"Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a se mover

em direção ao seu desejo".

3 de jan. de 2009

GOSHO - Os Quatro Estágios da Fé e os Cinco Estágios da Prática

(Shishin Gohon Sho, pág. 338-343)

Recebi o cordão de moedas que enviou. Os eruditos do budismo desta época concordam todos que, tanto no tempo do Buda como após a sua morte, aqueles que desejam praticar o Sutra de Lótus devem devotar-se aos tipos de aprendizado. Se negligenciarem qualquer um deles, não poderão alcançar o Caminho do Buda.
No passado, eu também concordei com essa opinião (mas agora este não é mais o caso). Deixando de lado todas as escrituras sagradas da existência do Buda, examinemos o assunto à luz do Sutra de Lótus. Coloquemos de lado também os ensinos contidos nas seções preparação e revelação. Isto nos leva à seção transmissão, que constitui um espelho claro para os Últimos Dias da Lei e merece total confiança (na resolução desta questão).
A seção transmissão possui duas partes. A primeira é a do ensino teórico e consiste em cinco capítulos, começando com o Capítulo Hosshi (O Mestre da Lei). A segunda é a do ensino essencial e compõe-se da parte final do Capítulo Funbetsu Kudoku (Distinção de Benefícios) mais os demais onze capítulos que constituem o restante do sutra. Os cinco capítulos do ensino teórico e os onze capítulos e meio do ensino essencial combinam-se totalizando dezesseis capítulos e meio, e neles está claramente explicado como se deve praticar o Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei. Se alguém ainda tiver dúvidas, pode, ainda, examinar o assunto à luz dos sutras Fuguen e Nirvana e, então, com certeza, não restará nenhuma obscuridade. Nesses capítulos de transmissão, os quatro estágios de fé e cinco estágios da prática expostos no capítulo Funbetsu Kudoku representam os elementos essenciais mais importantes na prática do Sutra de Lótus, um espelho para as pessoas contemporâneas do Buda e de épocas após a morte dele.
Ching-his escreve: "Produzir mesmo que um simples momento de fé e compreensão, representa o início na prática do ensino essencial". Desses vários estágios, os quatro estágios de fé foram designados aqueles que viveram na época do Buda, e os cinco estágios da prática, aqueles após a sua morte. Dentre estes, o primeiro dos quatro estágios da fé é o de produzir mesmo que um simples momento de fé e compreensão, e o primeiro dos cinco estágios da prática é o de alegrar-se em ouvir pela primeira vez o Sutra de Lótus. Esses dois estágios formam juntos m escrínio contendo os tesouros dos "cem mil mundos e mil fatores" e os "mil reinos num simples momento da vida", eles são o portão de onde surgem todos os Budas das dez direções e das existências.
Os dois sábios e dignos mestres Tientai e Miao-lo estabeleceram esses dois estágios iniciais da fé e prática, e apresentaram interpretações referentes a eles. Um equipara-os ao estágio de soji-soku, aos dez estágios de fé e ao estado do rei girador da roda de ferro. A segunda compara-os ao primeiro dos cinco estágios da prática, que se identificam com o estágio de kangyo-soku, no qual a pessoa ainda não cortou as ilusões do pensamento e desejo. A terceira iguala-os ao estágio de myoji-soku.
Reconciliando essas diferenças de interpretação, o Shikan afirma: "As intenções do Buda são difíceis de precisar. Ele explanou as coisas diversificadamente conforme a diferença na capacidade das pessoas as quais se dirigia." Se pelo menos entendessemos isso, que necessidade haveria de debates enfadonhos?
