"Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a se mover

em direção ao seu desejo".

3 de jan. de 2009

GOSHO - As Duas Espécies de Doença

(Nakatsuka Saemon-no-jo Gohenji – Páginas 1178 a 1179)
As doenças dos seres humanos podem ser divididas em duas categorias gerais, sendo a primeira a doença do corpo. As doenças físicas abrangem cento e uma perturbações do elemento terra, cento e um desequilíbrios do elemento água, cento e um distúrbios do elemento fogo, somando um total de quatrocentos e quatro males. Essas doenças podem ser curadas com os remédios prescritos por médicos habilidosos como Jisui, Rusui, Jivaka e Pien Chueh.
A segunda categoria é a doença da mente. Essas enfermidades surgem dos três venenos da avareza, ira e estupidez e são de 84 mil espécies. Somente um Buda pode curá-las. Deste modo, elas estão além dos poderes de cura das duas divindades brâmanes e dos três ascetas, sem mencionar os de Shen Nung e Huang Ti.
As doenças da mente diferem grandemente em severidade. Os três venenos e suas 84 mil variações, que afligem os mortais comuns dos seis caminhos podem ser tratados pelo Buda das seitas Kusha, Jojitsu e Ritsu, que derivam-se do ensino Tripitaka, do Hinayana. Contudo, se alguém tentar usar os ensinos Hinayana para curar os três venenos e oitenta mil doenças que originam-se da calúnia aos sutras Mahayana, tais como os sutras Kegon, Hannya e Dainiti, esses males irão meramente, tornar-se piores e jamais serão curados. Eles podem ser tratados somente com os ensinos Mahayana. Além disso, se alguém tentar usar os sutras Kegon, Hannya e Dainiti ou os ensinos Shingon e Sanron para curar os três venenos e oitenta mil doenças que surgem quando os praticantes de vários sutras Mahayana opõem-se ao Sutra de Lótus, essas enfermidades tornar-se-ão muito mais sérias. Para ilustrar, as chamas lançadas pela madeira ou carvão podem ser facilmente extintas pela água. Porém, o fogo produzido pelo óleo queimando ficará ainda mais intenso, suas chamas subirão ainda mais, se alguém derramar água sobre o mesmo.
As epidemias que têm assolado o Japão desde o ano passado não podem ser classificadas dentro das quatrocentas e quatro doenças do corpo. Portanto, estão além dos poderes de cura de Hua To e Pien Chueh. Tampouco correspondem a nenhuma das 84 mil doenças que podem ser tratadas com os ensinos Hinayana ou Mahayana provisório. Por esta razão, as orações oferecidas pelos sacerdotes das seitas baseadas nesses ensinos não somente deixarão de dar fim às epidemias, mas as agravarão muito mais. Mesmo que as epidemias diminuam este ano, infalivelmente irromperão novamente nos próximos anos. Provavelmente, cessarão somente após algo terrível ter acontecido.
O Sutra de Lótus diz: “Se eles procurarem o caminho da medicina e tratarem a doença de acordo com a prescrição, produzirão somente complicações maiores, ou causarão, talvez, até a morte…A doença deles tornar-se-á cada vez mais grave”. O Sutra Nirvana afirma: “Nessa ocasião, o Rei Ajatashatru de Rajagriha.. tumores tomarão todo o seu corpo…(O rei disse) “Esses tumores têm causa espiritual e não se originam de uma desarmonia dos quatro elementos. Mesmo que as pessoas digam que há um médico que pode curá-los, pode ser possível que não haja um médico que pode curá-los, pode ser possível que não haja”. Miao-lo declara: “Os sábios podem ver presságios e o que eles predizem, como as cobras conhecem o caminho das cobras”.
As atuais epidemias são como os tumores virulentos do rei Ajatashatru, que não podiam ser curadas por ninguém além do Buda. Elas podem ser erradicadas somente pelo Sutra de Lótus.
Eu, Nitiren, contraí diarréia no trigésimo dia do décimo-segundo mês do ano passado, e, até o terceiro ou quarto mês deste ano, tornou-se frequente a cada dia e mais severa a cada mês. Justamente quando eu estava pensando que devia ser o meu carma imutável (morrer nesta ocasião), o senhor enviou-me um excelente remédio. Desde que o tomei, minha doença diminuiu gradativamente e agora é insignificante diante da intensidade anterior. Gostaria de saber se o Lorde Buda Sakyamuni poderia ter entrado em seu corpo para ajudar-me, ou talvez os bodhisattvas da Terra tenham me conferido o bom remédio do Myoho-rengue-kyo. Tikugo-bo lhe explicará tudo isto em maiores detalhes.
Pós escrito: O seu mensageiro chegou por volta da Hora do Cão (19:00-21:00) no vigésimo-quinto dia deste mês. As coisas que o senhor mandou-me são incalculáveis. Por favor, transmita minha gratidão ao Lorde Toki pelo seu oferecimento de um traje de verão. Por favor, diga à sua esposa o quanto entristeceu a morte de seu avô.

Com meu profundo respeito,
Nitiren
Vigésimo-sexto dia do sexto mês

Fundo de Cena

Nitiren Daishonin escreveu esta carta, no Monte Minobu, para Shijo Kingo em Kamakura, em 26 de junho de 1278, quando contava com 57 anos. Shijo Kingo foi um devotado seguidor de Daishonin e um samurai a serviço da família Ema, uma ramificação do clã dominante, Hojo. Ele era um médico excelente, bem como um mestre em artes militares. Nesta carta, Daishonin expressa sua gratidão pelo remédio que Shijo Kingo havia prescrito e enviado a ele juntamente com outros oferecimentos. O seu conteúdo assemelha-se com o de um outro gosho, ‘Tratado da Doença’, escrito para Toki Jonin na mesma data. A passagem inicial, de fato, é de fato idêntica.
A vida de Nitiren Daishonin em seu retiro no monte Minobu estava longe de ser fácil. Os invernos eram rigorosos e ele não possuía um abrigo adequado. O alimento era um outro problema pois as provisões fornecidas pelos seus seguidores nem sempre eram suficientes. Além disso, por quase toda a metade de 1278, ele sofreu uma diarréia crônica e debilitante.
Nesta carta, Nitiren Daishonin refere-se aos dois tipos de doença: doença do corpo, que origina-se fundamentalmente de causas físicas, e doença da mente, que surge da ilusão e desejos mundanos. Ele explana que a doença do corpo pode ser curada por médicos suficientemente habilidosos, mas as doenças da mente não podem. Somente os ensinos budisas proporcionam um remédio para esses distúrbios. Ele também atribui as epidemias que assolavam o Japão à calúnia ao Sutra de Lótus. Nem o ensino Hinayana e nem o Mahayana provisório poderá combatê-los, ele diz. A fé no Sutra de Lótus somente erradicará a calúnia das pessoas e removerá o sofrimento delas.

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