Dentre bilhões de páginas na Internet você veio parar aqui, saiba que sua presença neste blog não é mero acaso, certamente você deve ter procurado o site "AS MAIS BELAS HISTORIAS BUDISTAS...." e como ele saiu do ar, por motivos de força maior (???) estou postando o que copiei ao longo desses anos, para não ficarmos sem informações. Copiei exatamente como estava, com os creditos. Espero não estar fazendo nada ilegal, pois o que o Buda ensinou, penso eu, pertence a humanidade.
"Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a se mover
em direção ao seu desejo".
26 de jul. de 2011
Matérias do Exame de Budismo 2011
Edição 515 - Publicado em 16/Julho/2011 - Página 15
Admissão e 1o Grau
Regulamento
1. Realização: Os exames serão realizados em português e por escrito nos seguintes níveis:
a. Exame de Admissão: Participam os membros que não têm grau de estudo do Budismo;
b. Exame de 1º Grau: Participam os membros que são atualmente do 1º Grau no estudo do Budismo.
Observação: Caso o Grau de Estudo do Budismo não esteja corretamente cadastrado na Extranet da BSGI, a pessoa deverá solicitar a retificação aos líderes da RE/RM/Localidade, informando seu código de membro e o ano de aprovação (mesmo que aproximado) para o grau correspondente. O Setor de Estatística da BSGI só aceitará o pedido de retificação se for devidamente avalizado pelo respectivo dirigente da RE/RM/Localidade.
2. Data: 2 de outubro de 2011 (domingo)
3. Horário e duração dos exames em todo o território nacional (não haverá exceções):
a. 1º Grau: das 10h às 11h30 (90 minutos);
b. Admissão: das 10h às 11h (60 minutos).
4. Fuso horário: Os horários acima referem-se à hora local de todas as cidades do Brasil, independentemente da diferença de horário em relação a Brasília.
5. Chegada ao local de exame: Os participantes deverão comparecer ao local uma hora antes do início do respectivo exame para tomar seus lugares (numerados), receber instruções dos examinadores e conferir os dados da Ficha de Exame (veja os itens 11b e 11c a seguir).
6. Atraso: Após o início de cada exame, o atraso permitido será de, no máximo, quinze minutos, e não haverá prorrogação na duração dos exames. Passado o tempo de tolerância, ninguém mais poderá participar dos exames, seja qual for o motivo do atraso.
7. Permanência na sala de exame: Iniciado o exame, cada participante deverá permanecer, no mínimo, a metade do tempo da duração de cada exame:
a. 1º Grau, até as 10h45 (45 minutos), e Admissão, até as 10h30 (30 minutos).
Após esse tempo, os participantes poderão retirar-se da sala em silêncio.
8. Participação nos exames: Poderão se inscrever e participar os membros das Divisões Sênior, Feminina, Masculina de Jovens e Feminina de Jovens, de acordo com os critérios a seguir:
a. Ser membro oficial da BSGI, convertido até 28 de agosto de 2011;
b. Ser participante das reuniões de palestra, de estudo do Budismo e demais atividades;
c. Ser membro assinante do Brasil Seikyo ou da Terceira Civilização (o assinante poderá ser alguém da família);
d. No caso de membros da DMJ ou da DFJ, deverá ter, no mínimo, 14 anos completos até 31 de dezembro de 2011;
e. Os simpatizantes (pessoas não convertidas oficialmente) não poderão participar do Exame;
f. A participação será facultativa aos membros com mais de 65 anos.
9. Inscrição:
a. Todos os membros que se enquadram nos critérios dos itens 1 e 8 mencionados anteriormente deverão efetuar sua inscrição pela Extranet da BSGI até 28 de agosto de 2011;
As inscrições já estão abertas na Extranet da BSGI desde a 2ª quinzena de março. Assim, pede-se efetuar as inscrições com antecedência.
Os candidatos que tiverem dificuldade de acesso à Extranet da BSGI deverão solicitar apoio aos seus dirigentes com antecedência.
10. Aprovação: A lista de aprovados será divulgada por meio da Extranet da BSGI e afixada nas sedes regionais de cada localidade, ou num local de costumeira frequência dos membros (essa lista não será publicada no Brasil Seikyo). Os aprovados serão apresentados em reuniões programadas na Organização e receberão oportunamente o respectivo certificado:
a. Aprovados no Exame de Admissão: Certificado de 1º Grau;
b. Aprovados no Exame de 1º Grau: Certificado de 2º Grau.
11. Outras observações:
a. O exame deverá ser realizado pelos inscritos somente em data, hora e locais de exame oficialmente definidos. Não está autorizada a realização do exame em outros locais, mesmo que a pedido do candidato e seja qual for o motivo;
b. Em princípio, os candidatos inscritos farão o exame no local definido para a sua organização, onde receberão a respectiva Ficha de Exame com seus dados pessoais e da Organização a qual pertence;
c. Os candidatos que estiverem viajando na data do exame poderão participar no local oficial mais próximo, devendo fazer contato prévio com os dirigentes dessa localidade. Nesse caso, recomenda-se que o candidato leve consigo sua Ficha de Exame, retirando-a antecipadamente com seus dirigentes da RE/RM/Localidade;
d. Os candidatos com necessidades especiais deverão solicitar antecipadamente a seus dirigentes a realização do exame eventualmente com a intermediação de algum examinador indicado para tal finalidade, respeitando-se, porém, o item (a) citado anteriormente;
e. Todos os candidatos deverão fazer a prova utilizando somente lápis e borracha (não usar caneta de nenhum tipo para responder às questões).
12. Certificação de Bloco Monarca 2011:
Para fins de certificação de Bloco Monarca 2011 no quesito “70% de participação nos Exames”, define-se o seguinte:
a. Consideram-se aptos a participar do Exame todos os membros do 1º Grau ou sem grau de Estudo do Budismo que constam no cadastro oficial do Bloco, atuantes e não atuantes, convertidos até 28 de agosto de 2011, na faixa etária de 14 anos (a completar até 31 de dezembro de 2011) aos 65 anos.
b. O índice de participação nos Exames será calculado pelo número total de participantes nos dois graus (Exame de Admissão e Exame de 1º Grau) sobre o total de pessoas aptas aos exames conforme item (a) citado anteriormente.
c. No cálculo da porcentagem de 70% de participação no Bloco, admite-se o arredondamento para cima a partir de 66%. Portanto, serão certificados como Bloco Monarca 2011 no quesito “70% de participação nos Exames” se o índice de participação for superior a 66%.
Matérias
ADMISSÃO
ESCRITOS DE NITIREN DAISHONIN
20 - “O Portal do Dragão”
26 - “Carta de Sado”
40 - “Carta aos Irmãos”
PRINCÍPIOS BÁSICOS E PERSONAGENS DO BUDISMO
52 - Nam-myoho-rengue-kyo
56 - Fé, Prática e Estudo
1º GRAU
PRINCÍPIOS BÁSICOS E PERSONAGENS DO BUDISMO
60 - Dez Estados da Vida e Atingir a Iluminação na Presente Existência
70 - Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação e Propagação Mundial do Budismo
ADMISSÃO E 1º GRAU
PRINCÍPIOS BÁSICOS E PERSONAGENS DO BUDISMO
72 - Nitiren Daishonin
A SGI E O KOSSEN-RUFU MUNDIAL
76 - História da Soka Gakkai
84 - História da BSGI: as quatro visitas do presidente Ikeda ao Brasil
92 - Movimento Renascença: a problemática do clero e as heresias da seita Nikken
OBSERVAÇÕES
Para ambos os graus de estudo, deverão ser incluídos também os princípios e as personagens citadas nas demais matérias do Exame.
Para os candidatos ao Exame de 1º Grau, além das matérias apresentadas nesta edição da TC, fazem parte os seguintes escritos de Nitiren Daishonin com as respectivas explanações do presidente Ikeda
(em virtude de sua extensão, essas matérias não foram publicadas aqui):
“O Portal do Dragão”
(Explanação do presidente Ikeda):
TC, edição nº 508, de dezembro de 2010;
“Carta de Sado”
(Trechos da explanação do presidente Ikeda): TC, edição nº 511, de março de 2011; e
“Carta aos Irmãos”
(Trechos da explanação do presidente Ikeda): TC, edição nº 514, de junho de 2011.
Carta de Sado (END, v. 5, p. 13)
Edição 515 - Publicado em 16/Julho/2011 - Página 26
Matérias do Exame de Budismo 2011
Resumo e Cenário Histórico
Esta carta foi escrita no dia 20 de março de 1272, aproximadamente cinco meses após Nitiren Daishonin ter chegado a seu exílio na Ilha de Sado. O Buda Nitiren Daishonin endereçou essa carta a Toki Jonin, samurai e principal serviçal do lorde Tiba, que era o guarda da Província de Shimosa; a Saburo Saemon (Shijo Kingo), em Kamakura; e também a outros fiéis seguidores.
Nitiren Daishonin havia sido banido no dia 10 de outubro de 1271. Ele foi acusado de traição por Ryokan, o reverendo prior do Templo Gokuraku, em Kamakura, e por Hei no Saemon, representante do Departamento de Assuntos Policiais e Militares. Hei no Saemon planejava executá-lo em Tatsunokuti antes de este ser levado para a custódia de Homma Shiguetsura, delegado de Sado.
No entanto, a tentativa de execução falhou e, após o adiamento de quase um mês, os guerreiros de Homma escoltaram Nitiren Daishonin à costa do Mar do Japão. Depois de um atraso devido ao mau tempo, ele finalmente chegou à Ilha de Sado no dia 28 de outubro.
No começo, Nitiren Daishonin teve de ficar num local em ruínas conhecido como Sammai-do, onde viveu exposto ao vento e à neve que penetravam em sua cabana através de buracos no telhado e nas paredes. Após cinco meses, ele pôde se mudar para um local mais apropriado em Itinosawa.
Ali, o Buda Nitiren Daishonin engajou-se em debates contra os reverendos da Terra Pura e de outras escolas e propagou ativamente seus ensinos. Enquanto esteve em Sado, Daishonin compilou dois de seus escritos principais, “Abertura dos Olhos” e “O Objeto de Devoção para Observação da Mente”. Em fevereiro de 1274, ele foi perdoado, retornando a Kamakura no dia 26 de março.
Na Carta de Sado, Nitiren Daishonin declara, inicialmente, que o único caminho para se atingir a iluminação é ter a disposição de doar a própria vida, o tesouro mais precioso de uma pessoa, ao Budismo. Em seguida, ele afirma que o Chakubuku é o método mais apropriado para esta época, e que uma pessoa somente poderá atingir a iluminação dedicando a própria vida a essa prática. Após isso, ele declara ser “o pilar, o sol, a lua, o espelho e os olhos” e também “o pai e a mãe” da nação japonesa.
Estas são referências simbólicas do Buda dos Últimos Dias da Lei, que é perfeitamente dotado das três virtudes de pai, mestre e soberano. O Buda Nitiren Daishonin também menciona suas primeiras profecias feitas na “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação” em relação às disputas políticas e aos conflitos violentos internos.