A minha opinião é que, dessas interpretações, aquela que equipara esses dois estágios ao estágio de myoji-soku concorda melhor com o texto do Sutra de Lótus em si, pois, ao descrever o primeiro dos cinco estágios da prática que se aplicam ao tempo após a morte do Buda, o sutra faz referência à pessoa que ouve este sutra e, "sem caluniar ou falar mal dele, desperta sentimentos de aceitação e alegria". Se se comparar o estágio descrito aqui com um nível tão avançado como o de soji-soku, ou o do primeiro dos cinco estágios da prática que são identificados com o estágio de kangyo-soku, então as palavras "sem caluniar ou falar mal dele" seriam muito pouco apropriadas.
Em particular, as passagens do capítulo Juryo que citam aqueles que "perderam a lucidez" e aqueles que "não perderam a lucidez" referem-se, em ambos os casos, ao estágio de myoji-soku. Dever-se-ia também levar em consideração os trechos do Sutra Nirvana que dizem: "Não obstante acredite ou não, nascerá diretamente na terra do Buda", e "Se houver pessoas que, lá no local dos Budas tão numerosos como os grãos de areia do Rio Hiranyavati, conceberem a aspiração à iluminação, então, mesmo nesta era maléfica, conseguirão abraçar e defender um sutra como este e não o caluniarão".Além disso, na frase "um simples momento de fé e compreensão", a palavra "fé" concerne ao primeiro dos quatro estágios, e a palavra "compreensão", aos seguintes. Sendo assim, então "fé sem compreensão" aplica-se ao primeiro dos quatro estágios da fé. O segundo estágio da fé é descrito no sutra como aquele no qual a pessoa "compreende de modo geral o sentido das palavras" do sutra. E, no volume nove do Hokke Mongu Ki, lemos: "O estágio inicial é diferente dos outros, pois neste ainda não há nenhuma compreensão".
Chegamos então ao capítulo seguinte, Zuiki Kudoku, (Os Benefícios da Alegre Aceitação), no qual o primeiro dos cinco estágios da prática, ou seja, "alegrar-se ao ouvir pela primeira vez o Sutra de Lótus", é reafirmado e esclarecido com relação às cinquenta pessoas que, por sua vez, ouvem e se alegram com o Sutra de Lótus, e o mérito que elas obtêm assim decresce a cada pessoa. Com respeito ao estágio alcançado pela quinquagésima pessoa, existem duas interpretações. A primeira sustenta que a quinquagésima pessoa está no estágio de "alegrar-se ao ouvir pela primeira vez o Sutra de Lótus"(e, está, portanto, no nível de Kangyo-soku). A outra que não se pode afirmar que a quinquagésima pessoa tenha ingressado no estágio de "alegrar-se, ao ouvir pela primeira vez o Sutra de Lótus" e que ela se encontra ainda no nível de myoji-soku. Essa última interpretação reflete a idéia de que "quanto mais verdadeiro o ensino, mais baixo o estágio (das pessoas que pode levar à iluminação). Consequentemente, por exemplo, o ensino perfeito pode salvar as pessoas de capacidade mais baixa do que conseguem as doutrinas dos quatro sabores e ensinos. De maneira semelhante, o Sutra de Lótus pode salvar pessoas de capacidade mais baixa do que consegue o ensino perfeito exposto antes dele, e o ensino essencial do Sutra de Lótus pode salvar mais pessoas do que o ensino teórico - pessoas de qualquer capacidade. Dever-se-ia ponderar cuidadosamente sobre a frase de seis caracteres: "Quanto mais verdadeiro o ensino, mais baixo o estágio (das pessoas que pode levar à iluminação)."
Pergunta: Nos Últimos Dias da Lei, é necessário que os iniciantes na prática do Sutra de Lótus devotem-se a todos os três tipos de conhecimento associados ao ensino perfeito?
