"Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a se mover

em direção ao seu desejo".

29 de jul. de 2008

Comparação entre o Sutra de Lótus e os Outros Sutras

(Shokyo to Hokekyo to Nan-I no Koto – Págs.991 a992)

Questão: O capítulo Hosshi, no volume quatro do Sutra de Lótus, diz: "o mais difícil de crer e o mais difícil de compreender". Qual o significado dessa passagem ?
Resposta: Já se passaram mais de dois mil anos desde que o Buda expôs o Sutra de Lótus na Índia. Levou pouco mais de mil e duzentos anos até ser trazido da China para o Japão. E mais de setecentos anos se passaram desde então.
Após o falecimento do Buda, haviam apenas três pessoas que compreenderam o verdadeiro significado dessa passagem do Sutra de Lótus. O primeiro foi o bodhisattva Nagarjuna na Índia, que afirmou em seu Dai-ron. "(O Sutra de Lótus) é como um grande médico que transforma o veneno em remédio…". Essa foi a maneira como explicou o significado da passagem "o mais difícil de crer e o mais difícil de compreender" (O segundo), na China, Tientai, o grande mestre da sabedoria, interpretou a passagem do contexto do sutra: "Entre todos os sutras que o Buda pregou, prega e pregará, o Sutra de Lótus é o mais difícil de crer e o mais difícil de compreender". (O terceiro) no Japão, o Grande Mestre Dengyo, detalhou essa frase: "Todos os sutras dos primeiros, quatro, dentre os cinco períodos, pregados no passado, o Sutra do Infinito Significado agora sendo pregado, e o Sutra do Nirvana que será pregado no futuro, são fáceis de crer e fáceis de compreender. Isso porque o Buda ensinou-os de acordo com a capacidade da audiência. O Sutra de Lótus é o mais difícil de crer e o mai difícil de compreender porque o Buda o expôs partindo da sua iluminação".
Questão: Seria possível explicar mais ?
Resposta: Em resumo, a facilidade de crer e compreender é atribuível ao ensino do Buda adaptado à capacidade das pessoas. Por outro lado, a dificuldade de crer e compreender é atribuível ao ensino segundo a sua própria iluminação.
Kobo Daishi e seus adeptos do templo To-ji no Japão sustentam que, dentre todos os ensinos exotéricos (ensinos do Buda Sakyamuni), o Sutra de Lótus é o mais difícil de crer e o mais difícil de compreender. Entretanto, contrastando com os ensinos esotéricos (ensinos do Buda Dainiti), eles afirmam, o Sutra de Lótus é fácil de crer e fácil de compreender. Jikaku, Tisho e seus seguidores argumentam que tanto o Sutra de Lótus como o Sutra Dainiti estão entre os mais difíceis de crer e mais difíceis de compreender mas, dentre esses dois, o Sutra Dainiti é de longe o mais difícil de crer e compreender.
Todas as pessoas no Japão concordam com essas duas argumentações. Entretanto, após ler todos estes sutras, Nitiren toma um diferente ponto de vista. As escrituras não budistas são mais fáceis de crer e compreender que os sutras Hinayana. Mas esses sutras são mais fáceis que o Dainiti e outros sutras (Hodo), os quais são mais fáceis que os sutras Hannya. O mesmo é verdade com os sutras Hannya e Kegon, os sutras Kegon e do Nirvana, o do Nirvana e o de Lótus, e os ensinos teórico e essencial do Sutra de Lótus.
Questão: Qual é o significado de conhecer estas diferenças ?
Resposta: Nenhum sutra é igual ao de Lótus, o grande farol que ilumina a longa noite do sofrimento da vida e da morte, ou uma poderosa espada que pode destruir a escuridão fundamental inerente à vida do homem. Outras seitas, tais como a Shingon e a Kegon, acreditam em ensinos revelados segundo as capacidades das pessoas. Elas são evidentemente fáceis de crer e de compreender. Nos ensinos que admitem as diferenças nas capacidades das pessoas, o Buda desce ao nível delas para satisfazer os desejos das pessoas dos nove mundo, tal como um sábio pai faria para o seu filho ignorante. Por outro lado, ensinos expostos a partir da iluminação do Buda indicam que ele ensina o homem mantendo-se dentro do mundo do Estado de Buda. É como se fosse um santo pai que educa seu filho ignorante da maneira como ele deseja.
À luz desse princípio, Nitiren considerou cuidadosamente os sutras Dainiti, Kegon, do Nirvana, e outros (provisórios), apenas para chegar à conclusão de que todos eles foram expostos de acordo com a capacidade das pessoas dos nove mundos.
Questão: Há alguma evidência que prove isso tudo ?
Resposta: O Sutra Shoman diz: Para aqueles que não ouviram ou aceitaram qualquer ensino falso, o Buda os leva à maturidade através de boas causas para a Tranquilidade e Alegria. Para os que buscam o estado de Erudição, o Buda expõe o ensino que os leva àquele estado. Para os que buscam o estado de Absorção, o Buda revela o ensino para esse estado. Para os que buscam ensinos Mahayana, o Buda os ensina. Isso mostra porque os ensinos do Buda são fáceis de crer e fáceis de compreender – os sutra Kegon, Dainiti, Hannya, do Nirvana, e outros. (Em contraste, o Sutra de Lótus diz) "Naquele tempo, através do Bodhisattva Yakuo, o Honrado-pelo-Mundo dirigiu-se aos oitenta mil grandes buscadores da Lei: "Yakuo, o senhor vë dentro desta multidão incontáveis deuses, reis dragões, yakshas, gandarvas, ashuras, garudas, kinnaras, mahoragas, humanos e não humanos, assim como monges, monjas, leigos e leigas. O senhor vê nesta multidão aqueles que buscam a categoria de shomon (Erudição), os que buscam a categoria de Pratyeka-Buda (Absorção), e os que buscam a categoria de Buda ? Se qualquer um deles ouvir um único verso ou uma única frase do Sutra de Lótus na presença do Buda e experimentar um único momento de alegria, eu lhe confiro a profecia de que ele atingirá a suprema iluminação."
Nos sutras provisórios, Sakyamuni ensinou o seguinte: cinco preceitos para as pessoas da Tranquilidade, dez preceitos para os da Alegrai, as quatro qualidades inimagináveis da benevolência, simpatia, alegria e imparcialidade a Bonten, uma cerimônia para doação imparcial de esmolas ao Rei Demônio, duzentos e cinquenta preceitos para bonzos, quinhentos preceitos para freiras, as Quatro Nobre Verdades para as pessoas de Erudição, a corrente de doze elos da causalidade dependente às pessoas em Absorção, e o seis paramitas para os Bodhisattvas. Esses ensinos são comparáveis à água adaptando-se à vasilha, redonda ou quadrada. Poderiam também ser comparados com um elefante que usa apenas a força suficiente para vencer o seu inimigo.
O Sutra de Lótus é inteiramente diferente de todos esses sutras. Ele foi igualmente concedido a todos, incluindo os oitos grupos de seres sensíveis e os quatro tipos de crentes. O Sutra de Lótus, portanto, é comparável a uma régua para traçar linhas retas, ou comparável ao leão, o rei dos animais, que sempre usa a sua máxima força independentemente da força do seu oponente.
Quando o senhor vê todos os sutras no espelho claro do Sutra de Lótus, fica evidente que os três sutras do Buda Dainiti e os três sutras básicos do Jodo são ensinos expostos segundo a capacidade das pessoas. Entretanto, esse fato foi esquecido no passado por mais de quatrocentos anos no Japão porque, por motivos que desconhecemos, os ensinos de Kobo, Jikaku, e Tisho foram amplamente aceitos. É como trocar a pedra preciosa por uma pedra comum ou a madeira de sândalo por uma madeira comum. Como resultado, a confusão no Budismo atirou a sociedade na confusão. O Budismo é como o corpo e a sociedade como a sombra. Quando o corpo de curva, assim o faz a sombra. Quão afortunados são todos os meus crentes que seguem as verdadeiras intenções do Buda e naturalmente fluem no oceano da sabedoria. Os estudiosos budistas de hoje acreditam em ensinos que foram expostos segundo as capacidades das pessoas, e mergulham no mar dos sofrimentos. Explicarei mais numa outra ocasião.
Com meu profundo respeito,
Nitiren
Em 26 de maio de 1280.