Na última parte da “Carta de Sado”, Nitiren Daishonin apresenta uma explanação abrangente sobre carma ou destino, declarando que suas dificuldades surgiram pelo fato de ele ter caluniado o Sutra de Lótus numa existência passada. Usando a própria vida como exemplo, Nitiren Daishonin explica a seus discípulos o tipo de espírito e prática que lhes permitirão transformar o carma. E completa dizendo que as pessoas que tentam propagar o correto ensino do Budismo infalivelmente enfrentarão oposições. Na verdade, tais oposições são oportunidades que lhes possibilitarão transformar o carma. Aqueles que abandonaram a fé e fizeram calúnias são advertidos de que suas ações provocarão as piores consequências. Nitiren Daishonin compara a falta de visão dessas pessoas aos vaga-lumes que ridicularizam o Sol.
A seguir, trechos do Gosho e as respectivas explanações do presidente Ikeda.
As coisas mais terríveis deste mundo são o calor do fogo, o brilho das espadas e a sombra da morte. Se até os animais têm medo da morte, não é de surpreender que os seres humanos também tenham. Se mesmo um leproso luta pela vida, imagine uma pessoa saudável.
“As coisas mais terríveis deste mundo são...” Ao iniciar “Carta de Sado” desse modo, Nitiren Daishonin põe em primeiro plano a preocupação que ocupa a mente de todas as pessoas.
Temer a morte e apegar-se à vida é próprio do ser humano. “O calor do fogo” indica os acidentes e os desastres naturais, enquanto “o brilho das espadas” alude à violência da guerra. Nada é mais temeroso para as pessoas que a “sombra da morte”, ou a perspectiva da própria extinção. Isso é certo tanto para os animais como para os seres humanos. Mas, se a vida for reduzida ao temor da morte e ao apego desesperado à existência, como poderemos experimentar a profunda alegria de uma vida plena? Por que nascemos? Qual é o propósito de nossa vida? Por que morremos? Nós só podemos edificar uma vida de profundo significado se contemplarmos seriamente nossa própria existência.
Nitiren Daishonin trata do tema da vida e da morte, neste escrito, para explicar aos seguidores — expostos a enormes sofrimentos e dificuldades — que o Budismo existe para resolver os problemas fundamentais da vida humana. Procura também despertar as pessoas para a ideia de que, não importa a tempestade que venha a açoitá-las, jamais devem perder de vista a fé — a base de tudo.
O Buda ensinou que o ato de cobrir todo um sistema de grandes mundos com os sete tipos de tesouros não se compara a oferecer o dedo menor ao Buda e ao sutra [de Lótus] (Cf. LS, v. 23, p. 285). O garoto Montanhas de Neve1 ofereceu o próprio corpo e o asceta Aspiração à Lei2 removeu a própria pele [para nela gravar os ensinos do Buda]. Como não há nada mais precioso que a própria vida, aquele que a dedica à prática budista, com certeza, atingirá o estado de Buda. Se alguém está disposto a consagrar a vida, por que pouparia qualquer outro tesouro pela causa do Budismo? Em outras palavras, se a pessoa reluta em se desfazer da riqueza, como poderia sacrificar a vida, que é muito mais preciosa?
A que, então, devemos dedicar esta vida insubstituível? Na “Carta de Sado”, Nitiren Daishonin ensina que podemos atingir a iluminação dedicando nossa vida à prática do Budismo. Para ressaltar o profundo significado desta declaração, primeiro ele cita o 23º capítulo do Sutra de Lótus, “Os Feitos do Bodhisattva Rei dos Remédios”. Em seguida, menciona os exemplos do garoto Montanhas de Neve e do asceta Aspiração à Lei — duas figuras que representam o Buda Sakyamuni em existências passadas, quando realizava práticas de bodhisattva — para esclarecer que a dedicação com espírito inabalável é a chave para realizar a prática budista.
O Buda Nitiren Daishonin observa ainda que os que estão dispostos a dar a vida não vacilarão em se desprender de qualquer outro tesouro. É como se, em outras palavras, ele dissesse de forma rigorosa e, ao mesmo tempo, benevolente aos seguidores, que tremiam só de pensar na possibilidade de serem perseguidos e de sofrerem terríveis consequências, como o confisco de terras: “Estas perseguições que estamos enfrentando não seriam uma oportunidade de dedicarmos a vida, sem reservas, para atingirmos o estado de Buda? A que deveríamos temer, uma vez que este é o objetivo da suprema iluminação que está bem diante de nós?”
Essa passagem também transmite um importante espírito que nos brinda lições nos dias atuais. Uma dessas lições, como já disse, é: vivermos apegados a algo não nos conduz à felicidade genuína. O estabelecimento de um propósito fundamental, a disposição de percorrer o caminho correto na vida, não importando as dificuldades que esse desafio possa vincular, é o que nos possibilita experimentar a mais profunda alegria e realização. Se nos deixarmos manipular pelos desejos mundanos e pouparmos a vida no momento crucial, nosso coração definhará e só nos restarão sentimentos como aflição, miséria e arrependimento.
Outra importante lição é que o elevado estado de vida obtido com a prática budista é eterno e transcende nossa existência atual. Dedicando esta preciosa existência ao Budismo, temos a certeza de que experimentaremos imensa felicidade e inúmeros benefícios em todas as futuras existências.
Conseguir enxergar os fatos da perspectiva da eternidade da vida — através do passado, presente e futuro — e também do ponto de vista da felicidade eterna constitui o ponto decisivo para transcender os diversos problemas da vida e da sociedade. À medida que as pessoas, individualmente, adquirem uma perspectiva correta sobre a vida e a morte, elevam o estado de vida da humanidade de forma coletiva. A filosofia que desejar abrir novas possibilidades em benefício da sociedade do século 21 necessitará saber distinguir entre noções superficiais e profundas acerca da vida e da morte. Nós, praticantes do Budismo Nitiren, marchamos na vanguarda nesse sentido. Por isso, avancemos orgulhosos com essa convicção.
Aprendemos que é nosso dever retribuir as dívidas de gratidão que temos com os outros, mesmo ao custo de nossa vida. Muitos guerreiros sacrificam a vida por seu lorde; talvez muito mais do que imaginamos. Um homem morre para defender a honra e uma mulher morre por seu marido. Os peixes lutam para sobreviver, lamentam pela pouca profundidade do lago onde vivem e cavam buracos no fundo para se esconder; porém, enganados pela isca, são fisgados. Os pássaros, temendo que as árvores em que vivem sejam muito baixas, escolhem os galhos mais altos para se proteger, mas, enganados pela isca, eles também são apanhados em armadilhas. Os seres humanos são igualmente vulneráveis. As pessoas geralmente se sacrificam por assuntos seculares insignificantes, mas raramente fazem o mesmo pelos preciosos ensinos do Buda. Assim, não é de surpreender que não atinjam a iluminação.
Num dos trechos anteriores, observando que é comum as pessoas perderem a vida em acidentes ou em conflitos armados — mencionados como “o calor do fogo” ou “o brilho das espadas” —, Nitiren Daishonin nos lembra que as pessoas se apegam à própria vida como se apegam a um tesouro.
Nessa passagem, também destaca que há vários exemplos de pessoas que dão a vida de acordo com as convenções e os valores morais da sociedade.
Do mesmo modo, há inúmeros casos de indivíduos que, iludidos, sacrificam a vida da maneira mais insensata, acreditando que estão se protegendo do perigo.
A conduta dos peixes e das aves descrita nessa parte da carta baseia-se na sabedoria dos antigos pensadores, documentada em obras como Fundamentos do Governo na Era Chen-Kuan (Zhenguan Zhengyao), um clássico chinês sobre a arte da liderança.
“Enganados pela isca” é uma metáfora que mostra como os seres humanos — mesmo adotando diversas medidas e precauções para se manter a salvo — são manipulados pelos desejos imediatos ou cometem erros de julgamento em razão da forma estreita de pensar, o que resulta na própria destruição.
É triste que essa insensatez humana continue frequente ainda hoje.
Por essa razão, Nitiren Daishonin aconselha que, em vez de dar a vida — o bem mais valioso que temos — por questões mundanas e superficiais, devemos nos dedicar aos “preciosos ensinos do Buda”.
Apesar de falarmos em “não poupar a própria vida”, o Budismo Nitiren não é, de modo algum, um ensino que promove o martírio ou o autossacrifício. Makiguti, Toda e eu — os três primeiros presidentes da Soka Gakkai — nos dedicamos com a determinação de impulsionar o Kossen-rufu de forma que nenhum membro fosse sacrificado, e com a disposição de dar o melhor de si para esse fim. Esse espírito dos sucessivos presidentes deverá ser mantido na Soka Gakkai para sempre.
Não desperdicem, de modo algum, a preciosa vida dos senhores. Aos jovens, eu digo: “Por mais difíceis que sejam as circunstâncias em que se encontrem, jamais lamentem ou prejudiquem a vida de vocês nem a dos outros. Cada um de vocês é dotado da maravilhosa e suprema natureza de Buda”.
Em termos específicos, como deveríamos praticar para dedicar essa inestimável vida aos “preciosos ensinos do Buda”? No escrito “O Presente de Arroz”, Nitiren Daishonin
diz sobre a consecução do estado de Buda pelas pessoas comuns nos Últimos Dias da Lei: “A respeito da iluminação, os mortais comuns se tornarão budas se mantiverem uma determinação firme e sincera” (WND,
v. 1, p. 1125). Essas palavras, da maneira mais sublime e elevada, expressam a postura de “não poupar a própria vida”. O Buda Nitiren Daishonin declara, de maneira enfática, que as pessoas comuns dessa época, sem ter de sacrificar a vida como o garoto Montanhas de Neve e por meio da “determinação firme e sincera”, podem obter o mesmo benefício resultante da dedicação abnegada.
Como afirma Nitiren Daishonin, o que importa é o coração. É uma questão de empreender milhões de kalpa de esforços num único momento da vida em prol do Budismo e pela nobre causa do Kossen-rufu. Para nós, não poupar a vida significa recitar constantemente o Nam-myoho-rengue-kyo, sem nenhum temor, e nos dedicarmos de corpo e alma para comprovar a fé — pelo bem do mundo, do futuro e de todas as pessoas.
De acordo com a época [ou o tempo], o Budismo deve ser propagado pelos métodos Shoju ou Chakubuku. Esses métodos são comparáveis às artes literária e marcial (END, v. 5, p. 15).
Nesta passagem, Nitiren Daishonin esclarece a prática budista apropriada para os Últimos Dias da Lei. Shoju refere-se a explicar a Lei com base na capacidade de cada pessoa. Chakubuku significa ensinar às pessoas o princípio supremo do Nam-myoho-rengue-kyo.
