prática por uma filha na sua busca para melhorar a situação de conflito com sua mãe: "Antes de mais nada, ativo minha sabedoria mediante meu Daimoku sincero. Severamente reflito a respeito dos três venenos: “Qual é o problema que faz com que me desagrade a mulher que me trouxe ao mundo e me educou? Estou sendo avarenta, estou irada ou sou estúpida?". "Minha mãe, sem ajuda de ninguém, criou a mim e a meus seis irmãos, para isso mantendo dois empregos durante a maior parte da sua vida. Apesar dos seus esforços, eu nunca estava satisfeita com o ambiente humilde que ela, com tanto esforço, nos proveio". "Olho para a mim mesma. Sou capaz de criar uma ou duas crianças sem muito esforço?”. Já experimentei a dificuldade de morar sozinha, sem sequer ter que manter a mais ninguém. Por quê não posso apreciar a boa sorte de ter recebido a proteção de uma mãe forte? Não peço demasiado dela? Estou impregnada com o veneno da avareza?" "(Sempre tratou-me como um lixo. Foi irascível e dominante, nunca demostrou-me seu amor. Não foi a mãe ideal que ansiava ter. A odiava.)". "Bom, do ponto de vista budista, tudo o que enfrento nesta vida é a manifestação do meu carma, positivo ou negativo, que eu criei no passado. Não devo atribuir-lhe minha frustração por não ser capaz de ter o controle total da minha própria vida. Porém, tenho enganado a mim mesma: a causa e a responsabilidade residem totalmente em mim. Ela não é culpada. Além disso, na realidade, simplesmente tinha demasiada carga sobre seus ombros. Por quê estou chateada com ela? Isto não é um toque do veneno da ira?" "Tenho estado tão confusa pelo veneno da estupidez! Nunca reparei que a causa do meu sofrimento era meu próprio carma. Tampouco tenho procurado a verdade fundamental das caóticas desventuras que sofri durante minha infância." "Não era culpa da minha mãe. Meu pai tinha fugido de casa tentando escapar das suas responsabilidades. Mamãe foi a única a enfrentar a crua realidade com coragem. Apesar da sua incapacidade para manter um lar harmonioso, fez o melhor que pôde". "Tenho uma infeliz e obscura lembrança gravada na minha vida. Agora que penso nisso, do ângulo de uma budista e de um adulto, possivelmente tenha exagerado. Andei unicamente perseguindo meus desejos egoístas, sem mostrar nenhuma consideração ou benevolência. Provavelmente tenha que analisar minha maneira de pensar e de ver as coisas". "Falando com toda sinceridade, facilmente posso encontrar pessoas que tiveram que atravessar por muitas mais adversidades do que eu. Comparada com eles deveria estar agradecida de que minha situação não fosse tão ruim". "Por exemplo, a mãe da minha amiga Amy era alcoólatra. Batia nos seus filhos quando estava bêbada. Tinha problemas com homens. Muitos deles, um após outro, tinham abusado sexualmente de Amy durante sua infância. Quando Amy tinha 12 anos, teve que abandonar a escola para trabalhar e manter a família. Três anos depois, Amy sentia que a única maneira de sobreviver era fugir da sua casa. E assim o fez...". "Todos os sofrimentos indescritíveis pelos que Amy passou levaram-me a lembrar do lado bom da minha mãe. Fui demasiado tonta como para dar valor à sua integridade, diligência e coragem para manter a família unida a qualquer custo, apesar de não ter conseguido que fosse um refúgio muito sólido. O que há na minha vida para sentir-me infeliz a respeito da minha mãe? Tenho sido enganada pelo meu pequeno "eu", e por isso sofro?". "Uma pessoa costumava reclamar porque não tinha sapatos, até que um dia viu alguém sem pernas. Infinidade de pessoas debatem-se e sofrem sem ter sequer o conhecimento nem a coragem necessários para combater seus sofrimentos. Não