Resposta: Essa é uma pergunta muito importante e, assim, recorrerei ao texto do sutra para respondê-la. Ao descrever o primeiro, o segundo e o terceiro dos cinco estágios da prática, o Buda restringe aqueles nesses estágios de praticar preceitos e meditação e coloca toda ênfase no simples fator da sabedoria. E como a nossa sabedoria é inadequada, ele nos ensina a substituí-la pela fé, fazendo dessa simples palavra "fé", o fundamento. A descrença é a causa para se tornar um icchantika e para caluniar a Verdadeira Lei, ao passo que a fé é a causa para a sabedoria e corresponde ao estágio de myoji-soku.Tientai comenta: "Quando uma pessoa alcança o estágio de soji-soku, os benefícios que acumulou não serão esquecidos quando ela renascer numa outra existência. Porém no caso das pessoas no estágio de myoji-soku ou kangyo-soku, aqueles benefícios serão esquecidos quando renascerem em existências sucessivas, embora possa haver algumas entre elas que não se esqueçam. Mesmo no caso das pessoas que esqueceram esses benefícios, se elas encontrarem um bom amigo, as sementes de bondade que plantaram em suas existências prévias serão revivificadas. Porém, se encontrarem um mau amigo, perderão suas mentes verdadeiras".
Provavelmente foi isso o que aconteceu aos dois homens eminentes de média antigüidade, o Grande Mestre Jitaku e o Grande Mestre Tisho da seita Tendai. Eles viraram as costas para os ensinos de Tientai e Dengyo, que haviam sido bons amigos para ele, e transferiram sua devoção a Shan-wu-wei e Pa-kung, que eram maus amigos. E muitos dos eruditos nos Últimos Dias da Lei foram iludidos pela introdução de Eshin e sua obra Ojo Yoshu e, como resultado, perderam a verdadeira mente de fé no Sutra de Lótus, oferecendo sua lealdade aos ensinos provisórios representados por aqueles ligados a Amida. Eles são pessoas que "abandonaram o grande lugar e no lugar dele escolheram o pequeno". Se julgarmos a partir de exemplos do passado, eles provavelmente sofrerão durante incontáveis kalpas nos maus caminhos. É a pessoas como essa que Tientai referiu quando disse: "Se encontrarem um mau amigo, perderão sua mente verdadeira".
Pergunta: Que prova o senhor pode oferecer para sustentar a sua alegação ?
Resposta: O volume seis do Makashikan afirma: "As pessoas que são salvas pelos ensinos pregados antes do Sutra de Lótus são aquelas que alcançaram um alto nível de habilidade. Isto porque os ensinos apresentados nesses sutras são meros expedientes. Aqueles salvos pelo ensino perfeito do Sutra de Lótus pertencem a um nível baixo de habilidade, pois esse ensino representa a verdade.
O Guketsu tece o seguinte comentário a respeito disso: "Essa passagem referente aos ensinos pregados antes do Sutra de Lótus esclarece o valor relativo dos ensinos provisórios e verdadeiro, pois mostra que quanto mais verdadeiro o ensino, mais baixo o estágio (das pessoas que pode salvar). Em contraste, quanto mais provisório o ensino, mais elevado deve ser o estágio (daqueles que o abraçam, para que estes sejam salvos)." E o nono volume do Hokke Mongu Ki diz: "Para determinar o estágio de habilitação, quanto mais profundo o objeto de meditação, mais baixo será o nível do praticante (que pode atingir a iluminação por intermédio dele)".
Não direi nada aqui sobre os seguidores de outras seitas, mas por que os eruditos da seita Tendai colocam de lado essa interpretação de que "quanto mais verdadeiro o ensino, mais baixo o estágio das pessoas que pode salvar", e no lugar dela aceitam os escritos de Eshin, o Supervisor dos Monges ? O ensinos de Shan-wu-wei, Chin-Kang-chih e Pu-kung e os de Jikaku e Tisho, podem esperar mais um pouco. Essa é uma questão de máxima importância, a mais importante no mundo todo. As pessoas de discernimento deveriam prestar atenção ao que eu digo. Depois disso, se desejarem me rejeitar, deixe-as.