O Buda Nitiren Daishonin diz que o método escolhido pela pessoa para a propagação deve-se adequar à época ou ao tempo. A definição do método adequado para um período particular só é possível por meio de uma compreensão essencial do que as pessoas e a época requerem. Os sutras budistas, de modo geral, dividem o tempo após a morte do Buda em três períodos: Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei. Em “A Seleção do Tempo”, Nitiren Daishonin diz: “Tomemos emprestado os olhos do Buda para avaliar a questão do tempo e da capacidade [das pessoas]” (WND, v. 1, p. 540). Para determinar a época e escolher o método correto e apropriado de propagação, precisamos observar os fatos pelas lentes precisas e perspicazes da sabedoria do
Buda.
Numa das explanações sobre a “Carta de Sado”, Jossei Toda analisou a frase: “De acordo com a época [ou o tempo], o Budismo deve ser propagado pelos métodos Shoju ou Chakubuku”. Nessa ocasião, ele disse: “Não devemos interpretar mal o significado da palavra ‘tempo’. Nitiren Daishonin nos ensina que devemos empregar os métodos Shoju ou Chakubuku conforme o tempo. Porém, muitos interpretam essa frase de modo equivocado, acreditando que cada um possa decidir de maneira arbitrária e por si só qual método deverá ser usado em determinado momento. Por exemplo, há os que pensam: ‘Já que a sociedade critica de forma tão dura os ensinos budistas, devemos empregar o Shoju’, ou ‘Como todos estão de acordo e não fazem objeções, então, devemos aplicar o Chakubuku’. No entanto, essa interpretação é incorreta. O ‘tempo’, nessa frase, refere-se aos Primeiros, aos Médios e aos Últimos Dias da Lei [...], e os Últimos Dias da Lei são a época para aplicar apenas o Chakubuku” (TODA, Jossei.
Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Jossei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1986, v. 6, p. 541-542).
Sempre e onde quer que realizemos nossas atividades, jamais devemos nos esquecer de nos inspirar no espírito do Chakubuku, ou seja, compartilhar o Nam-myoho-rengue-kyo com as pessoas. Assim se comportam os genuínos discípulos dos grandes mestres do Chakubuku.
(...)
Chakubuku significa denunciar o errôneo no mundo do Budismo com o coração de um rei leão e revelar o ensino correto. Nitiren Daishonin declara que, enquanto possuirmos esse corajoso espírito, mesmo uma palavra ou frase do ensino correto nos conferirá o benefício de manifestar o estado de Buda. Contudo, sem essa postura essencial, ou seja, sem o espírito de Chakubuku baseado no sentimento de prezar a Lei, é impossível alcançar o estado de Buda, ainda que estudemos mil sutras ou dez mil tratados.
O escritor britânico Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) disse: “Mártir é um homem que se preocupa tanto com alguma coisa fora dele que se esquece de sua vida pessoal” (CHESTERTON, Gilbert Keith, Orthodoxy [Ortodoxia]. Nova York: Dodd, Mead and Company, 1949. p. 133). De nosso ponto de vista, “alguma coisa fora de nós” poderia se referir a valores como a Lei Mística ou nossos mestres da fé, nossos companheiros e entes queridos, a humanidade, a Soka Gakkai e o Kossen-rufu. “Esquecermo-nos de nossa vida pessoal” seria algo semelhante a “não poupar a própria vida”, ou ao espírito de “prezar a Lei mais que a própria vida” [Paráfrase de uma passagem de Comentários sobre o Sutra do Nirvana, de Chang-an: “Nosso corpo é insignificante, mas a Lei é suprema” (WND, v. 1, p. 1021)]. Numa de suas explanações, Toda Sensei analisou o conceito de “não poupar a vida”, que consta no Sutra de Lótus (Cf. LS, v. 16, p. 230), dizendo: “Sem essa atitude altruísta, não poderíamos recitar Daimoku. [...] Tenho certeza de que ninguém nunca elogiou ou felicitou os senhores por propagarem esse Budismo. Se não tivéssemos essa atitude abnegada de não poupar a vida, não poderíamos continuar com nossos esforços pelo Kossen-rufu. Se um insulto ou uma reação violenta bastarem para nos desanimar, então, seria melhor nem nos darmos ao trabalho de falar sobre o Budismo para as pessoas” (TODA, Jossei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Jossei Toda]. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1985, v. 5, p. 415).
Esta era a extraordinária coragem de Jossei Toda, grande líder e grande mestre do Chakubuku. Desde o início de nosso movimento, os membros têm avançado com coragem e perseverança infatigável, dispostos a compartilhar a Lei Mística com os
semelhantes, tal como Toda Sensei ensinou.
Os grandes sábios da antiguidade praticaram os ensinos budistas de acordo com a época. O garoto Montanhas de Neve e o príncipe Sattva sacrificaram a vida quando lhes disseram que, em troca, poderiam ouvir os ensinos e que doar a própria vida se constitui na prática de Bodhisattva. No entanto, por que alguém deveria sacrificar a vida quando isso não é necessário? Numa época em que não há papel, a pessoa deve usar a própria pele. Numa época em que não há pincel, a pessoa deve usar os próprios ossos. Numa época em que as pessoas louvam aqueles que observam os preceitos e os praticantes do ensino correto, ao mesmo tempo em que denunciam aqueles que violam ou ignoram os preceitos, elas devem seguir rigorosamente os preceitos.
Numa época em que o confucionismo ou o taoísmo são empregados para reprimir os ensinos de Sakyamuni, a pessoa deve arriscar a vida para advertir o imperador, assim como fizeram os mestres do Darma Taoan, Huiyüan e o Mestre Tripitaka Fatao.
Numa época em que as pessoas confundem os ensinos Hinayana com o Mahayana, os ensinos provisórios com o verdadeiro ou as doutrinas exotéricas com as esotéricas, como se fossem incapazes de distinguir as pedras preciosas dos pedregulhos ou o leite de vaca do leite de mula, devemos mostrar firmemente essas diferenças, seguindo o exemplo dos grandes mestres Tient’ai3 e Dengyo4 (END, v. 5, p. 15 e 16).
No passado, grandes sábios ou Bodhisattvas foram capazes de atingir o estado de Buda praticando de acordo com a época, algo ao qual o Budismo atribui extrema importância.
Mesmo antes do surgimento de Sakyamuni e do budismo como sistema formal de pensamento, observamos que diversos praticantes altruístas e respeitados mestres, como os mencionados nesse trecho, davam a vida para ouvir a verdade suprema que os
conduziria à iluminação. Porém, quando os ensinos do Buda atingem ampla aceitação na sociedade, qualquer que seja a época, os praticantes dessas doutrinas têm a responsabilidade de dar bom exemplo na fé para que muitos outros também as pratiquem corretamente. Em contrapartida, numa época em que o governante reprime e contesta o Budismo, os praticantes devem resistir ao poder e advertir essa pessoa ao custo da própria vida. É uma época em que os ensinos budistas são distorcidos e as pessoas ficam confusas a respeito do que seja ou não correto. Portanto, é imperativo esclarecer a superioridade relativa das distintas correntes budistas. Que tipo de época, então, é a atual? Como dissemos, o Budismo só pode ser transmitido por meio da compreensão correta da prática apropriada para esse período.
Nesse trecho, em que Nitiren Daishonin se refere aos “grandes sábios da antiguidade”, as pessoas que conseguem reconhecer a época e adotar as ações necessárias são chamadas, no Budismo, de “sábias”. O que essas pessoas que buscaram o Caminho no passado e os mestres budistas têm em comum é a postura de proteger a Lei, o espírito de prezar o ensino correto do Buda e o comprometimento com as demais pessoas. Se elas conseguiram compreender claramente isso foi porque não pouparam a própria vida. Um requisito essencial que os mestres ou líderes budistas devem ter é a capacidade de compreender a época e de propagar o ensino conforme o tempo. A Soka Gakkai obteve um grande desenvolvimento porque a liderança de seus presidentes, Makiguti e Toda, sempre se adequou à época. E eu, como terceiro presidente, sem deixar que meu diálogo interior com o mestre Toda se interrompesse, orei e orei, incansavelmente, para abrir o caminho do Kossen-rufu de forma que se ajustasse à época. Eis a razão do êxito de nosso movimento.
Em abril de 1980, depois de concluir minha quinta visita à China, voei direto de Xangai a Nagasaki para empreender uma viagem de orientação por toda a Kyushu. Esta foi a primeira viagem de orientação a uma localidade do Japão desde que, no ano anterior [1979], havia sido obrigado a deixar a presidência da Soka Gakkai. De Nagasaki parti para Fukuoka. Ali, clamei a meus amados discípulos de Kyushu, profundamente comprometidos e decididos a se empenhar comigo na luta pelo Kossen-rufu: “Não permitam que o estandarte da propagação tombe! Não deixem que a chama da fé se apague!” De Kyushu — região que havia sofrido tanto por causa dos problemas ocasionados pelo clero —, lancei uma poderosa contraofensiva, decidido a manter vivo o espírito da dedicação abnegada ao Kossen-rufu, característica do Budismo Nitiren. Com a consciência de que este era o momento crucial para assentar as bases da eterna vitória da Soka Gakkai, os membros de Kyushu se levantaram comigo. Quando os discípulos seguem o mestre e empreendem com ele uma campanha pelo Kossen-rufu apropriada para a época, a vitória está assegurada. Nossos companheiros de Kyushu têm escrito uma história de triunfo como esta.
A época atual é o momento de nossos sucessores da Divisão dos Jovens perpetuarem esse importante espírito Soka de mestre e discípulo, e assegurarem-se de que esse compromisso seja transmitido pelo eterno futuro.
Aquele que escala uma montanha, mais cedo ou mais tarde, terá de descê-la. Aquele que despreza o outro será desprezado. Aquele que desdenha o outro por sua bela aparência, nascerá com uma aparência feia. Aquele que rouba alimentos e roupas cairá infalivelmente no mundo dos espíritos famintos. Aquele que ridiculariza uma pessoa digna que observa os preceitos nascerá em uma família pobre e de posição inferior. Aquele que calunia uma família que abraça o ensino correto nascerá numa família que mantém visões errôneas. Aquele que ridiculariza o que mantém fielmente os preceitos nascerá como uma pessoa comum e será perseguido pelo soberano de sua nação. Esta é a lei geral de causa e efeito (END, v. 5, p. 25 e 26).
“Aquele que escala uma montanha, mais cedo ou mais tarde terá de descê-la...” — por meio de um raciocínio que todos podem compreender, Nitiren Daishonin delineia o princípio budista convencional sobre a retribuição cármica.
A palavra “carma” deriva do antigo conceito indiano, anterior ao Budismo, que significa “ação”. Na Índia antiga, acreditava-se que para se libertar do sofrimento ocasionado pelo carma negativo era necessário praticar ações especiais; por exemplo, rituais presididos por sacerdotes em nome dos seguidores, que, nesse caso, se limitavam a esperar que os deuses lhes concedessem a salvação.
Em contrapartida, o Budismo rejeitou o pensamento de que o destino era determinado por uma divindade ou ser transcendental ao ser humano. É uma filosofia voltada para o interior do indivíduo, segundo a qual a iluminação provém da própria vida. Nesse sentido, o Budismo afirma que cada pessoa é arquiteta do próprio destino. Nossa vida atual é resultado de nossas ações e escolhas do passado.