Fundo de Cena

Nitiren Daishonin escreveu esta carta no Monte Minobu para Toki Jonin, em Shimousa (atual prefeitura de Chiba), em 1280, um ano após haver inscrito o Dai-Gohonzon. Ele estava com cinquenta e nove anos de idade. Toki era um dos discípulos principais que protegiam Daishonin justamente com Ota Jomyo e Soya Kyoshin, residentes na mesma região e Shijo Kingo, que vivia em Kamakura. Toki e sua esposa receberam trinta outras cartas, incluindo Carta de Sado, O Verdadeiro Objeto de Adoração e Sobre Atingir o Estado de Buda.
Usando o método de perguntas e respostas, Nitiren Daishonin explica a Toki uma passagem no Capítulo Hosshi do Sutra de Lótus, que diz: "o mais difícil de crer e o mais difícil de compreender".
No começo da carta, ele faz referência aos três únicos estudiosos budistas que, na história do Budismo, interpretaram corretamente essa frase: Nagarjuna, na Índia; Tientai, na China; e Dengyo, no Japão.
A seguir, ele explica os dois tipos de ensino: o provisório, que o Buda ensinou segundo a capacidade das pessoas, e o Sutra de Lótus, que ele ensinou segundo a sua própria iluminação, Daishonin afirma que o primeiro é fácil de crer e compreender, enquanto que o último é o mais difícil de crer e compreender. Entretanto, ele adiciona, o Sutra de Lótus é o único ensino através do qual uma pessoa pode remover a escuridão inerente à vida.
Finalmente, Daishonin afirma que, como o povo japonês acreditou nos ensinos desencaminhadores de Kobo e outros bonzos, a confusão reinou no mundo do Budismo e, consequentemente, a sociedade mergulhou em grande dificuldades. Ele enfatiza que o verdadeiro Budismo é a base da paz e prosperidade no país. Ele afirma: "O Budismo é como o corpo e a sociedade como a sombra. Quando o corpo de curva, assim o faz a sombra." Ele conclui que os seguidors de Nitiren Daishonin podem atingir a iluminação porque eles crêem no verdadeiro ensino do Buda, enquanto que intelectuais e outras pessoas que acreditam em ensinos expostos segundo a capacidade do povo somente mergulharão no mar de sofrimentos.

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