"Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a se mover

em direção ao seu desejo".

3 de jan. de 2009

GOSHO - A Consagração de Uma Imagem do Buda Sakyamuni feita por Shijo Kingo

(Shijo Kingo Shakabutsu Kuyo-ji, págs.1144-1148)

Em seu diário, o senhor escreveu que modelou uma imagem de madeira do Buda Sakyamuni. Com relação à cerimônia de abertura dos olhos apropriada para tal estátua, o sutra Fuguen declara: “Esse sutra Mahayana é o depósito de tesouro de todos os Budas, os olhos de todos os Budas das dez direções e das três existências”. Diz também: “Esse sutra Mahayana são os olhos de todos os Budas, pois através dos ensinos deste, eles adquirem os cinco tipos de visão”.
A frase ‘adquirem os cinco tipos de visão’, neste sutra, refere-se aos olhos dos mortais comuns, os olhos divinos, os olhos de sabedoria, os olhos da Lei e os olhos do Buda. Esses cinco tipos de visão são naturalmente obtidos por aquele que sustenta o Sutra de Lótus, assim como uma pessoa que se torna um soberano de Estado é naturalmente obedecida por todo o povo, ou como o senhor do grande oceano que de forma natural, é seguido pelos peixes habitantes do oceano.
Os sutras Kegon, Agon, Hodo, Hannya e Dainiti podem possuir os cinco tipos de visão nominalmente, mas não os contêm na realidade. O Sutra de Lótus possui-os tanto nominal quanto realmente. E mesmo que não os tivesse nominalmente, pode ter a certeza de que os possuiria na realidade.
Quanto aos três corpos ou propriedades de um Buda, o sutra Fuguen afirma: “As três propriedades iluminadas da vida do Buda originam-se do Hodo. Este selo do grande Dharma assegura a entrada no mar do nirvana. As três propriedades puras de um Buda provêm desse vasto oceano. Essas três propriedades são o campo fértil de boa sorte para todos os seres humanos e celestiais, e o objeto mais supremamente ‘digno de oferecimentos’.
As três propriedades dos corpos são: primeiro, o corpo Dharma do Tathagatta; segundo, o corpo de Júbilo do Tathagatta; e terceiro, o corpo manifesto do Tathagatta. Esses três tipos de corpos do Tathagata estão invariavelmente contidos em todos os Budas. Se tomarmos a Lua como exemplo, poderemos dizer que ela em si seja comparável ao corpo Dharma, sua luz ao corpo de júbilo, e seu reflexo ao corpo manifesto. Assim como uma única lua apresenta esses três diferentes aspectos, também um único Buda possui as virtudes desses três diferentes corpos.
As doutrinas dos cinco tipos de visão e dos três corpos não são expostas em nenhum lugar além do Sutra do Lótus. Portanto, o Grande Mestre Tientai declarou: “O Buda, no decorrer de todas as três existências, possui consistentemente os três corpos. Porém, nos vários ensinos, ele manteve isto em segredo e não o transmitiu”. Nesta passagem do comentário, a frase ‘nos vários ensinos’ não se refere somente aos sutras Kegon, Hodo e Hannya, mas à totalidade do corpo de sutras exceto o Sutra de Lótus. E a frase ‘ele manteve isto em segredo e não o transmitiu’ significa que, em todo o corpo de escrituras, salvo o capítulo Juryo do Sutra de Lótus, Sakyamuni ocultou uma doutrina e não a revelou em lugar nenhum. Portanto, na realização da cerimônia de abertura dos olhos para imagens do Buda pintadas ou de madeira, a única autoridade em que se deve confiar são o Sutra de Lótus e a seita Tendai.
Além disso, a doutrina de Itinen Sanzen baseia-se no conceito dos três reinos de existência. Os três reinos são: primeiro, o reino dos seres vivos; o reino dos cinco componentes; e terceiro, o reino do ambiente. Deixaremos de lado os dois primeiros no momento. O terceiro, o reino do ambiente, diz respeito ao reino das plantas e árvores. E o reino das plantas e árvores inclui as plantas e árvores com as quais se produzem as cinco nuanças de pigmento usadas na pintura. A partir desse pigmento, as imagens pintadas são criadas, e dessas árvores são feitas as estátuas de madeira.