Nosso futuro será determinado pelo que fizermos no presente — seja pelo acúmulo de “bom carma”, seja pelo acúmulo de “mau carma”.
Este foi justamente um dos tópicos de meu diálogo com o historiador britânico Arnold Toynbee (1889-1975). Na opinião do Dr. Toynbee, temos a liberdade de melhorar nosso destino em qualquer momento, aqui mesmo e neste instante. Tal como ele afirmou, o Budismo é uma filosofia que concede importância primordial a nossas ações e disposição interior.
As ideias budistas convencionais sobre a retribuição cármica, segundo as quais nossos efeitos negativos do presente são o resultado de nossas más causas anteriores, e os efeitos positivos são o produto das boas causas realizadas no passado, na realidade, não constituem um princípio de transformação cármica. Isso porque, para se erradicar todas as causas cometidas no passado, uma a uma, seria preciso um tempo inconcebivelmente longo.
Na “Carta de Sado”, Nitiren Daishonin salienta que essa visão sobre a retribuição cármica se baseia na “lei geral de causa e efeito”. De modo implícito, ele diz que seu budismo não se baseia nessa causalidade geral.
No entanto, meus sofrimentos não se atribuem a essa lei causal. No passado, desprezei os devotos do Sutra de Lótus. Ridicularizei também o próprio sutra, algumas vezes com louvor exagerado, outras, com desdém — esse sutra que é tão maravilhoso quanto duas luas brilhando uma ao lado da outra, duas estrelas juntas, um Monte Hua sobre outro ou duas joias unidas. É por isso que enfrentei os oito tipos de sofrimentos mencionados. Normalmente, esses sofrimentos aparecem um de cada vez ao longo do infinito futuro. Porém, Nitiren denunciou os inimigos do Sutra de Lótus de maneira tão voraz que todos os oito sofrimentos apareceram de uma só vez. Isso se assemelha ao caso do camponês que tem enorme dívida com o lorde de seu vilarejo e outras autoridades. Enquanto o camponês permanecer no vilarejo ou no distrito, em vez de pressioná-lo impiedosamente, seus credores talvez prolonguem o pagamento ano após ano. Entretanto, se o camponês tentar ir embora, eles o cercarão e exigirão que ele pague tudo de uma vez. É o que o sutra quer dizer com a seguinte frase: “Isso ocorre graças aos benefícios obtidos por proteger a Lei” (END, v. 5, p. 26 e 27).
Nitiren Daishonin revela nesse trecho uma causalidade muito mais profunda ou essencial. Ele explica que a razão pela qual tem suportado os oito tipos de retribuição cármica não se deve à lei geral de causa e efeito como ele descreveu. Ele atribui o motivo às ações contra a Lei praticadas no passado, por exemplo, o ato de aviltar os devotos do Sutra de Lótus, o rei dos sutras, um ensino tão maravilhoso “quanto duas luas brilhando uma ao lado da outra, duas estrelas juntas, um Monte Hua sobre outro ou duas joias unidas”. Em decorrência desse carma negativo fundamental formado por meio de ações contra os que mantinham o supremo ensino, Nitiren Daishonin teve de experimentar os oito tipos de retribuição. Ele esclarece que, na raiz de todas as causas negativas, que fazem os seres humanos sofrer, estão os atos contra a Lei [que, no sentido amplo, incluem a calúnia e a recusa à Lei fundamental da vida e do universo].
Por fim, é possível nos libertarmos de nosso carma negativo e acumular um carma fundamentalmente positivo em nossa vida por meio da dedicação como devotos do Sutra de Lótus de enfrentarmos os adversários do Sutra e de propagar a Lei Mística.
O que Daishonin explica nessa passagem é a “causalidade para atingir o estado de Buda”, que implica eliminar o mal fundamental e manifestar com vigor o estado de Buda — a nona consciência — que existe na essência da vida. Esta é a “causalidade da Lei Mística”, implícita no Sutra de Lótus; ou seja, no Nam-myoho-rengue-kyo.
Mesmo que neste momento estejamos sofrendo em consequência de alguma retribuição cármica, se nos basearmos na causalidade da Lei Mística, poderemos manifestar imediatamente o vasto estado de vida de Buda. Isso quer dizer que só podemos transformar realmente nosso carma por meio da Lei Mística da simultaneidade de causa e efeito. A Lei Mística nos possibilita realizar uma transformação interior com base no princípio de que os nove mundos e o mundo do estado de Buda são inerentes e indivisíveis; ou seja, os nove mundos possuem o potencial do estado de Buda, enquanto esse último conserva o potencial dos nove mundos.
Em contraste, a causalidade geral dos ensinos pré-Sutra de Lótus opera com base no princípio da não simultaneidade de causa e efeito. Como a eliminação de incontáveis faltas cometidas em existências passadas levaria um tempo inconcebível, a transformação do carma nesta existência acabaria sendo algo impossível.
Nitiren Daishonin afirma, ressaltando a diferença entre estas duas ideias de lei causal: “Normalmente, esses sofrimentos aparecem um de cada vez ao longo do infinito futuro. Porém, Nitiren denunciou os inimigos do Sutra de Lótus de maneira tão voraz
que todos os oito sofrimentos apareceram de uma só vez”. Nessa frase, Nitiren Daishonin esclarece o tipo de prática budista que nos possibilita realizar causas positivas fundamentais. Essa prática não é outra senão o Chakubuku — a refutação do errôneo e a revelação do verdadeiro — especificamente expressa como “denunciar os inimigos do Sutra de Lótus”, um ato que incorpora a causalidade da Lei Mística e que nos permite transformar o carma.
“Assim como Nitiren.” — Quando nos munimos da “coragem de um leão”, praticamos com a mesma postura que Nitiren Daishonin e nos empenhamos intrepidamente para propagar o ensino correto, manifestamos de nosso interior um estado de Buda idêntico ao que foi manifestado por ele.
“Graças aos benefícios obtidos por proteger a Lei [as pessoas podem amenizar, nesta existência, os sofrimentos e a retribuição]”, afirma o sutra Parinirvana. Isso significa que podemos transformar nosso carma, agindo como reis leões, exatamente como fez Nitiren Daishonin, e nos dedicando sinceramente para proteger a Lei. De que forma podemos fazer isso? Denunciando quem ataca o ensino correto; ou seja, refutando o errôneo e proclamando o verdadeiro. Como resultado desse ato de coragem,
todas as nossas retribuições cármicas se desvanecem “instantaneamente”, assegura-nos Daishonin. Podemos também estabelecer em nossa vida a condição iluminada do estado de Buda. Para nós, os “benefícios obtidos por proteger a Lei” referem-se aos que conseguimos por meio da luta em prol do Kossen-rufu junto com nosso mestre.
1. Garoto Montanhas de Neve: Nome do Buda Sakyamuni numa de suas existências passadas, quando realizava a prática de Bodhisattva.
A divindade Shakra, decidida a testar a determinação do menino, aparece diante dele sob a forma de um demônio faminto. Depois de ouvir a primeira parte de um ensino budista recitado pelo demônio, o menino lhe suplica que revele a outra metade. O demônio aceita, porém, exige em troca a carne e o sangue dele. Montanhas de Neve promete, de bom gosto, oferecer o corpo ao demônio, que então lê para ele a segunda metade do ensino. Quando o garoto está prestes a cumprir o prometido, o demônio recobra a forma anterior, revelando-se como Shakra. A divindade elogia a atitude de Montanhas de Neve de não poupar a própria vida em prol da Lei.
2. Asceta Aspiração à Lei: Nome de Sakyamuni numa de suas existências passadas. Um demônio disfarçado de brâmane apresenta-se a ele e diz que lhe ensinará uma estrofe de um ensino budista se ele se dispuser a transcrevê-la usando a própria pele como papel, um dos ossos como pena e o sangue como tinta. Quando Aspiração à Lei aceita de bom grado e se prepara para escrever o ensino budista, o demônio desaparece. No lugar deste, surge um buda e transmite-lhe um profundo ensino.
3. Tient’ai (538-597): Também conhecido como Chih-i e Grande Mestre Tient’ai. Fundador da escola budista chinesa Tient’ai. Suas explanações foram compiladas em obras como Profundo Significado do Sutra de Lótus, Grande Concentração e Discernimento, e Palavras e Frases do Sutra de Lótus. Tient’ai refutou as demais escolas budistas da China e propagou o Sutra de Lótus. Classificou os sutras de Sakyamuni em cinco períodos e oito ensinos, comprovando a supremacia do Sutra de Lótus. Na obra Grande Concentração e Discernimento, Tient’ai estabeleceu o princípio teórico dos três mil mundos num único momento da vida (Itinen Sanzen).
4. Dengyo (767-822): Também conhecido como Saityo e Grande Mestre Dengyo. Fundador da escola Tendai (Tient’ai) no Japão. Em 804, partiu para a China para estudar as doutrinas de Tient’ai. Retornando no ano seguinte, fundou a escola Tendai. O termo Tendai é a forma japonesa de pronunciar a palavra chinesa Tient’ai. Refutou os erros das seis escolas de Nara — as escolas budistas estabelecidas nessa época —, proclamou a validez do Sutra de Lótus e se dedicou a fundar o centro de ordenação do Mahayana no Monte Hiei.
Carta aos Irmãos (WND, v. 1, p. 493)
Edição 515 - Publicado em 16/Julho/2011 - Página 40
Matérias do Exame de Budismo 2011
Resumo e Cenário Histórico
Os dois irmãos para quem Nitiren Daishonin endereçou esta carta eram os filhos de Ikegami Saemon no Tayu Yasumitsu, que ocupava um posto importante no Ministério de Construção e Reparos do governo de Kamakura. O irmão mais velho, Munenaka (Ikegami Uemon no Tayu Munenaka; m. 1293), provavelmente converteu-se ao Budismo Nitiren em 1256, e o irmão mais novo, Munenaga (Ikegami Hyoe no Sakan Munenaga; m. 1283), converteu-se pouco depois.
O pai, Yasumitsu, era leal seguidor de Ryokan, o prior do Templo Gokuraku, da escola Preceitos-Verdadeira Palavra, e opôs-se veementemente à fé dos filhos por mais de vinte anos. Ele chegou até a deserdar o filho mais velho em duas ocasiões, em 1275 e 1277. A primogenitura, o direito do filho mais velho de herdar a riqueza e o prestígio social da família, era fundamental na sociedade japonesa. O indivíduo praticamente inexistia fora do contexto familiar. E séculos de rivalidade dentro da família, possessão de feudos e até assassinatos atestavam a importância de a pessoa se tornar o primeiro na linhagem de hereditariedade. Existiam medidas sociais e econômicas totalmente inflexíveis contra pessoas deserdadas.
Ao deserdar Munenaka, o objetivo do pai era provocar a rivalidade entre os filhos, instigando Munenaga a trocar sua crença pelo direto às posses de seu pai. Nitiren Daishonin enviou cartas de encorajamento aos irmãos e às suas esposas, pedindo-lhes que se unissem na fé. Em 1278, os irmãos finalmente conseguiram converter o pai aos ensinos do Buda Nitiren Daishonin.