Pergunta: Quanto aos praticantes dos Últimos Dias da Lei, os quais acabaram de despertar a aspiração à iluminação, a que tipo de prática ficam restritos?
Resposta: Tais pessoas devem abster-se de praticar caridade, de manter os preceitos e os demais cinco paramitas, e são orientadas a recitar exclusivamente o Nam-myoho-rengue-kyo. Essa prática corresponde à capacidade das pessoas nos estágios de 'produzir mesmo que um simples momento de fé e compreensão' e 'alegrar-se ao ouvir pela primeira vez o Sutra de Lótus' e representa o verdadeiro propósito do Sutra de Lótus.
Pergunta: Jamais havia escutado uma asserção dessa espécie. Ela deixa a minha mente atônita e me faz pensar se meus ouvidos não me enganaram. Por favor, cite claramente algumas passagens de prova textual das escrituras e, por gentileza, explore o assunto.
Resposta: O sutra diz: "Essas pessoas não precisam erguer estupas ou templos em meu benefício, nem construir abrigos de monges nem realizar os quatro tipos de oferecimentos à assembléia de monges". Essa passagem do sutra torna bastante claro que os praticantes que acabaram de despertar para a aspiração à iluminação estão proibidos a praticar a caridade, de manter os preceitos e os demais cinco paramitas.
Pergunta: A passagem que o senhor acabou de citar somente de erigir estupas ou templos ou proporcionar sustento à assembléia de monges. Não diz nada sobre a manutenção dos vários preceitos.Resposta: A passagem menciona apenas o primeiro dos cinco paramitas, o da caridade, mas deixa de mencionar os outros quatro.
Pergunta: Como sabemos ser este o caso?
Resposta: Porque uma passagem subsequente, ao descrever o quarto estágio da prática, diz: "Muito mais ainda, então, se houver alguém que possa abraçar este sutra e, ao mesmo tempo, praticar a caridade, mantendo os preceitos (paciência, assiduidade, meditação e sabedoria)". Este texto do sutra indica claramente que as pessoas do primeiro, segundo e terceiro estágios da prática são proibidas de praticar a caridade, de manter os preceitos e os demais cinco paramitas. Somente quando alcançam o quarto estágio da prática (o de 'praticar os seis paramitas enquanto abraçam o Sutra de Lótus') recebem permissão para observá-los. E, como tais práticas são permitidas nesse estágio, podemos saber que, para as pessoas nos estágios iniciais, são proibidas.
Pergunta: O trecho do sutra que acabou de citar parece sustentar o seu argumento. Mas o senhor pode apresentar alguma passagem de tratados ou comentários?
Resposta: Que comentários gostaria que eu citasse? O senhor está se referindo aos tratados das quatro categorias de santos da Índia? Ou às obras escritas pelos mestres budistas da China e do Japão? Em ambos os casos, isso equivale a rejeitar a raiz e procurar entre os ramos, buscar a sombra sem considerar a forma, ou esquecer a fonte e valorizar somente o rio. O senhor ignoraria uma passagem do sutra perfeitamente clara e buscaria uma resposta nos tratados e comentários. Se houvesse algum comentário posterior que contradissesse a passagem original do sutra, então, deixaria de lado o sutra e seguiria o comentário? Todavia, atenderei o seu desejo e citarei algumas passagens. No nono volume do Hokke Mongu lemos: "Há o perigo de um iniciante ser desencaminhado por questões secundárias, e de que isso interfira na prática primordial. O iniciante deveria dedicar diretamente toda a sua atenção ao ato de abraçar o sutra; que é o tipo mais elevado de oferecimento. Mesmo que a pessoa coloque de lado as práticas formais, se mantiver (meditação sobre) o princípio, então, os benefícios serão muitos e de longo alcance."