gostaria trocar minha vida com nenhum deles". "Como minhas reações e comportamentos para com o carma da minha infância determinavam meu futuro e meu destino, optei por superá-los, em vez de viver sempre escravizada e torturada por eles". "O Budismo ensina que ‘o bem contém o mal em si mesmo, e o mal contém o bem em si mesmo. Devido a isso, até o que é percebido como mal pode ser transformado em bem através da nossa reação e resposta’”. (Daisaku Ikeda, Em prol da Paz, pág. 115) Com esta compreensão fundamental, posso trocar o veneno em remédio e extrair valor de qualquer circunstância. Se as pessoas que me rodeiam são bons amigos ou más relações, somente depende de como as enxergo ou como as conduzo. Nem sequer tenho que mudá-los. Tudo o que tenho a fazer é olhá-las de um ângulo diferente". "Agora, depois de toda esta procura interior, estou próxima a dissolver os sentimentos negativos para minha mãe e permitir que surja a necessidade de comunicar-me com ela. Estou ansiosa de fazê-lhe saber que desejo reconstruir uma relação normal e natural de mãe e filha. Se não o fizer, sinto que posso ter que carregar o estado de vida de inferno pelo resto da minha vida por ter sido mesquinha com minha própria vida com ela. Estaria arrasada, arrependida, e sem um dia de descanso na minha mente, depois que esteja morta". "Sim! Recuperar o perdido e começar de novo uma relação próxima é o caminho a seguir. Para alcançar este objetivo, sei seriamente que tenho que empreender medidas positivas e não deixar nenhum dos meus pontos negativos sem mudar. Será duro, mas vou tentá-lo". "Nos últimos trinta anos, desde que deixei meu lar materno, só tenho falado com ela pelo telefone umas poucas vezes. Sempre resultou-me embaraçoso telefonar-lhe sem nenhum motivo em particular, só para quebrar o gelo. E se me rejeitar?". "Não, não me sinto tão cômoda demostrando-lhe meus verdadeiros sentimentos tão abrupta e diretamente. Não estou acostumada. Necessito de um intermediário". "Um membro compartilhou comigo a cópia de um ensaio que ilustra como mudar, mediante a sincera recitação de Daimoku, uma relação difícil. Deveria fazer uma cópia e ver o que posso aprender dele. Chama-se ‘Ativando, usando e exercitando nossa natureza de Buda’. (próximo ensaio de Jeanny). Bravo! A resposta a sua oração foi uma mudança pessoal no seu comportamento, um câmbio que lhe fez buscar sinceramente uma solução e manifestar uma oração benevolente pela sua chefe perante o Gohonzon". "Agora sinto-me profundamente inspirada. Minha mãe tem pouco mais de 70 anos. Afortunadamente, não é demasiado tarde. Ainda é saudável. O tempo é propício para que ela desfrute do amor familiar, do cuidado que merece e nunca teve". "Vou comunicar-me com ela através da minha oração e lhe enviarei meu Daimoku para fazê-lhe saber que a amo, agradeço-lhe e a admiro. Quero que perdoe minhas besteiras do passado e que saiba que a farei a mãe mais feliz e mais afortunada do mundo. Mudarei para melhor e me desenvolverei para realizar coisas que a façam sentir-se orgulhosa. Mas principalmente, quero retribuir minha dívida de gratidão enviando-lhe Nam-myoho-rengue-kyo, para ajudá-la a iluminar sua vida, imperfeita mas forte como um diamante". "Depois, compartilharei isto com meus seis irmãos, lhes farei ver tudo o que devemos à minha mãe, que pelo menos deveríamos devolver-lhe algo em troca enquanto ainda estiver viva para não sentir arrependimentos quando for tarde demais. O endereço eletrônico de Jeanny é: happyjeanny@hotmail.com Tradução: Ariel Ricci aricci@estadao.com.br Revisão: Marly Contesini contesini@estadao.com.br

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