Sentir e manifestar gratidão não só faz bem ao coração como também é fundamental para melhorar as relações humanas e solidificar o respeito e a confiança mútua.
A partir do momento em que o ser humano começou a viver integrado em comunidades foi desenvolvendo valores morais para o bom convívio social.
A palavra "moral" origina-se do latim mores, e designa os costumes e as tradições de uma cultura ou sociedade, sendo que o conjunto de todas as boas qualidades do caráter que um indivíduo assimila em sua vida é denominado de "virtudes"
.
A virtude tem origem na Grécia com a palavra areté, que também pode ser traduzida como "excelência". Foi traduzida para o latim como virtus, que é a sua raiz em português.
Segundo Aristóteles, a virtude é uma disposição adquirida de fazer o bem e que se aperfeiçoa com o hábito, ao contrário do vício, que degrada ou destrói a pessoa.
Entre todas as virtudes, a gratidão figura como um dos aspectos mais positivos do caráter de uma pessoa. O estadista, orador e escritor romano Marco Túlio Cícero (106-43 a.C) dizia que entre todas as virtudes, a gratidão era, não só a maior, mas a origem de todas as outras.
Muitas histórias e textos da literatura mundial falam da importância desse nobre sentimento.
Esopo, na fábula A formiga e a pomba, conta a história de uma formiga que estava à margem de um rio bebendo água e é arrastada pela forte correnteza. Quando estava prestes a se afogar, uma pomba que a tudo assistia pousada numa árvore próxima do rio, arrancou uma folha e a deixou cair na correnteza perto do pequeno inseto. A formiga subiu na folha e flutuou em segurança até a margem. Tempos depois, um caçador de pássaros se preparava para colocar uma visgueira perto da pomba que repousava nos galhos alheia do perigo. A formiga, percebendo a intenção do homem, deu-lhe uma ferroada no pé. Ele imediatamente deixou cair a armadilha, dando chance à pomba de voar para longe sã e salva. A moral da história é que a pessoa que tem gratidão em seu coração, sempre encontrará uma oportunidade para retribuir àquela a quem deve um favor.
O escritor André Comte-Sponville considera dezoito as virtudes essenciais ao ser humano. São eles: a polidez, a fidelidade, a prudência, a temperança, a coragem, a justiça, a generosidade, a compaixão, a misericórdia, a gratidão, a humildade, a simplicidade, a tolerância, a pureza, a doçura, a boa-fé, o humor e o amor.
Sobre a gratidão ele observa: "A gratidão é a mais agradável das virtudes; não é, no entanto, a mais fácil. Por que seria? Há prazeres difíceis ou raros, que nem por isso são menos agradáveis. Talvez sejam até mais. No caso da gratidão, todavia, a satisfação surpreende menos que a dificuldade. Quem não prefere receber um presente a um tapa? Agradecer a perdoar? A gratidão é um segundo prazer, que prolonga um primeiro, como um eco de alegria à alegria sentida, como uma felicidade a mais para um mais de felicidade. O que há de mais simples? Prazer de receber, alegria de ser alegre: gratidão. O fato de ela ser uma virtude, porém, basta para mostrar que ela não é óbvia, que podemos carecer de gratidão e que, por conseguinte, há mérito - apesar do prazer ou, talvez, por causa dele - em senti-la. Mas por quê? A gratidão é um mistério, não pelo prazer que temos com ela, mas pelo obstáculo que com ela vencemos. É a mais agradável das virtudes, e o mais virtuoso dos prazeres."
1
O Budismo de Nitiren Daishonin sempre enfoca a importância do espírito de gratidão. A manifestação desse sentimento é a base da prática budista, essencial para que uma pessoa promova uma mudança profunda e radical em sua vida, ou seja, a conquista de sua revolução humana.
Nesse caso, o espírito de gratidão representa muito mais do que ter uma boa formação moral. Está relacionado ao próprio entendimento que uma pessoa tem sobre sua vida e a Lei que rege o Universo.
Por exemplo, o budismo explica a intrínseca relação existente entre os seres humanos. Por mais que se deseje, é impossível viver isoladamente, pois direta ou indiretamente, uma pessoa sofre ou exerce algum tipo de influência sobre a outra, numa relação interdependente. Moradias, alimentos, roupas, enfim, tudo o que o homem necessita para viver, depende da ação de uma ou mais pessoas. E, por usufruir desses benefícios, resultantes dos esforços de outras pessoas, o ser humano deveria cultivar o sentimento de gratidão e de retribuição aos outros.