É o poder do Sutra de Lótus que se torna possível a infusão de uma ‘alma ou propriedade espiritual’ nessas estátuas. Essa foi a compreensão do Grande Mestre Tientai. No caso dos seres vivos, essa doutrina é conhecida como atingir o estado de Buda na forma presente; tratando-se de imagens pintadas e de madeira, é conhecida como a iluminação de plantas e árvores. Por esta razão (o Grande Mestre Chang-an) escreveu: “Jamais houve nada que se compare ao brilho e serenidade da meditação do estilo shikan”. E por isto (o Grande Mestre Miao-lo) afirmou: “Eles, no entanto, ficam chocados e nutrem dúvids quando ouvem pela primeira vez a doutrina de que os seres iluminados possuem a natureza do Buda”.
Nunca se ouviu falar dessa doutrina (de itinen sanzen) nas eras (anteriores à do Grande Mestre Tientai), nem se teve conhecimento dela nas eras seguintes. E mesmo se tivesse aparecido, pode-se estar certo de que teria sido algo roubado dele.
Entretanto, cerca de duzentos anos ou mais após a época de Tientai, Shan-wu-wei, Chin-kang-chih e Pu-kung fundaram a chamada seita Shingon com base no sutra Dainiti. E, então, embora não haja nenhuma menção dessa doutrina no Sutra de Lótus na forma como o Buda a expôs, eles roubaram a doutrina de itinen sanzen do Sutra de Lótus e a interpretação de Tientai da mesma, e prosseguiram tornando-a o núcleo da seita Shingon. Além disso, fingiram que a doutrina havia se originado na Índia, e deste modo enganaram e desencaminharam os eruditos recentes da China e Japão. Ninguém sabe na verdade da questão, mas todos igualmente aceitam e têm fé nas asserções da seita Shingon. Isto veio acontecendo continuamente durante mais de quinhentos anos até agora.
Sendo este o caso, as imagens de madeira ou pintadas que foram feitas e consagradas antes da época da seita Shingon, (quando as práticas de Tientai eram seguidas), manifestaram poderes extraordinários, mas as dos templos e pagodes construídos após (as práticas da Shingon terem sido adotadas para a cerimônia de abertura dos olhos) produzem muito pouco benefício. Como há muitos exemplos disso, não entrarei em detalhes.
Esse seu Buda, entretanto, é um Buda vivo. Não difere em nenhum aspecto da imagem de madeira do Buda feita pelo rei Udayana, ou daquela moderada pelo rei Bimbisara. Certamente, Bonten, Taishaku, as divindades do Sol e da Lua, e os Quatro Reis Celestiais o escoltarão assim como a sombra acompanha o corpo e o protegerão sempre. (Este é o primeiro ponto que desejo salientar).
Seu diário também mostra que cada ano, durante o período de noventa dias, do oitavo dia do quarto mês ao décimo-quinto dia do sétimo mês, o senhor também empreende atos de devoção ao deus do Sol. O deus do Sol vive num palácio feito dos sete tipos de gemas. Esse palácio ocupa uma área de 816 ri ou 51 yojana. No meio dela, mora o deus do Sol, acompanhado de duas consortes, Sho e Musho. À sua direita e à sua esquerda estão enfileirados os setes luminares e os nove luminares, e na frente dele encontra-se a deusa Marishiten. O deus do Sol viaja numa carruagem feita de sete gemas puxada por oito excelentes cavalos, e no espaço de um dia e uma noite ele circula os quatro continentes, atuando como um olho para todos os seres vivos que moram neles.
No caso dos outros Budas, bodhisattvas e divindades, dizem que ele concedem benefícios esplêndidos, mas com os nossos olhos de mortais comuns ainda estamos para vê-los. Quanto à divindade Sol, contudo, não pode haver dúvidas, pois seus benefícios estão diante de nossos próprios olhos. Se não fosse por Sakyamuni, o senhor dos ensinos, como benefícios como esses poderiam ser concedidos ? E, se não fosse pelo poder do maravilhoso sutra do veículo único, como tais prodígios poderiam aparecer diante de nós ? É magnífico contemplar isto !
Ao se inquirir como alguém pode retribuir essa divindade pelos seus favores, constata-se que, nas eras anteriores ao surgimento do budismo, as pessoas de uma natureza de discernimento curvavam-se todas diante dele ou consagravam-lhe oferecimentos, e todas elas, por sua vez, recebiam evidência de benefícios. Ao mesmo tempo, as pessoas que se voltavam contra ele eram todas punidas.
Agora, se considerarmos o que os textos budistas têm a dizer, poderemos notar que o sutra Konkomyo, afirma: “O deus do Sol e deus da Lua, por atenderem a este sutra, estão habilitados a obter vitalidade em abundância”. E o sutra Saishoo declara: “Através do poder desse sutra rei, esses luminares podem circular os quatro continentes”.