Nessa passagem do comentário, as 'questões secundárias' referem-se aos cinco paramitas. Se o iniciante tentar praticar os cinco paramitas ao mesmo tempo (em que abraça o Sutra de Lótus), isso pode concorrer para a obstrução de sua prática principal, que é a fé. Essa pessoa será como um pequeno navio que está carregado de riquezas e tesouros e parte para cruzar o mar. Tanto o navio como o tesouro afundarão. E as palavras 'deveria dedicar diretamente toda a sua atenção ao ato de abraçar o sutra' não dizem respeito ao sutra como um todo. Elas significam que a pessoa deveria abraçar exclusivamente o Daimoku, ou título, do sutra e não misturá-lo com outras passagens. Nem a recitação do sutra inteiro é permitida. Muito menos ainda os cinco paramitas!
"Colocar de lado as práticas práticas formais, mas manter (a meditação sobre) o princípio" significa que a pessoa deve deixar de lado os preceitos e outras práticas específicas (dos cinco paramitas) e abraçar o princípio do Daimoku exclusivamente. Quando o comentário diz que "os benefícios serão muitos e de longo alcance", isso indica que se o iniciante tentar empreender várias outras práticas e o Daimoku simultaneamente, seus benefícios se perderão completamente.
O Hokke Mongu prossegue: "Pergunta: Se o que diz é verdade, abraçar o Sutra de Lótus é o principal entre todos os preceitos. Por que, então, (ao descrever o quarto estágio de prática) o Sutra de Lótus fala sobre 'aquele que consegue manter os preceitos'? Resposta: Isto é feito para esclarecer por contraste o que é necessário nos estágios iniciais. Não se deveria criticar as pessoas nos estágios iniciais por deixarem de cumprir os requisitos atinentes somente aos estágios posteriores."Os eruditos de hoje, ignorando essa passagem do comentário, colocam as pessoas ignorantes dos Últimos Dias na mesma categoria que os dois sábios Nan-yueh e Tientai - um erro gravíssimo!
Miao-lo acrescenta o seguinte: "Pergunta: Nesse caso, então, não há necessidade de construir estupas próprios para abrigar as relíquias do Buda, e não é preciso manter formalmente os preceitos ? E além disso, não é necessário prover esmolas para monges que efetuam as práticas específicas (dos seis paramitas) ?"
O Grande Mestre Dengyo declarou: "Eu imediatamente deixei de lado os duzentos e cinquenta preceitos!". E o Grande Mestre Dengyo não foi o único a fazer isso, Joho e Dotyu, que foram discípulos de Ganjin, bem como os sacerdotes dos sete principais templos de Nara, da mesma maneira abandonaram-nos. Além disso, o Grande Mestre Dengyo deixou este aviso para as gerações futuras: "Se nos Últimos Dias da Lei houver pessoas que mantenham os preceitos, isto será algo raro e estranho, como um tigre na feira livre. Quem iria acreditar nisso?"
Pergunta: Por que não advoga a meditação sobre os três mil mundos num único momento da vida (itinen sanzen) mas, e no lugar disso incentiva simplesmente a recitação do Daimoku?
Resposta: Os dois caracteres que formam a palavra Nihon, ou "Japão", compreendem todas as pessoas e animais e riquezas das sessenta e seis províncias do país, sem uma simples omissão. E os dois caracteres que compõem a palavra Gasshi, ou "Índia" - não encerram igualmente a todas as setenta regiões da Índia ? Miao-lo diz: "Quando, para ser breve, somente o título do sutra é mencionado, o sutra todo está, deste modo, incluído. E ele também afirma: "Quando, em benefício da concisão, falamos dos Dez Mundos ou dez fatores, todos os mil reinos estão contidos aí".
Quando o Bodhisattva Monjushiri e o Venerável Ananda vieram a compilar todas as palavras proferidas pelo Buda nas assembléias durante os oito anos (nos quais o Sutra de Lótus foi pregado), eles registraram o título Myoho-rengue-kyo, e para mostrar a compreensão deles (de que o sutra todo está contido nesses cinco caracteres), prosseguiram com as palavras "Assim eu ouvi".