Quatro anos depois, quando a saúde de Nitiren Daishonin começou a enfraquecer, ele partiu para as termas de Hitachi, atendendo aos insistentes conselhos de seus discípulos. No entanto, sentindo que a morte era iminente, em vez de continuar a seguir para as termas, rumou para a residência de Munenaka, em Ikegami, localizada na atual Tóquio. Nesse local, após tomar medidas para assegurar a continuidade de seus ensinos, ele faleceu no dia 13 de outubro de 1282.
Esse escrito, “Carta aos Irmãos”, menciona três maneiras pelas quais os obstáculos devem ser considerados à luz do Budismo, como: (1) oportunidade para manifestar forte fé a fim de se libertar do carma negativo criado no passado; (2) exemplo de maus amigos que tentam obstruir a prática das pessoas; e (3) exemplo da função negativa do Rei Demônio do Sexto Céu que se apossa dos pais ou de outros para destruir sua fé.
A seguir, trechos do Gosho e as respectivas explanações do presidente Ikeda.
O Sutra de Lótus é o coração dos oitenta mil ensinos e a essência das doze divisões das escrituras. Os budas de todas as três existências atingem a iluminação porque tomam esse sutra como mestre. Os budas das dez direções conduzem os seres vivos empregando o ensino do veículo único [o Sutra de Lótus] como seus olhos.
A carta é dirigida aos irmãos Munenaka e Munenaga Ikegami. Não se sabe com exatidão quando se converteram ao ensino de Nitiren Daishonin, mas, no geral, são considerados entre os primeiros discípulos do Buda. Os irmãos pertenciam ao clã Ikegami, proeminente família de samurais que se dedicava, como empreiteira, à construção de importantes obras públicas a pedido do governo. O pai, Yasumitsu Ikegami, opunha-se à fé dos filhos e, por essa razão, havia deserdado o mais velho, Munenaka.
Na sociedade feudal e na classe dos samurais da época, ser deserdado era uma sanção de extrema gravidade. Não apenas significava a perda dos direitos de sucessão, mas também da posição social e do sustento econômico. Além do mais, nesse caso em particular, como somente o filho mais velho havia sido deserdado, para o mais novo isso representava a oportunidade de ocupar o lugar e herdar ao pai, caso aceitasse abandonar a fé. Estava claro que se tratava de uma tática astuta do pai para enfraquecer a fé e a determinação do filho caçula.
Nitiren Daishonin escreveu esta carta em resposta à notícia de que Munenaka fora deserdado. Nas páginas deste escrito, ensina aos irmãos Ikegami que os obstáculos que tinham diante deles eram consequência inevitável da firme fé no Sutra de Lótus, e que o caminho para atingir o estado de Buda só poderia ser encontrado na luta contra as funções da maldade, de acordo com o Sutra.
Nos parágrafos iniciais, Nitiren Daishonin ressalta a superioridade do Sutra de Lótus sobre todos os demais ensinos do Buda Sakyamuni. O Sutra de Lótus, explica, é o “coração” do enorme conjunto de sutras conhecido como os “oitenta mil ensinos” e a “essência” dos ensinos do Buda referidos como as “doze divisões das escrituras”. Ele ainda diz que não apenas todos os budas através do tempo e do espaço atingem a iluminação, adotando esse sutra como mestre, mas também guiam os seres vivos a esse objetivo, expondo o ensino do Sutra de Lótus.
Podemos deduzir que Daishonin começa a esclarecer o significado da fé desse modo em virtude da gravidade da situação em que os irmãos se encontravam. Ensina que a convicção para superar qualquer adversidade deriva da convicção e da alegria que
uma pessoa sente quando reconhece profundamente o valor supremo de praticar o Sutra de Lótus.
O Buda Nitiren Daishonin prossegue analisando diversos pontos de vista das graves consequências de abandonar a fé no Sutra de Lótus. A razão de o abandono a esse ensino ser uma grave falta é que “o Sutra de Lótus representa os olhos de todos os budas.
É o verdadeiro mestre do Buda Sakyamuni, o lorde dos ensinos”. Em outras palavras, abandonar a fé é descartar o ensino supremo.
Num nível mais profundo, abandonar o Sutra de Lótus equivale a contestar os princípios fundamentais que o Sutra incorpora, como a iluminação universal, o respeito a todas as pessoas e a convivência harmoniosa. Quando nos comportamos dessa forma, intensificamos em nossa vida os três venenos — avareza, ira e estupidez —, ações contrárias à Lei suprema, e somos facilmente dominados pela escuridão e destinados a transitar pelos estados inferiores da existência.
Nitiren Daishonin procura conscientizar os irmãos Ikegami da importância da fé absoluta no Sutra de Lótus, explicando-lhes que seria uma gravíssima ofensa desprezar “uma palavra ou mesmo um traço do sutra”. Nessa admoestação, sentimos a imensa benevolência do Buda. Por todos os meios possíveis, Daishonin procura convencer os irmãos a jamais pensar em abandonar a fé naquele momento decisivo para a vida deles.
Além disso, é extremamente difícil encontrar uma pessoa que exponha esse sutra exatamente como ele ensina. Isso é ainda mais difícil que uma tartaruga de um único olho encontrar um pedaço de madeira de sândalo flutuando,1 ou alguém suspender o Monte Sumeru com um fio do caule de um lótus2 (WND, v. 1, p. 495).
Ao analisar o significado do ensino do Sutra de Lótus, ou da Lei, Nitiren Daishonin focaliza a importância das pessoas que expõem e praticam esse sutra.
Mesmo o ensino mais sublime será em vão se não houver quem o aplique na vida. Isso está expresso na declaração de Nitiren Daishonin: “A Lei não se propaga por si só. Por ser propagada pelas pessoas, tanto as pessoas como a Lei são dignas de respeito” (Hyaku Rokka Sho [As Cento e Seis Comparações]. Gosho Zenshu, p. 856).
É extremamente raro encontrar alguém “que exponha esse sutra exatamente como ele ensina”. Daishonin explica que encontrar um mestre assim é ainda mais difícil que realizar um feito impossível, como “uma tartaruga de um único olho encontrar um
pedaço de madeira de sândalo flutuando”, ou alguém que consiga “suspender o Monte Sumeru com um fio do caule de lótus”.
A pessoa ou o mestre mencionado aqui é o devoto do Sutra de Lótus e, especificamente, refere-se a Nitiren Daishonin. É algo realmente extraordinário encontrar o Buda Nitiren Daishonin neste mundo saha, nesta era obscura conhecida como Últimos Dias,
contaminada pelas cinco impurezas.
Do mesmo modo, é difícil que as pessoas da era posterior à morte de Daishonin encontrem um autêntico líder budista que propague a Lei Mística, a essência do Sutra de Lótus, exatamente como Nitiren Daishonin ensina. Para mim, não há maior alegria do que ter nascido neste mundo, encontrado o Sr. Toda — o grande mestre do Kossen-rufu — e o adotado como mestre. Quando conheci o Sr. Toda, soube instintivamente que podia confiar nele. Meu mestre foi a razão de eu ter iniciado a prática do Budismo Nitiren.
Numa das cartas que troquei com o famoso romancista e poeta japonês Yasushi Inoue (1907–1991), escrevi: “A primeira pessoa que me falou sobre o Budismo foi Jossei Toda. A fé não veio primeiro, mas sim meu encontro com ele” (Cf. IKEDA, Daisaku; INOUE, Yasushi. Letters of Four Seasons [Carta das Quatro Estações]. Tradução de Richard L. Gage. Tóquio: Kodansha International, 1989. p. 35). O Sr. Inoue escreveu o seguinte em resposta a uma carta na qual descrevi o encontro com o Sr. Toda e o impacto decisivo que ele teve em minha vida: “Fiquei muito comovido ao ler sua carta. (...) É muito raro as pessoas terem a oportunidade de encontrar alguém do calibre do Sr. Toda, de conhecer alguém cujas ideias coincidam com as próprias, ou de demonstrar tal devoção a um indivíduo para abrir desse modo o caminho da própria vida, e ainda amar e respeitar para sempre essa pessoa” (Ibidem, p. 44).
Que tesouro precioso é a relação de mestre e discípulo! Do ponto de vista do Budismo, é um laço de suprema nobreza. Se não fosse pelo mestre Tsunessaburo Makiguti e por seu discípulo Jossei Toda — os dois primeiros presidentes da Soka Gakkai —, o renascimento do Budismo Nitiren na era moderna jamais teria ocorrido.
Eis por que a Lei, ou o ensino do Buda, vive apenas na vida dos que a praticam, e seu verdadeiro valor só se manifesta na conduta e nas ações do praticante. Se não houver pessoas que pratiquem corretamente o ensino do Buda, ou que sejam fiéis ao espírito do fundador, nenhum valor será criado por esse ensino.
Ter um mestre na fé é condição vital para se praticar corretamente. Além disso, a Lei se transmite quando os discípulos atuam com o mesmo espírito que o mestre. A relação de mestre e discípulo é a base do Budismo Nitiren.
Nossa rede da SGI está atualmente presente no mundo inteiro. Milhões de membros, transcendendo diferenças de idiomas e etnias, concentram esforços para expor “esse sutra exatamente como ele ensina”. Manter e transmitir a nobre herança de mestre e discípulo, e avançar junto com a Soka Gakkai, é edificar uma vida realmente sublime e significativa. Todos os que assim fizerem merecerão o supremo louvor de Nitiren Daishonin.
Sendo assim, os seguidores do Sutra de Lótus devem temer aqueles que tentam obstruir sua prática mais do que aos bandidos, arrombadores, assaltantes noturnos, tigres, lobos ou leões — mais até que a invasão dos mongóis.
A quem nós, praticantes do Sutra Lótus, realmente deveríamos temer? Nitiren Daishonin diz que em vez de temer aos bandidos, ladrões ou animais selvagens, deveríamos tomar cuidado com “aqueles que tentam obstruir a prática”. A quem, especificamente, ele está se referindo?
Nos parágrafos anteriores a essa passagem, Nitiren Daishonin cita exemplos de respeitados mestres budistas chineses da dinastia T’ang, como Tz’u-en e Shan-wu-wei, que, em vez de abraçarem o Sutra de Lótus, depositaram fé nos ensinos provisórios do Buda. Ele observa que esses eruditos haviam, em determinado momento, reconhecido a superioridade do Sutra de Lótus, mas, no fim, descartaram qualquer manifestação de fé nesse sutra. A origem dessa rejeição ao Sutra de Lótus, afirma, residia no fato de se deixarem enganar por alguém que era má influência, um “mau amigo” ou “mau mestre”.
“Aqueles que tentam obstruir sua prática” nada mais são que “influências negativas”. O que os torna tão temíveis é que eles podem corromper a mente de uma pessoa e destruir a fé dela. Se os praticantes do Sutra de Lótus se deixarem influenciar pelas funções negativas ou forem enganados pelos maus mestres, perdendo assim o compromisso com o caminho correto da fé, não poderão atingir o Caminho do Buda.