Deve compreender, portanto, que é o poder da Lei budista que capacita as divindades do Sol e da Lua a realizar suas rondas dos quatro continentes. Os sutras Konkomyo e Saishoo são meros ensinos expedientes conducentes ao Sutra de Lótus. Em comparação ao Sutra de Lótus, são como o leite em relação ao ghee, ou metal em confronto com gemas preciosas. E, no entanto, inferiores como são, esses sutras habilitam as divindades celestiais a circularem os quatro continentes. Quão maior poder podem ganhar essas divindades, então, provando o doce sabor do ghee do Sutra de Lótus !
Portanto, no capítulo Jo, observamos que as divindades do Sol e da Lua são colocadas lado a lado com o deus das estrelas. E, no capítulo Hosshi, está predito que a divindade do sol atingirá o mais alto nível de iluminação e será conhecido como o Tathagata Sustentador do Fogo.
Além disso tudo, seu falecido pai iniciou essa adoração da divindade Sol, e o senhor sucedeu-o na segunda geração, dando continuidade a essas cerimônias durante um longo período de tempo. Assim, como poderia essas divindade abandoná-lo ?
Eu, Nitiren, também depositei minha confiança nessa divindade e, desta maneira, prossegui meus esforços no Japão durantes vários anos passados. Tenho já a sensação de ter alcançado a vitória. Esses benefícios claros só podem ser atribuídos a essa divindade.
Há muitos outros pontos admiráveis em seu diário, mas não posso tratar de todos eles nesta carta.
Quanto ao fato que mais admiro: Em suas cartas no passado, o senhor de tempos em tempos mencionava a sua preocupação com seus pais. E quando li a sua presente carta, não pude conter as minhas lágrimas, tão comovido fiquei por pena de sua aflição devido ao pensamento de que seus pais poderiam talvez estar no inferno.
Entre os discípulos do Buda havia um chamado Venerável Maudgalyayana. O nome do seu pai era Kissen Shishi e o de sua mãe Shodainyo. Sua mãe, após falecer, caiu no reino dos espíritos famintos. Enquanto Maudgalyalyana ainda era um mortal comum, não tinha consciência deste fato, e assim, não tinha razão para preocupar-se com isso. Porém, após tornar-se discípulo do Buda, alcançou a posição de arhat e, adquirindo o olho divino, pôde perceber que sua mãe estava no reino dos espíritos famintos. Quando soube disso, fez oferecimentos de alimentos e bebida a ela, mas estes somente transformavam-se em chamas e aumentavam o seu tormento. Por causa disso, ele voltou correndo ao Buda e relatou o que havia acontecido. Pense em como ele deve ter se sentido na ocasião !
O senhor é um mortal comum, possuindo não mais do que o olho mortal e, deste modo, não pode ver que reino os seus pais ocupam agora e aflige-se com o pensamento de que eles talvez estejam no inferno. Esta é em si uma manifestação de devoção filial. Bonten, Taishaku, as divindades do Sol e da Lua, e os Quatro Reis Celestes com certeza olharão para o senhor com piedade.
O sutra Kegon diz: “Aqueles que não compreendem suas obrigações filiais em muitos casos se depararão com uma morte prematura”. E o sutra Kambutsu Sokai declara: “Essa (falha em pagar uma dívida de gratidão) é a causa que leva ao renascimento no Inferno Aviti”. Contudo, agora o senhor já demonstrou uma preocupação sincera pelos seus pais, e os deuses celestiais seguramente atenderão suas orações. ( Esse é o segundo ponto que desejo enfatizar ao senhor).
Em sua carta, também menciona certos pontos que, considerando completamente o âmago da questão, acredito que não deva fazer. Eu, Nitiren, sou odiado pelo povo do Japão. Isto se deve inteiramente ao fato de o lorde de Sagami me ver com hostilidade. Admito que o governo tenha agido totalmente além da razão, mas mesmo antes de ter encontrado minhas dificuldades eu previa que problemas daquele tipo ocorreriam e resolvi que, não obstante o que pudesse me acontecer no futuro, não deveria nutrir nenhum ódio com relação aos outros. Essa determinação talvez tenha atuado como uma espécie de oração, pois consegui sobreviver, com segurança, a uma grande número de provações. E, agora, não enfrento tais dificuldades.