O Buda Nitiren Daishonin sempre expressava sua gratidão a todas as pessoas, nunca se esquecendo de agradecer aos menores oferecimentos que recebia de seus discípulos, pois sabia das grandes dificuldades que eles enfrentavam para sobreviver e se devotar sinceramente à prática da fé.
Daishonin sentia gratidão também por seus piores inimigos que tentavam destruí-lo de todas as maneiras. Quando a tentativa de executá-lo em Tatsunokuti falhou, ele demonstrou profunda consideração por seus executores, oferecendo-lhes palavras de incentivo e saquê. Daishonin encarava seus oponentes de forma positiva, agradecendo-lhes pela oportunidade de comprovar a veracidade de seu ensino.
Por que ele agia dessa forma? Um de seus escritos esclarece: "A razão pela qual devem ter gratidão por todos os seres vivos deve-se ao fato de [uma vez que a vida se estende pelas três existências] todos os homens terem sido seu pai no passado, uma vez ou outra, e todas as mulheres terem sido sua mãe. Existência após existência, vocês ficaram em dívida com todos esses seres, é por isso que devem desejar que todos atinjam o estado de Buda." (Gosho Zenshu, pág. 1527.)
O sentimento de gratidão desperta na pessoa o desejo de retribuição. No caso de Daishonin, esse sentimento o levou a dedicar sua vida para tornar-se o homem mais sábio do Japão e assim, ajudar seus pais e o povo de sua época e das eras vindouras a desfrutarem a mesma felicidade que ele havia alcançado em vida.
Da mesma forma, seu discípulo-sucessor, Nikko Shonin viveu com esse mesmo espírito, e também os sucessivos líderes da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti, Jossei Toda e Daisaku Ikeda.
Daisaku Ikeda, presidente da SGI, disse em certa ocasião: "É importante jamais se esquecer do débito de gratidão que possuem com as pessoas que os ajudaram a desenvolver-se, que os apoiaram e os encorajaram. Por favor, empenhem-se para retribuir sinceramente a esse débito de gratidão. Esse é o caminho de uma vida verdadeiramente humana e vitoriosa.2
Pode-se dizer que manifestar esse nobre espírito requer uma luta contínua entre o lado negativo e o positivo, inerente na vida de cada pessoa.
O segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, comentava que o ser humano era essencialmente egoísta e que, naturalmente, iniciava sua prática budista a fim de solucionar seus problemas pessoais e não os alheios.
Mas, a partir do momento em que os benefícios decorrentes da prática da fé se manifestam, surge em seu coração a gratidão e começa a sentir a necessidade de proporcionar às outras pessoas a mesma felicidade que ele sente. Esse é o estágio ideal em que a pessoa atinge uma profunda compreensão dos ensinos budistas por meio de uma elevada condição de vida, o caminho de um bodhisattva.
O budismo classifica os estados de vida que constituem a experiência humana em dez mundos ou domínios que vão do menos ao mais desejável. O mundo do Inferno é uma condição em que o ser humano está submerso no sofrimento; o mundo da Fome é um estado no qual o corpo e a mente estão mergulhados nas chamas impetuosas do desejo; o mundo de Animalidade é uma condição em que se teme o mais forte e aproveita-se do mais fraco; pessoas que vivem no mundo da Ira desejam sempre vencer e dominar as outras; o mundo de Tranqüilidade é um estado calmo marcado pela capacidade de se fazer julgamentos racionais; o mundo de Alegria é um estado repleto de contentamento; o mundo de Erudição representa uma condição de aspiração à iluminação; o mundo de Absorção é caracterizado pela capacidade de perceber a verdadeira natureza dos fenômenos; o mundo de Bodhisattva é um estado de benevolência no qual busca-se salvar todas as pessoas do sofrimento; e, finalmente, o mundo do estado de Buda consiste numa condição de completa e perfeita liberdade humana.
Dentro de cada um desses dez estados ou mundos é igualmente encontrado o espectro dos dez mundos. Em outras palavras, o estado de Inferno contém cada um dos demais estados, desde o próprio Inferno ao estado de Buda. De acordo com a visão budista, a vida nunca é estática, ela está sempre em constante fluxo, resultando numa transformação dinâmica de momento a momento entre esses vários estados.
Portanto, a questão mais fundamental é qual desses dez estados, em meio ao vibrante fluxo da vida, forma a base da própria existência, a tendência de vida de uma pessoa.
Do ponto de vista do Budismo Nitiren, o destino, feliz ou infeliz, de uma pessoa resulta do acúmulo de ações efetuadas por ela pelos pensamentos, palavras e ações em existências passadas ou no presente.