Do contrário, se mantiverem firme o juramento e compromisso, com o tempo poderão superar inclusive as piores situações mediante a força da fé. Na verdade, conforme Daishonin sempre diz, o que importa é o coração. Para nos fortalecermos interiormente e repelirmos todas as influências negativas, devemos ter sabedoria necessária para discernir essas funções destrutivas e combatê-las com bravura.
Este mundo é a morada do Rei Demônio do Sexto Céu. Todas as pessoas têm sido governadas pelo Rei Demônio desde o tempo sem início. Ele não somente construiu a prisão dos vinte e cinco domínios da existência nos seis caminhos e confinou a humanidade nesse espaço, mas também transformou esposas e filhos em algemas, e pais e soberanos em redes que escondem os céus. A fim de enganar a mente da verdade da natureza de Buda, ele induz as pessoas a beber o vinho da ganância, da ira e da estupidez, e as alimenta somente com os pratos do mal que as fazem ficar prostradas no chão dos três maus caminhos. Quando encontra as pessoas que mudaram seus corações para o bem, ele age para detê-las.
“Este mundo é a morada do Rei Demônio do Sexto Céu. Todas as pessoas têm sido governadas pelo Rei Demônio desde o tempo sem início.” Esta é uma importante passagem que revela a profunda visão de Nitiren Daishonin sobre a verdadeira natureza das funções maléficas. Li esse trecho inúmeras vezes, desde que comecei a praticar o Budismo Nitiren, e o gravei nas profundezas de meu coração.
Nesta e em passagens seguintes, Daishonin esclarece que as funções do Rei Demônio do Sexto Céu são influências perniciosas, as quais os praticantes deveriam temer. Antes de tudo, ele declara que “este mundo” — o mundo saha em que vivemos — é a “morada” do Rei Demônio do Sexto Céu. Explica que isso se deve ao Rei Demônio, que reina sobre o mundo tríplice,3 do pico do mundo do desejo,4 governar a vida das pessoas desde o tempo sem início.
O Rei Demônio representa as forças negativas que manipulam a vida das pessoas a seu bel-prazer, além de obstruir o bem e fazê-las caírem nos maus caminhos. As funções maléficas privam os seguidores do Sutra de Lótus do benefício da prática budista e impedem que a sabedoria flua na vida deles. Destroem ainda as raízes da bondade ou do bem que eles têm cultivado, e fazem-nos transmigrar pelos seis caminhos do mundo tríplice.
As forças do Rei Demônio também concebem diversas manobras para impedir o avanço das forças do Buda. Nitiren Daishonin enuncia três exemplos específicos de funções insidiosas orquestradas pelo Rei Demônio: (1) transformar esposas e filhos em algemas; (2) transformar pais e soberanos em redes que escondem os céus; (3) induzir as pessoas a beber o vinho da ganância, da ira e da estupidez para enganar a mente delas sobre a verdade da natureza de Buda. Esses três tipos de impedimentos correspondem aos três obstáculos: do carma, da retribuição e dos desejos mundanos.
Nas muitas perseguições extremas que se abateram sobre Nitiren Daishonin, ele se viu exposto às forças negativas personificadas como Rei Demônio do Sexto Céu.
Em outro escrito [“A Grande Batalha”], ele diz: “O Rei Demônio do Sexto Céu armou dez tipos de exército e, em meio ao mar dos sofrimentos de nascimento e morte, trava uma luta contra o devoto do Sutra de Lótus para impedi-lo de tomar posse desta terra impura [o mundo saha], onde habitam pessoas comuns e veneráveis, e expulsá-lo dela. Mais de vinte anos se passaram desde que enfrentei essa situação e comecei a grande batalha. Em nenhum momento pensei em retroceder” (WND, v. 2, p. 465).
O Rei Demônio comanda os dez exércitos e trava uma batalha para impedir que o devoto do Sutra de Lótus adquira influência no mundo saha. Se esse devoto tentar se impor, apesar dos muitos ataques, o Rei Demônio emprega todos os recursos possíveis para tentar fazê-lo perder o controle. Plenamente ciente disso, Nitiren Daishonin declara: “Mais de vinte anos se passaram desde que enfrentei essa situação e comecei a grande batalha. Em nenhum momento pensei em retroceder”. Ou seja, a vida de
Nitiren Daishonin foi uma luta permanente contra as forças do Rei Demônio. O Kossen-rufu sempre vincula uma luta implacável entre o estado de Buda e as funções destrutivas inerentes à vida.
A Soka Gakkai é a organização que herdou o verdadeiro espírito de Nitiren Daishonin. Como resultado, quanto mais nosso nobre movimento foi se expandindo, mais intensos foram os ataques do Rei Demônio e de outras forças negativas.
O Sr. Toda declarou: “Lutem intrepidamente contra as funções negativas! Não permitam que façam estragos! Não cedam jamais diante delas!”
Jossei Toda e o Sr. Makiguti, seu mestre, — dois grandes líderes do Kossen-rufu que mantiveram um compromisso inabalável com a propagação da Lei — suportaram todo o peso da perseguição. Lutaram contra a natureza maléfica da autoridade e
protegeram resolutamente os companheiros de fé e a Organização. Como terceiro presidente, lutei com essa mesma postura.
Os três primeiros presidentes da Soka Gakkai travaram uma batalha incansável contra os três obstáculos e as quatro maldades e contra os três poderosos inimigos, e triunfaram sobre eles de forma absoluta.
O grande demônio da escuridão fundamental5 pode até mesmo entrar nos corpos dos bodhisattvas que atingiram a iluminação quase perfeita6 e bloquear a possibilidade de eles atingirem o benefício da perfeita iluminação7 do Sutra de Lótus. Que facilidade ele tem de obstruir a prática daqueles que estão nos estágios mais inferiores!
Até esse trecho, Nitiren Daishonin esclarece que os “maus amigos” ou as influências negativas que tentam destruir a fé das pessoas no Sutra de Lótus são personificados por “homens de sabedoria dos quais os demônios malignos se apoderam”, e que essas influências, na realidade, nada mais são que as funções do Rei Demônio do Sexto Céu.
Mas se essas pessoas são sábias, como é que o Rei Demônio pode valer-se delas? A razão é simples: elas não são vencidas pela influência externa, mas pela interna. São vencidas pela natureza maléfica conhecida como “escuridão fundamental”, que lhes é inata ou inerente. Em outro escrito [“O Tratamento da Doença”], Nitiren Daishonin ressalta: “A escuridão fundamental expressa-se como o Rei Demônio do Sexto Céu” (WND, v. 1, p. 1113).
Todas as pessoas possuem essa escuridão fundamental na vida. Nitiren Daishonin afirma que ela existe também na vida dos budas. Portanto, no caso dos bodhisattvas que se encontram no nível da iluminação quase perfeita, a escuridão fundamental de sua vida pode ativar a função do Rei Demônio e impedi-los de chegar ao estado da perfeita iluminação, ou estado de Buda. Se isso pode ocorrer com os bodhisattvas que estão no penúltimo estágio, quão mais expostos não estaríamos nós, pessoas comuns.
O Rei Demônio do Sexto Céu é o ímpeto negativo que reside nas profundezas da vida das pessoas. É a negatividade ou a natureza destrutiva que dá origem ao desejo de controlar os demais, inclusive de tirar-lhes a vida, que causa a destruição e a guerra.
Para derrotar essa natureza maléfica, precisamos fazer a natureza do Dharma ou a natureza fundamental da iluminação, que existe em nós com a escuridão fundamental, se manifestar. Para isso, é imprescindível continuarmos a nos empenhar na fé,
praticando o Budismo Nitiren e compartilhando-o com os demais.
Em uma de suas explanações, o presidente Toda comentou sobre o fato de, no Gohonzon, estar inscrito o nome do Rei Demônio do Sexto Céu: “O Rei Demônio do Sexto Céu está representado no Gohonzon. Assim, quando oramos ao supremo objeto de devoção, o Rei Demônio obedece ao Gohonzon [à Lei de Nam-myoho-rengue-kyo]. O Rei Demônio ordenará aos líderes dessa força insidiosa que se detenham. O potencial originalmente iluminado do Rei Demônio se manifesta por meio do Gohonzon. De fato,
todas as entidades [nele representadas] mostram os dignos atributos inatos quando são iluminados pelo Nam-myoho-rengue-kyo”.
Ele prosseguiu dizendo: “O Rei Demônio do Sexto Céu então se converte pela primeira vez numa entidade que ajuda e beneficia as pessoas”. Essas observações se relacionam com um profundo princípio que é a essência do Budismo Nitiren.
No “Registro dos Ensinos Orais” consta: “A palavra ‘fé’ é a espada afiada com a qual se enfrenta e vence a escuridão ou ignorância fundamental” (OTT, p. 119-120). Como a frase indica, o que nos permite vencer a escuridão fundamental é a espada afiada da fé. Isso significa perseverarmos e desafiarmos na fé por toda a nossa vida. Significa reconhecer as funções demoníacas tal como se apresentam e fazer surgir constantemente a natureza fundamental da iluminação que existe em nosso interior. Mediante
a fé que se aprofunda a cada dia, a cada mês, podemos erradicar de nossa vida, num nível essencial, as funções da escuridão ou da ignorância.
Por isso é tão importante ter um mestre na fé que nos ofereça orientação correta. O Sr. Toda frequentemente me dizia: “Se você é um verdadeiro discípulo, deve seguir meus passos até o fim, sem temer nenhuma adversidade. Não deve ser vencido jamais”. Todos os dias tenho me empenhado e persistido, tal como meu mestre me ensinou, e tenho sido capaz de vencer todas as funções destrutivas.
O espírito de mestre e discípulo é uma poderosa força motriz para vencer todo tipo de função negativa. Em contraste, os que perdem de vista essa postura e se esquecem da dívida de gratidão com o mestre, acabarão consumidos cada vez mais pela própria escuridão fundamental até se tornar um súdito dos seguidores do Rei Demônio.
A postura de fé necessária para combater as funções maléficas é não temer a nada, haja o que houver; é negar-se a sucumbir à escuridão ou à negatividade. Com essa atitude, sem falta, poderemos vencer. Este é o segredo de uma vida de triunfo.
O Rei Demônio se apossa dos corpos das esposas e dos filhos para que eles desviem seus maridos ou pais do caminho correto. Ele também se apossa do soberano a fim de ameaçar o devoto do Sutra de Lótus, ou possui os pais e as mães, e os fazem repreender seus devotados filhos.
Nitiren Daishonin esclarece que as funções do Rei Demônio também se manifestam sob a forma de oposição dos pais, dos cônjuges e filhos, e inclusive das autoridades seculares, com o intuito de obstruir a prática de quem acredita no Sutra de Lótus.
Sem dúvida, a frase “O Rei Demônio se apossa (...) os pais e as mães, e os fazem repreender seus devotados filhos” tocou o coração dos irmãos Ikegami. Pois a situação na qual se encontravam tinha muito a ver com os esquemas do sacerdote Ryokan, do templo Gokuraku, e com outras influências negativas. Nitiren Daishonin também afirma que o pai deles, Yasumitsu, havia da mesma forma sucumbido à influência do Rei Demônio do Sexto Céu, que os estava atacando com o propósito de lhes obstruir a fé.