Pergunta: Se uma pessoa simplesmente recita Nam-myoho-rengue-kyo sem nenhuma compreensão do seu significado, os benefícios da compreensão estão incluídos desse modo ?
Resposta: Quando um bebê toma leite, não tem compreensão nenhuma do seu sabor, e, no entanto, seu corpo é nutrido naturalmente no processo. Quem algum dia ingeriu remédios maravilhosos de Jivaka sabendo do que eram compostos ? A água não possui intenção nenhuma e, no entanto, pode extinguir o fogo. O fogo consome objetos e, contudo, como poderemos afirmar que o faça conscientemente ? Essa é a interpretação tanto de Nagarjuna como de Tientai, e eu a estou reafirmando aqui.
Pergunta: Por que diz que todos os ensinos estão contidos no Daimoku ?
Resposta: Chang-an escreve o seguinte: "Consequentemente, (a explanação de Tientai do título) o prefácio exprime o significado profundo do sutra. O significado profundo indica o âmago do texto, e o âmago do texto abarca a totalidade dos ensinos teóricos e essencial. E Miao-lo escreve: "Com base no âmago do texto do Sutra de Lótus, pode-se avaliar todos os outros vários ensinos do Buda.
Embora a água lamacenta não possua mente, consegue captar o reflexo da lua e, assim, naturalmente torna-se clara. Quando as plantas e árvores recebem chuva, não têm consciência do que estão fazendo, e, no entanto, elas não continuam flores? Os cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo não representam o texto do sutra nem são o seu significado. Eles não são nada senão o intento do sutra inteiro. Desta forma, mesmo que o iniciante na prática religiosa possa não entender o significado deles ao praticar, praticando esses cinco caracteres, corresponderá naturalmente ao propósito do sutra.
Pergunta: Quando seus discípulos, sem nenhuma compreensão, simplesmente recitam as palavras Nam-myoho-rengue-kyo, que nível de habilidade alcançam?
Resposta: Eles não apenas ultrapassam o nível elevado dos quatro sabores ou três ensinos, como o atingido pelos praticantes do ensino perfeito exposto nos sutras que precedem o Sutra de Lótus, mas também superam em milhões e milhões de vezes os fundadores da Shingon e das várias outras escolas do budismo - homens como Shan-wu-wei, Chih-yen, Tzu-en, Chi-tsang, Tao-hsuan, Bodhidharma e Shan-tao.
Portanto, rogo às pessoas deste país: Não menosprezem os meus discípulos! Caso se investigue o passado deles, saber-se-á que budas são grandes bodhisattvas que ofereceram donativos a budas durante um período de oitenta miríades de milhões de kalpas, e que efetuaram práticas religiosas seguindo Budas tão numerosos como os grãos de areai dos rios Hiranyavati e Ganges. E, quanto ao futuro deles, eles são dotados com o benefício da quinquagésima pessoa, excedendo o daquele que oferece donativos a todos os seres vivos por um período de oitenta anos. Eles são como um imperador menino envolto em fraldas, ou um grande dragão que acabou de nascer. Não os desprezem ! Não olhem para eles com desdém !
Miao-lo escreve: "Aqueles que molestam ou preocupam (os praticantes do Sutra de Lótus) terão suas cabeças partidas em sete pedaços, mas aqueles que oferecem donativos a eles desfrutarão boa sorte superior aos dez títulos honoríficos. O rei Udayaana comportou-se insolentemente com relação ao Venerável Pindolabharadvaja, e no espaço de sete anos perdeu a sua vida. O lorde de Sagami condenou Nitiren ao exílio, e dentro de cem dias irrompeu uma rebelião armada em seu domínio.O Sutra de Lótus diz: "Se alguém vir uma pessoa que abraça este sutra e tentar expor suas faltas ou males, não obstante o que fale seja verdade ou não, será atormentado pela hanseníase nesta existência…sofrerá várias doenças graves de natureza maligna". Também afirma: "Era após era será cego".