De quem foi a ajuda que me permitiu escapar da morte pela fome quando fui exilado à província de Sado, ou que torna possível que eu recite o Sutra de Lótus aqui nas montanhas como tenho feito até agora ? A sua ajuda somente. E se indagássemos quem possibilitou-lhe oferecer tal auxílio, teríamos que dizer que foi o lorde Ema Nyudo. Embora ele próprio não esteja consciente desse fato, isto sem dúvida atuou como uma espécie de oração em meu favor. E, sendo assim, a oração de seu lorde também se tornou uma espécie de oração em seu benefício também.
Além disso, graças ao seu lorde o senhor pôde cumprir suas obrigações para com seus pais. Não importando o que pudesse acontecer, não seria correto deixar o serviço a alguém com quem tem tamanha dívida. Se ele o rejeita repetidamente, não há o que fazer. Porém, o senhor próprio não deve abandoná-lo, não obstante como a sua vida possa ser colocada em perigo.
Na passagem do sutra que citei acima, consta que aqueles que não compreendem suas obrigações podem deparar-se com uma morte prematura. Em contraste, aqueles que cumprem seus deveres filiais não encontrarão tal morte.
O pássaro conhecido ocmo cormorão é capaz de comer ferro, mas apesar de seu interior poder digerir ferro, eles não fazem mal aos embriões dentro do corpo da mãe. Há peixes que comem pedregulhos, mas isto não mata os filhotes dentro do corpo do peixe que ainda não foram desovados. A árvore chamada sândalo não pode ser queimada pelo fogo, e o fogo nos céus da pureza não pode apagado pela água. O corpo do Buda Sakyamuni não pôde ser queimado, apesar de trinta e dois fortes homens encostarem tochas nele, e quando emanou fogo do corpo do Buda, as divindades dragões do mundo tríplice derramaram chuvas na tentativa de apagá-lo, mas este não foi extinto.
Agora o senhor auxiliou Nitiren em seus atos de mérito. Portanto, não será muito difícil para as pessoas perversas causarem-lhe dano. E, se por acaso algo lhe acontecer, pode estar certo de que se trata de uma punição, nesta vida, pelo ódio que manifestou em alguma existência passada com relação ao devoto do Sutra de Lótus. A punição desse tipo jamais pode ser evitada, não importando o quanto a pessoa possa se embrenhar nas profundezas das montanhas ou no mar distante. É por isso que o bodhisattva Fukyo foi atacado com varas e bastões, e que o Venerável Maudglyayana foi morto por um grupo de brâmanes da Escola Vara de Bambu. Logo, que causa o senhor tem para se afligir ?
Para evitar problemas inesperados, é melhor suportar pacientemente. Após ler esta crta, durante os cem dias seguintes não deve sair descuidadamente para beber à noite com seus colegas ou outros em lugares além de sua própria casa. Se o seu lorde o chamar durante o dia, vá vê-lo sem demora nenhuma. Se o chamar à noite, então alegue algum mal súbito nas três primeiras vezes que ele o fizer. Se ele persistir em chamá-lo mais de três vezes, então informe os seus subordinados ou outra pessoa e faça-os verificar se não há problemas nas encruzilhadas antes de partir para atender aos chamados.
Se portar-se dessa maneira circunspecta, e os mongóis atacarem nosso país nesse ínterim, os sentimentos das pessoas com relação ao senhor mudarão, tornando-se diferentes do que foram no passado, e elas não pensarão mais em atacá-lo como a um inimigo.
Com respeito àquilo que me escreveu, mesmo que tivesse cometido algum erro, não deveria pensar levianamente em deixar o serviço ao seu lorde – muito menos ainda se não é culpado de nenhuma falta. Nesse caso, não deve dar atenção, não obstante o que os outros possam dizer.
Quanto ao seu desejo de se tornar um sacerdote leigo, haverá tempo de sobra para fazê-lo mais tarde. Mesmo então, se surgirem circunstâncias que não o satisfaçam em corpo ou mente, más influências tentarão atuar sobre o senhor. Atualmente há mulheres que se tornam freiras para enganar os outros, e homens que se tornam sacerdotes leigos e cometem grande mal. Nunca deve envolver-se em questões assim.
Embora não esteja sofrendo de doença nenhuma, deveria receber tratamento de aplicação de moxa em dois lugares de seu corpo para que depois possa alegar doença se isso se tornar necessário. E, caso algum tipo de distúrbio ocorra, por enquanto envie outra pessoa para observar o que está havendo.
É difícil escrever em detalhes tudo o que gostaria de dizer-lhe. É por isso que não entrei em assuntos de doutrina aqui. Quanto ao sutra, eu o copiarei para o senhor quando o clima ficar um pouco mais fresco.