Portanto, o Buda Nitiren Daishonin orienta os irmãos a discernir a verdadeira natureza dessas funções maléficas, que, em nenhuma circunstância, deveriam render-se à influência delas.
Na “Carta aos Irmãos” e em muitos outros escritos, Daishonin oferece orientação e alento incansáveis aos discípulos que estavam sendo pressionados a escolher entre a fé e a devoção filial. A verdadeira devoção filial consiste em, como filho, atingir o estado de Buda, seguindo o supremo ensino budista e, desse modo, conduzir os pais à felicidade eterna.
Os irmãos Ikegami mantiveram a fé exatamente como o mestre lhes ensinou, e triunfaram de maneira esplêndida sobre todas as dificuldades e todos os obstáculos que se ergueram diante deles.
Hoje, enquanto o mundo se debate em crises econômicas sem precedentes, vemo-nos expostos a obstáculos de todos os tipos. Por essa razão, é imperativo que triunfemos em nosso coração e recitemos Daimoku constantemente durante esse processo.
Quando estabelecermos a “fé para superar obstáculos” como a base de nossa vida, poderemos transformar definitivamente o negativo em algo positivo, de acordo com o princípio de “transformar o veneno em remédio”. Também poderemos, sem falta, transformar nosso carma, atingir o estado de Buda nesta existência e abrir mais e mais o caminho do Kossen-rufu.
1. (...) “uma tartaruga de um único olho encontrar um pedaço de madeira de sândalo flutuando”: Essa metáfora consta no 27º capítulo do Sutra de Lótus, “Os Feitos do Rei Adorno Maravilhoso”. Indica que é extremamente raro uma pessoa encontrar o Buda e seus ensinos. A dificuldade é muito maior que a encontrada por uma tartaruga de um olho só à procura de um tronco de sândalo flutuando no mar, com uma concavidade do tamanho exato para acomodá-la.
2. “Suspender o Monte Sumeru com um fio do caule de lótus”: Metáfora para ação impossível. Na cosmologia indiana, o Monte Sumeru é um pico monumental que se eleva do centro do mundo.
3. Mundo tríplice: O mundo dos seres não iluminados que transmigram pelos seis caminhos. Em ordem ascendente, é formado pelo mundo do desejo, o mundo da forma (ou matéria) e o mundo da não forma (espírito ou vida imaterial). (1) O mundo do desejo abarca os quatro maus caminhos — os mundos de inferno (estado de Inferno), dos espíritos famintos (Fome), dos animais (Animalidade) e dos asura (Ira) — e os quatro continentes que circundam o Monte Sumeru (que contém o mundo dos seres humanos) e as primeiras seis divisões do céu (a parte inferior do reino dos seres celestiais). Os seres desse mundo vivem à mercê de diversas necessidades, por exemplo, desejo por comida, bebida e sexo. (2) O mundo da forma consta de quatro céus da meditação que, por sua vez, se dividem em dezoito céus (dezesseis ou dezessete, segundo outras fontes). Os seres que vivem nesse mundo não têm desejos ou necessidades, porém, conservam a forma física e, portanto, estão sujeitos a certas restrições materiais. (3) O mundo da não forma abarca o reino do espaço vazio ilimitado; o reino da consciência ilimitada; o reino do nada; o reino que não é pensamento nem não pensamento. Os seres desse mundo não têm desejos nem forma física, tampouco restrições materiais.
4. Pico do mundo do desejo: Conforme os sutras, o Demônio do Sexto Céu habita o mais alto dos céus do mundo do desejo, a divisão inferior do mundo tríplice.
5. Escuridão fundamental: Ilusão mais profundamente arraigada e intrínseca à vida, que origina todas as demais ilusões. A escuridão fundamental é a incapacidade de ver ou de reconhecer a verdade, em especial, a real natureza de nossa vida. Nitiren Daishonin interpreta a escuridão fundamental como ignorância com a Lei suprema, ou ignorância de que nossa vida seja a manifestação da Lei — do Nam-myoho-rengue-kyo.
6. Iluminação quase perfeita: Dos cinquenta e dois estágios da prática do bodhisattva, corresponde ao nível cinquenta e um. É um estágio quase equivalente à perfeita iluminação do Buda, o último nível que um bodhisattva deve conquistar para atingir o estado de Buda.
7. Perfeita iluminação: O nível mais elevado dos cinquenta e dois estágios da prática do bodhisattva, ou seja, o estado de Buda.
Nam-myoho-rengue-kyo
Edição 515 - Publicado em 16/Julho/2011 - Página 52
Princípios básicos e personagens do Budismo
“Praticamos o Budismo Nitiren para construirmos um brilhante palácio de felicidade nas profundezas de nossa vida”
O Nam-myoho-rengue-kyo é a expressão da verdade suprema da vida, a essência do Sutra de Lótus. Ao recitar o Nam-myoho-rengue-kyo com forte fé, pode-se atingir sem falta o estado de Buda. Nitiren Daishonin revelou o Nam-myoho-rengue-kyo, recitando-o pela primeira vez em 28 de abril de 1253 e apresentou o caminho direto para a iluminação de todas as pessoas das gerações futuras.
Myoho-rengue-kyo é o título do Sutra de Lótus. Este é o ensino de Sakyamuni, primeiro Buda registrado na história, que viveu na Índia há cerca de três mil anos. Muitas eras decorreram até que, no século 13, no Japão, Nitiren Daishonin, após ter estudado a fundo as principais doutrinas, chegou à conclusão de que o Sutra de Lótus continha o ensino mais profundo de Sakyamuni. Ele concluiu que o título Myoho-rengue-kyo era a essência do Sutra de Lótus. Ao antepor a palavra Nam, que deriva do sânscrito Namas e significa “devotar a própria vida”, aos cinco caracteres de Myoho-rengue-kyo, Daishonin transformou o que seria um simples título num ato de devoção para atingir a suprema condição de vida do estado de Buda, ou a iluminação.
Na escritura “O Daimoku do Sutra de Lótus”, Nitiren Daishonin mostra quão extraordinário é conhecer e recitar o Nam-myoho-rengue-kyo por meio da seguinte passagem: “Suponha que alguém espete uma agulha no topo do Monte Sumeru de um mundo e, posicionando-se no topo do Monte Sumeru de outro mundo, num dia de forte ventania, atire uma linha a fim de passá-la pelo buraco da agulha. Seria mais fácil a pessoa conseguir acertar o orifício da agulha com a linha do que encontrar o Daimoku do Sutra de Lótus. Portanto, quando recitar o Daimoku desse Sutra, deve estar ciente de que sua alegria será maior que a da pessoa cega que começa a enxergar e vê os pais pela primeira vez. E será algo mais raro do que um homem que, tendo sido preso por um poderoso inimigo, ao ser libertado, reencontra a esposa e os filhos” (END, v. 2, p. 179).
Analisemos agora o significado literal da palavra Nam-myoho-rengue-kyo:
Nam: deriva do sânscrito Namas e significa “devotar a própria vida”.
• Myoho-rengue-kyo: título do Sutra de Lótus, o principal ensino do Buda Sakyamuni.
Myoho: Lei Mística, a realidade imutável e essencial de todos os fenômenos.
• Myo: quer dizer místico, não no sentido de milagre, mas indica que o mistério da vida é de inimaginável profundidade e, portanto, além da compreensão do homem.
• Ho: significa lei. A natureza da vida é tão mística e profunda que transcende o âmbito do conhecimento humano. Uma lei familiar é observada no desenvolvimento do ser humano. Ele nasce como um bebê, cresce para ser um jovem e torna-se idoso para morrer. Isso é, obviamente, uma inquebrável lei, regulando cada espécie de vida. Ninguém jamais pode nascer como adulto ou escapar desse ciclo.
Rengue: significa flor de lótus, que simboliza a simultaneidade de causa e efeito, pois a flor e a semente germinam ao mesmo tempo. O Budismo explica que todos os fenômenos do universo são regidos por essa lei. Em termos de pessoa, a condição da vida presente é o efeito das causas acumuladas no passado, e o momento presente é a causa da condição da sua vida futura. Esse princípio da simultaneidade de causa e efeito indica que os nove mundos (causa) e o mundo do estado de Buda (efeito) existem simultaneamente em cada momento da vida, não havendo, portanto, nenhuma diferença fundamental entre um buda e uma pessoa comum. Em termos de prática, Daishonin ensinou que, quando uma pessoa recita o Nam-myoho-rengue-kyo com fé (causa) no Gohonzon, o estado de Buda (efeito) manifesta-se instantaneamente no seu interior.
Kyo: significa sutra ou o ensino do Buda que é eterno; propaga-se pelas três existências da vida — passado, presente e futuro —, transcendendo as condições mutáveis do mundo físico e do ciclo de nascimento e morte. Pelo fato de Sakyamuni ter ensinado por meio da pregação — ou seja, ele usou a própria voz — a palavra kyo é algumas vezes interpretada como “som”. Nitiren Daishonin declarou em “Registro dos Ensinos Orais”: “Kyo corresponde às palavras e ao discurso, ao som e à voz de todos os seres” (Gosho Zenshu, p. 508). O caractere chinês usado para designar kyo significa o ensino que deve ser preservado e transmitido para a posteridade. Esse caractere era empregado na China com o significado de “livros” ou “clássicos”, como no caso do confucionismo e do taoísmo. Quando as escrituras budistas foram levadas da Índia para a China, o caractere era usado com o significado de “sutra”. É nesse sentido que Nitiren Daishonin interpreta a palavra quando diz: “Aquilo que é eterno, que se propaga pelas três existências, é chamado kyo” (Gosho Zenshu, p. 508).
Assim, do ponto de vista do significado literal, o Nam-myoho-rengue-kyo abrange todas as leis, toda a matéria e todas as formas de vida existentes no universo. Se expandirmos ao espaço ilimitado, é o mesmo que a vida do universo, e se condensarmos ao espaço limitado, é igual à vida dos seres humanos. No entanto, essa ideia é superficial, pois a mera tradução dos caracteres não expõe a profundidade da Lei Mística em sua totalidade. Na verdade, o Budismo não se compreende racionalmente e, sim, com a própria vida.
A recitação diária, pela manhã e à noite, do Nam-myoho-rengue-kyo é a prática fundamental do Budismo. Nitiren Daishonin ensinou que, por meio da recitação do Nam-myoho-rengue-kyo, com fé no Gohonzon, podemos manifestar a Lei Mística — a realidade fundamental, a essência da vida. Somente com a sincera recitação do Nam-myoho-rengue-kyo conseguimos elevar nossa condição de vida.