Myoshin e Enti contraíram hanseníase em sua existência presente, ao passo que Doamidabutsu perdeu a visão. As epidemias que afligem nossa nação são punições da espécie descrita como "a cabeça sendo partida em sete pedaços". E, se presumirmos o grau de benefício de acordo com o da punição, então não poderá haver dúvidas de que meus seguidores desfrutarão uma "boa sorte superior aos dez títulos honoríficos".
Os ensinos budistas foram introduzidos pela primeira vez no Japão no reinado do trigésimo soberano, Imperador Kimmei. Durante os vinte reinados e duzentos anos ou mais a partir daquela época até o reinado do Imperado Kammu, embora as assim chamadas seis seitas do budismo existissem no Japão, a superioridade relativa dos ensinos budistas ainda não havia sido determinada. Então, durante a era Enryaku (782-805), um sábio apareceu no país, o homem conhecido como Grande Mestre Dengyo. Ele examinou os ensinos das seis seitas, os quais já haviam sido propagados, e tornou todos os sacerdotes dos sete principais templo de Nara seus discípulos. Oportunamente, estabeleceu um templo no Monte Hiei para servir de templo principal, e convenceu os outros templos no país a servirem como ramificações deste. Desta maneira, os ensinos budistas no Japão vieram a ser unificados numa escola apenas. A norma secular igualmente não era dividida, mas claramente definida, de modo que a nação tornou-se purificada do mal. Se fôssemos citar as realizações de Dengyo, teríamos de dizer que todas elas brotaram da passagem (que declara que o Sutra de Lótus é o principal entre os sutras pregados) "no passado, presente ou futuro".
No período seguinte, os três Grandes Mestres Kobo, Jikaku e Tisho, reivindicando estarem seguindo a autoridade chinesa, defenderam a idéia de que o Sutra Dainiti e os outros dos três mais importantes sutras Shingon são superiores ao Sutra de Lótus. Além disso, eles anexaram a palavra 'seita' aos ensinos Shingon, um termo que o Grande Mestre Dengyo havia omitido propositadamente, e reconheceram assim a Shingon como a oitava seita do budismo no Japão. Esses três homens persuadiram o imperador a emitir um édito (sustentando os ensinos Shingon) e propagou-os por todo o Japão, de modo que todos os templos passaram a contrariar, consequentemente, o princípio do Sutra de Lótus. Ao fazê-lo, violaram completamente a passagem (que declara que o Sutra de Lótus é o principal entre os sutras pregados) "no passado, presente ou futuro", e tornaram-se os grande inimigos de Sakyamuni, Taho e outros budas das dez direções.
Depois disso, o budismo gradativamente decaiu e a norma secular também tornou-se cada vez mais ineficaz. Tensho Daijin, o Bodhisattva Hatiman e as outras divindades protetoras que durante tanto tempo habitaram o Japão perderam seu poder, e Bonten, Taishaku e os Quatro Reis Celestiais desertaram de nosso país. Agora a nação está a ponto de ruir. Que pessoa de sensibilidade poderia deixar de magoar-se ou lamentar-se por tal situação ?
As falsas doutrinas propagadas pelos três Grandes Mestres são em geral disseminadas a partir de três locais: To-ji, Soji-ji, no monte Hiei, e Onjo-ji. Se não forem tomadas medidas para proibir estas atividades desses três templos, então, sem dúvida nenhuma, a nação será destruída e seu povo cairá nos maus caminhos. Apesar de ter discriminado de maneira geral a natureza da situação e informado o soberano, ninguém se aventurou a fazer uso do meu conselho. Que lamentável !