Com meu profundo respeito,
Nitiren
Em 15 de julho de 1276.

Fundo de Cena

Nitiren Daishonin escreveu esta carta em Minobu para Shijo Kino no dia 15 de julho de 1276, quando estava com 56 anos de idade.
Evidentemente, Shijo Kingo havia feito uma imagem de madeira do Buda Sakyamuni em benefício de seus falecidos pais e pedira a Nitiren Daishonin que realizasse uma cerimônia de abertura dos olhos para consagrá-la. Esta carta é a resposta de Nitiren Daishonin.
Na passagem inicial, Daishonin afirma que somente quando o Sutra de Lótus é usado para consagrar uma imagem do Buda é que esta se torna dotada dos cinco tipos de visão e dos três corpos ou propriedades iluminadas que os Budas possuem. Todos os Budas, ele declara, adquirem os cinco tipos de visão e as três propriedades em virtude do Sutra de Lótus; o mesmo vale para as imagens do Buda.
Afirmava-se popularmente que a cerimônia de abertura dos olhos para consagrar uma imagem do Buda infundia na imagem um ‘espírito’ ou ‘alma’. Nitiren Daishonin, contudo, explica o assunto mais profundamente baseando-se na doutrina de Itinen Sanzen, que esclarece que seres inanimados, como as árvores e as plantas das quais são feitas as imagens de madeira e as pintadas, possuem inerentemente a natureza do Buda e podem manifestá-la. O conteúdo da primeira parte do Gosho lembra o gosho intitulado ‘Abrindo os Olhos de Imagens de Madeira ou Pintadas’.
Nitiren Daishonin na realidade designou o Gohonzon das Três Grandes Leis Secretas, ao invés de imagens do Buda, como o objeto de adoração. Entretanto, quando este gosho foi escrito, o Dai-Gohonzon ainda seria inscrito; além disso, fazer imagens do Buda era uma prática bastante disseminada e, numa época em que a maioria das pessoas reverenciavam o buda Amida, Nitiren Daishonin algumas vezes aprovava provisoriamente a execução de imagens de Sakyamuni como um ato conducente à compreensão correta. Esse assunto é discutido em alguns detalhes no gosho “O Douto Erudito Shan-wu-wei”.
Uma atitude similar também delineia a parte seguinte do gosho, no qual Daishonin comenta a prática hereditária de Shijo Kingo de adorar a divindade Sol em certas épocas do ano. Ele explica no contexto que o poder e ações da divindade Sol, no final, derivam da Lei Budista, que o Sutra de Lótus expõe.
Nitiren Daishonin, então, elogia Shijo Kingo por sua devoção filial. O pai de Kingo havia falecido em 1253, e sua mãe, em 1270, e ele havia pedido muitas vezes a Nitiren Daishonin que realizasse cerimônias em memória deles. Nesta carta, comovido pelos temores de Kingo de que seus pais pudessem estar sofrendo no inferno, Nitiren Daishonin assegura-lhe que os deuses budistas com certeza terão pena dele e responderão suas orações.
Nessa ocasião, Shijo Kingo estava sendo tratado asperamente pelo seu lorde por causa de sua crença no Sutra de Lótus, e provavelmente dissera a Daishonin que desejava abandonar o serviço a seu lorde. Ansioso para que seu discípulo não agisse precipitadamente e que resolvesse seu dilema através da fé, Nitiren Daishonin recomenda-lhe que não nutra ódio contra o lorde Ema. Ele afirma que, ao proporcionar sustento para Kingo, Ema possibilitou que cumprisse seus deveres filiais e também que fizesse oferecimentos ao devoto do Sutra de Lótus. Seria errado, diz Nitiren Daishonin, abandonar levianamente alguém com quem se possui uma dívida tão profunda. Desta maneira, ele encoraja Shijo Kingo a considerar a relação feudal entre lorde e vassalo na perspectiva da fé.
Esta carta termina com um conselho específico de como Kingo deveria comportar-se. Nessa época, Shijo Kingo estava correndo perigo físico devido à animosidade de seus colegas samurais, e Nitiren Daishonin previne-o para estar alerta. Ele aconselha-o, por exemplo, a não sair bebendo descuidadosamente em nenhum lugar for a de sua própria casa e, se possível, evitar atender chamados do seu lorde à noite.


As mais Belas Histórias Budistas - As Escrituras de Nitiren DaishoninEndereço: http://www.vertex.com.br/users/san/goshos e-mail: sandro@vertex.com.br

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