Quando essas ações são baseadas em um estado de vida inferior, as pessoas realizam maus atos e acabam acumulando mais causas negativas e recebendo o efeito na forma de infelicidade. Por exemplo, se o estado dominante é a Fome, as causas que se faz tendem a produzir efeitos que intensificam esse estado, num eterno ciclo de sofrimento. Existem pessoas que aparentemente demonstram gratidão, mas no fundo, suas ações são motivadas pelo desejo de conseguir algo em troca.
Normalmente fatores externos influenciam o humor, o comportamento, as emoções das pessoas. Ou seja, elas reagem aos acontecimentos à sua volta, indo do estado de Alegria ao de Inferno de um momento a outro.
Já a prática do Budismo Nitiren incita as pessoas a tornarem-se "senhoras de sua mente". Isto é, a tornarem-se fortes ao ponto de quebrar esse ciclo, esse padrão negativo de comportamento que as arrastam pelas circunstâncias da vida.
A prática budista é o caminho de vida centralizado nos mais elevados estados - os de Bodhisattva e de Buda - e estes são considerados como uma existência humana ideal. Isso não quer dizer que é preciso erradicar os outros estados de vida e deixar de sentir ódio, alegria, sofrimento e prazer, pois eles fazem parte da natureza humana. No entanto, esses sentimentos podem ser direcionados de uma forma positiva, como por exemplo, sentir ódio pela guerra e ira pelas injustiças.
Quando uma pessoa recita o Nam-myoho-rengue-kyo e determina viver com o mesmo espírito de Daishonin, consegue revelar uma suprema condição de vida. Livre do egoísmo, ela experimenta um sentimento de gratidão de lutar pelo bem das demais pessoas e consegue vencer todas e quaisquer adversidades, resultando dessa postura, imensuráveis benefícios. O espírito de gratidão é o cerne da prática da fé e a eterna motivação que proporciona um avanço contínuo e ilimitado para todos aqueles que a manifestam.
"Entre todas as ações, a ação de cuidar dos pais é a mais importante. Ainda mais a ação de cuidar dos pais por meio da fé na Lei Mística é tão perfeita como a de colocar água límpida num vasilhame de ouro." (Gosho Zenshu, pág. 1.481.)
"Agora eu, Nitiren, nasci como um ser humano, algo difícil de conseguir, e encontrei os ensinos budistas, algo raro de encontrar. Além disso, pude encontrar o Sutra de Lótus. Quando paro para pensar na minha boa sorte, percebo que estou em dívida com meus pais, com o soberano e com todos os seres vivos. "Com relação à dívida de gratidão com os pais, o pai pode ser comparado ao céu e a mãe, à terra, e seria difícil dizer a qual deles devemos mais. Contudo, é particularmente difícil retribuir à grande bondade de uma mãe. "Se, desejando pagar essa dívida, a pessoa procura fazê-lo seguindo escrituras externas como os Três Registros e Cinco Cânones ou o Clássico da Devoção Filial, conseguirá ajudar a mãe nesta vida, mas não poderá auxiliá-la na próxima existência. Embora possa proporcionar-lhe o necessário materialmente, será incapaz de salvá-la espiritualmente. (...) Só o Sutra de Lótus revela que uma mulher pode atingir o estado de Buda e, portanto, percebi que este sutra é aquele que torna possível a verdadeira retribuição à bondade de uma mãe. Para pagar essa dívida, jurei habilitar todas as mulheres a recitarem o Daimoku deste sutra." (END, vol. 6, pág. 275.)
"A velha raposa3 jamais esquece a colina onde nasceu; a tartaruga branca retribui a gentileza que havia recebido de Mao Pao. Se mesmo criaturas inferiores sabem o suficiente para agir assim, então os seres humanos deveriam fazê-lo muito mais!" (END, vol. 4, pág. 17.)
"Aquele que estuda os ensinos do budismo não deve deixar de pagar as quatro dívidas de gratidão. De acordo com o sutra Shinjikan, a primeira das quatro dívidas é aquela para com todos os seres vivos. Se não fosse por eles, seria impossível fazer o voto de salvar inumeráveis seres vivos. Além disso, se não fosse pelas pessoas más que perseguem bodhisattvas, como esses bodhisattvas poderiam acumular benefícios? A segunda das quatro dívidas é aquela para com o pai e a mãe. Para nascer nos seis caminhos, a pessoa tem de ter pais. Se uma pessoa nasce numa família de um assassino, um violador das normas de conduta ou um caluniador da Lei, então, mesmo que ela própria não tenha cometido essas ofensas, na realidade forma o mesmo carma que as pessoas que o fazem. Com respeito a meus pais nesta existência, entretanto, eles não só deram-me a vida, mas também permitiram-me tornar um praticante do Sutra de Lótus. Assim, possuo com os meus atuais pai e mãe uma dívida muito maior do que teria se tivesse nascido na família de Bonten, Taishaku, um dos Quatro Reis Celestiais ou um Rei Girador da Roda" e, conseqüentemente, tivesse herdado o mundo tríplice ou os quatro continentes dos mundos e sido reverenciado pelos quatro tipos de seguidores dos mundos de Tranqüilidade e Êxtase." (END, vol. 5, pág. 131.)