Na prática, essa recitação nos proporciona sentimentos positivos, como alegria, coragem, esperança, sabedoria para desafiar e superar as dificuldades do dia a dia. Em “Resposta a Kyo’o”, Nitiren Daishonin nos orienta sobre a força do Nam-myoho-rengue-kyo, utilizando-se da célebre frase: “O Nam-myoho-rengue-kyo é como o rugido de um leão. Que doença pode, portanto, ser um obstáculo?” (As Escrituras de Nitiren Daishonin, v. I, p. 275)
O presidente Ikeda ensina sobre a boa sorte da recitação do Nam-myoho-rengue-kyo na seguinte orientação: “Se acreditamos na Lei Mística e recitamos o Nam-myoho-rengue-kyo, pondo nossa vida ao ritmo da Lei do Universo, podemos desenvolver um ‘eu’ forte, rico e saudável que brilha com intelecto e sabedoria e transborda de felicidade por toda a eternidade. Assim como o Buda está dotado dos dez títulos honoríficos, nós também seremos coroados com imensa boa sorte e benefício. Praticamos o
Budismo Nitiren para construirmos um brilhante palácio de felicidade nas profundezas de nossa vida” (BS, edição nº 1.586, 1º de janeiro de 2001, p. 4).
Independentemente das circunstâncias, a continuidade da recitação da Lei Mística é de suma importância. É o que Nitiren Daishonin nos ensina no escrito “A Felicidade neste Mundo”, dedicado a Shijo Kingo: “Sofra o que tiver de sofrer. Desfrute o que existe para ser desfrutado. Considere tanto o sofrimento como a alegria como fatos da vida e continue recitando o Nam-myoho-rengue-kyo, não obstante o que aconteça. Então, experimentará a infinita alegria da Lei. Fortaleça sua fé mais do que nunca” (As Escrituras de Nitiren Daishonin, v. III, p. 199).
Fé, prática e estudo
Edição 515 - Publicado em 16/Julho/2011 - Página 56
Princípios básicos e personagens do Budismo
“Se carecer de qualquer um desses três itens, o exercício budista deixará de ser uma prática correta”
A prática do Budismo Nitiren, que visa à transformação da própria vida, é embasada no exercício da fé, da prática e do estudo.
“Fé” corresponde a abraçar e a acreditar no Budismo Nitiren, na verdadeira Lei dos Últimos Dias, em especial no supremo objeto de devoção, o Gohonzon. Essa “fé” é o ponto de partida e de chegada do exercício budista.
O segundo item, “prática”, indica a ação concreta visando à transformação da vida, a aplicação dos ensinamentos budistas na vida diária.
Por fim, o “estudo” é a busca pelos ensinos budistas de forma a obter uma diretriz para a correta prática da fé, apoiando a “prática” e fortalecendo ainda mais a “fé”.
Se carecer de qualquer um desses três itens, o exercício budista deixará de ser uma prática correta.
Na seguinte frase do escrito “O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos”, Nitiren Daishonin elucida sobre este princípio: “Creia no Gohonzon, o supremo objeto de devoção de todo o Jambudvipa. Fortaleça ainda mais sua fé e receba a proteção dos
budas Sakyamuni, Muitos Tesouros e das dez direções. Exerça-se nos dois caminhos da prática e do estudo. Sem eles, não pode haver Budismo. Deve não somente perseverar em sua fé, mas também ensinar aos outros. Tanto a prática como o estudo surgem da fé. Ensine aos outros com o melhor de sua habilidade, mesmo que seja uma única sentença ou frase” (END, v. 5, p. 256).
1. Fé
A “fé” significa “acreditar e abraçar”, isto é, acreditar e abraçar os ensinos do Buda. A fé é o único caminho para ingressar na condição de vida do Buda.
O terceiro capítulo do Sutra de Lótus, “Parábolas”, prega que Shariputra (ou Sharihotsu), o mais sábio dos discípulos de Sakyamuni, só conseguiu incorporar os princípios contidos no Sutra de Lótus por meio da fé. Trata-se do princípio de “ingressar unicamente por meio da fé” (ishin tokunyu).
Para se evidenciar na própria vida a extraordinária sabedoria e a condição de um buda que descobriu o verdadeiro aspecto da vida e do universo, não há outro meio senão a fé. Ao abraçar os ensinos do Buda com fé, pode-se compreender a veracidade dos princípios da vida expostos no Budismo.
Nitiren Daishonin compreendeu com a própria vida a Lei fundamental do Universo, o Nam-myoho-rengue-kyo, e a materializou na forma de Gohonzon.
O ponto fundamental da prática do Budismo Nitiren está em acreditar profundamente que esse Gohonzon é o único objeto capaz de fazer manifestar a condição de Buda em nossa vida.
Quando nos dedicamos intensamente na recitação do Daimoku com fé no Gohonzon, podemos manifestar a condição de Buda inerente.
2. Prática
A “prática” corresponde à ação com base na fé no Gohonzon.
O Budismo explica que as funções do Buda estão originariamente inerentes, ou seja, são próprias da vida do ser humano. O objetivo da prática budista consiste em fazer essas funções do Buda ocultas na vida se evidenciarem e, dessa forma, a felicidade absoluta é conquistada. Porém, para que essa força seja evidenciada em meio à realidade da existência, é necessário um trabalho concreto de transformação. Em outras palavras, para manifestar a condição do estado de Buda, são necessárias contínuas ações centradas no bom-senso. Essas ações correspondem à “prática”.
Há dois aspectos na “prática”: a individual, ou para si próprio; e a altruística, voltada para os outros. Assim como as rodas de um carro, a falta de qualquer um desses dois aspectos não conduz a uma prática completa.
A “prática individual” refere-se ao exercício budista visando à conquista dos benefícios da Lei para si mesmo. E a “prática altruística” corresponde à ação de ensinar o Budismo às outras pessoas para elas obterem benefícios.
Num de seus escritos, Nitiren Daishonin afirma: “Entretanto, agora entramos nos Últimos Dias da Lei e o Daimoku que eu, Nitiren, recito é diferente daquele das eras anteriores. Esse Nam-myoho-rengue-kyo inclui tanto a prática individual como a altruística” (WND, v. 2, p. 986).
Assim, a prática correta do Budismo Nitiren consiste nas práticas individual e altruística, ou da recitação do Daimoku com fé no Gohonzon e do ato de ensinar sobre seus benefícios às outras pessoas, recomendando-lhes à prática budista.
De forma concreta, a “prática individual” é composta pela recitação do Gongyo e do Daimoku; e a “prática altruística”, pela propagação dos ensinos, isto é, pela concretização do Chakubuku. As diversas atividades da SGI em prol do Kossen-rufu também são exercícios que correspondem à “prática altruística”.
Gongyo e propagação dos ensinos: práticas para a transformação da vida
Uma das ações para a transformação da vida é a prática do Gongyo, que consiste na recitação de trechos dos capítulos Hoben e Juryo do Sutra de Lótus e do Daimoku diante do Gohonzon.
Sobre os benefícios da prática do Gongyo, Nitikan Shonin afirmou: “Quando abraçamos a fé neste Gohonzon e recitamos o Nam-myoho-rengue-kyo, nossa vida se torna imediatamente o objeto de devoção do itinen sanzen, o próprio Daishonin”. Essa frase indica que a prática do Gongyo diante do Gohonzon faz surgir a mesma força e sabedoria de Nitiren Daishonin na vida das pessoas.
Num de seus escritos, Daishonin faz uma analogia da prática do Gongyo ao ato de polir o espelho: “Isso se assemelha a um espelho embaçado que brilhará como uma joia quando for polido. A mente que se encontra encoberta pela ilusão da escuridão inata da vida é como um espelho embaçado, mas, quando for polida, é certo que se tornará como um espelho límpido, refletindo a natureza essencial dos fenômenos e da realidade. Manifeste profunda fé polindo seu espelho dia e noite. Como deve poli-lo? Não há outra forma senão devotar-se à recitação do Nam-myoho-rengue-kyo” (END, v. 1, p. 4).
Nessa analogia, o espelho é o mesmo, antes e depois de ser polido, não havendo substituição do objeto. Porém, sua função e utilidade se transformam completamente. Da mesma forma, a prática do Gongyo não fará que nos tornemos outra pessoa. Todavia, purificaremos a essência da nossa vida, fazendo-a se transformar radicalmente.
Em relação à “propagação dos ensinos”, Nitiren Daishonin cita no escrito “O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos”: “Deve não somente perseverar em sua fé, mas também ensinar aos outros. Tanto a prática como o estudo surgem da fé. Ensine aos outros com o melhor de sua habilidade, mesmo que seja uma única sentença ou frase” (END, v. 5, p. 256). E, na “Carta a Jakuniti-bo”, Nitiren Daishonin afirma: “Portanto, os que se tornam discípulos e seguidores leigos de Nitiren devem compreender a
profunda relação cármica que compartilham com ele e propagar o Sutra de Lótus exatamente como ele faz” (WND, v. 1, p. 994).
Por essa razão, o importante é apresentar mesmo uma única frase sobre o Budismo aos amigos, visando à felicidade individual e à das outras pessoas. Agindo dessa forma, é possível aprofundarmos ainda mais a prática da fé, bem como nos tornarmos verdadeiros discípulos de Nitiren Daishonin, manifestando a elevada condição de vida do Buda e de Bodhisattva que se empenha pela iluminação de todas as pessoas.
O Gongyo e os esforços para propagar os ensinos tornam-se a grande força para a transformação da própria vida. A prática altruística é também uma ação que corresponde à missão e ao comportamento do Buda, conforme Nitiren Daishonin afirma na seguinte passagem: “A pessoa que recita mesmo uma única frase do Sutra de Lótus e a ensina a outra pessoa é a emissária do Buda Sakyamuni, o lorde dos ensinos” (END, v. 5, p. 98).
3. Estudo
O “estudo” refere-se ao estudo dos ensinos budistas, buscando o correto aprendizado de seus princípios, tendo como base a leitura, de forma respeitosa, do Gosho deixado por Nitiren Daishonin. Com o correto aprendizado dos princípios budistas, é possível aprofundar ainda mais a fé, assim como desenvolver uma verdadeira prática. Sem o estudo do Budismo, corre-se o risco de fazer interpretações com base no próprio pensamento ou ser enganados por pessoas que expõem ensinos errôneos.
Como todos sabem, a base do estudo do Budismo é a fé. Nitiren Daishonin esclarece: “Tanto a prática como o estudo surgem da fé” (END, v. 5, p. 256). O segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, também costumava dizer: “A fé busca a razão e a razão aprofunda a fé”. Portanto, o objetivo do estudo e da compreensão do Budismo é aprofundar a fé.
Nitiren Daishonin conclama a todos que leiam repetidas vezes seus escritos, como percebe-se na seguinte frase: “Deixe meu mensageiro ler esta carta uma vez e mais uma vez” (As Escrituras de Nitiren Daishonin, v. IV, p. 287).
Para seus discípulos que lhe perguntavam sobre os princípios do Budismo, ele sempre os elogiava por manifestarem o espírito de procura.
Nikko Shonin também recomenda o estudo do Budismo em seus “Vinte e Seis Artigos de Advertência”, quando afirma: “Gravando o Gosho profundamente em sua vida” (Gosho Zenshu, p. 1618) e “Aqueles de aprendizado insuficiente, que buscam somente a fama e a fortuna, não se enquadram como seguidores desta correnteza” (Gosho Zenshu, p. 1618).
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