Fundo de Cena
"Os Quatro Estágios da Fé e os Cinco Estágios da Prática" é considerada uma das dez principais escrituras de Nitiren Daishonin. Acredita-se que tenha sido redigida em 11 de abril de 1277, embora haja diferentes opiniões sobre o assunto. Toki Jonin, um dos discípulos mais versados e devotados de Nitiren Daishonin, havia-lhe enviado uma carta por intermédio de Ben Ajari Nissho, um dos seis discípulos seniores. Toki havia expressado preocupação a respeito de como poderia erradicar suas ofensas passadas e efetuar uma prática correta juntando à carta uma lista de perguntas específicas. Este Gosho é a resposta de Nitiren Daishonin. Nele o Buda Original enfatiza que a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo com fé na Lei Mística é a prática correta para os Últimos Dias da Lei e contém o mérito de todas as outras práticas, conduzindo diretamente ao estado de Buda.
Na parte inicial, Daishonin diverge daqueles seus contemporâneos que afirmavam que os praticantes do Sutra de Lótus devem devotar-se aos três tipos de conhecimento: preceitos, meditação e sabedoria. Afirmava-se tradicionalmente que esses três elementos abrangiam a totalidade da prática budista. Nitiren inicia sua explanação discutindo "os quatro estágios da fé e os cinco estágios da prática" enumerados pelo Grande Mestre Tientai com base no capítulo Fumbetsu Kudoku (17) do Sutra de Lótus. O primeiro estágio da fé, o de "produzir mesmo um único momento de fé e compreensão", e o primeiro estágio da prática, o de "alegrar-se ao ouvir pela primeira vez o Sutra de Lótus", correspondem, diz Nitiren Daishonin, à posição dos praticantes nos Últimos Dias da Lei. Entre as várias interpretações desses estágios iniciais, apresentadas nos ensinos registrados por Tientai e Miao-lo, ele designa como mais apropriada a visão de que eles correspondem ao estágio de myoji-soku, no qual a pessoa ouve pela primeira vez o Sutra de Lótus e adquire fé neste. Para as pessoas nesses estágios iniciais, prossegue Nitiren Daishonin, dos três tipos de conhecimento o Buda subtraiu a prática dos preceitos e da meditação, enfatizando somente a sabedoria. E como a sabedoria das pessoas nos Últimos Dias da Lei é inadequada, elas devem substituí-la pela fé; a fé no Sutra de Lótus torna-se a causa para se adquirir a sabedoria do Buda.
Nitiren Daishonin então critica o Ojo Yoshu (Os Elementos Essenciais do Renascimento na Terra Pura), de Eshin, uma obra que havia encorajado grandemente as práticas da Nembutsu no Japão. Os adeptos da Terra Pura geralmente afirmavam que o Sutra de Lótus era profundo demais para a capacidade limitadas das pessoas nascidas nos Últimos Dias da Lei, destacando, por sua vez, a 'prática fácil' de recitar o nome do Buda Amida. Nitiren Daishonin responde que quanto mais elevado o ensino, mais baixa a capacidade das pessoas que ele consegue salvar; deste modo, o Sutra de Lótus pode levar todos os seres ao estado de Buda.
A parte seguinte do Gosho explana que as pessoas nos Últimos Dias da Lei, as quais estão nos estágios iniciais da prática, não precisam praticar a caridade, manter preceitos ou qualquer outro dos cinco paramitas, mas devem devotar-se exclusivamente à recitação do Daimoku. Devemos entender aqui que Nitiren Daishonin não está rejeitando o espírito implícito em atos como a caridade; mas, ao contrário, está negando a sua eficácia como práticas formais. O mérito de todas essas boas ações, ele diz, está inerente no Daimoku. O Daimoku contém todos os ensinos. Nitiren Daishonin afirma que mesmo aqueles que o recitam sem compreender o seu significado seguramente atingirão o estado de Buda.

As mais Belas Histórias Budistas - As Escrituras de Nitiren DaishoninEndereço: http://www.vertex.com.br/users/san/goshos e-mail: sandro@vertex.com.br

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