A partir do momento em que o ser humano começou a viver integrado em comunidades foi desenvolvendo valores morais para o bom convívio social.
A palavra "moral" origina-se do latim mores, e designa os costumes e as tradições de uma cultura ou sociedade, sendo que o conjunto de todas as boas qualidades do caráter que um indivíduo assimila em sua vida é denominado de "virtudes"
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A virtude tem origem na Grécia com a palavra areté, que também pode ser traduzida como "excelência". Foi traduzida para o latim como virtus, que é a sua raiz em português.
Segundo Aristóteles, a virtude é uma disposição adquirida de fazer o bem e que se aperfeiçoa com o hábito, ao contrário do vício, que degrada ou destrói a pessoa.
Entre todas as virtudes, a gratidão figura como um dos aspectos mais positivos do caráter de uma pessoa. O estadista, orador e escritor romano Marco Túlio Cícero (106-43 a.C) dizia que entre todas as virtudes, a gratidão era, não só a maior, mas a origem de todas as outras.
Muitas histórias e textos da literatura mundial falam da importância desse nobre sentimento.
Esopo, na fábula A formiga e a pomba, conta a história de uma formiga que estava à margem de um rio bebendo água e é arrastada pela forte correnteza. Quando estava prestes a se afogar, uma pomba que a tudo assistia pousada numa árvore próxima do rio, arrancou uma folha e a deixou cair na correnteza perto do pequeno inseto. A formiga subiu na folha e flutuou em segurança até a margem. Tempos depois, um caçador de pássaros se preparava para colocar uma visgueira perto da pomba que repousava nos galhos alheia do perigo. A formiga, percebendo a intenção do homem, deu-lhe uma ferroada no pé. Ele imediatamente deixou cair a armadilha, dando chance à pomba de voar para longe sã e salva. A moral da história é que a pessoa que tem gratidão em seu coração, sempre encontrará uma oportunidade para retribuir àquela a quem deve um favor.
O escritor André Comte-Sponville considera dezoito as virtudes essenciais ao ser humano. São eles: a polidez, a fidelidade, a prudência, a temperança, a coragem, a justiça, a generosidade, a compaixão, a misericórdia, a gratidão, a humildade, a simplicidade, a tolerância, a pureza, a doçura, a boa-fé, o humor e o amor.
Sobre a gratidão ele observa: "A gratidão é a mais agradável das virtudes; não é, no entanto, a mais fácil. Por que seria? Há prazeres difíceis ou raros, que nem por isso são menos agradáveis. Talvez sejam até mais. No caso da gratidão, todavia, a satisfação surpreende menos que a dificuldade. Quem não prefere receber um presente a um tapa? Agradecer a perdoar? A gratidão é um segundo prazer, que prolonga um primeiro, como um eco de alegria à alegria sentida, como uma felicidade a mais para um mais de felicidade. O que há de mais simples? Prazer de receber, alegria de ser alegre: gratidão. O fato de ela ser uma virtude, porém, basta para mostrar que ela não é óbvia, que podemos carecer de gratidão e que, por conseguinte, há mérito - apesar do prazer ou, talvez, por causa dele - em senti-la. Mas por quê? A gratidão é um mistério, não pelo prazer que temos com ela, mas pelo obstáculo que com ela vencemos. É a mais agradável das virtudes, e o mais virtuoso dos prazeres."
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O Budismo de Nitiren Daishonin sempre enfoca a importância do espírito de gratidão. A manifestação desse sentimento é a base da prática budista, essencial para que uma pessoa promova uma mudança profunda e radical em sua vida, ou seja, a conquista de sua revolução humana.
Nesse caso, o espírito de gratidão representa muito mais do que ter uma boa formação moral. Está relacionado ao próprio entendimento que uma pessoa tem sobre sua vida e a Lei que rege o Universo.
Por exemplo, o budismo explica a intrínseca relação existente entre os seres humanos. Por mais que se deseje, é impossível viver isoladamente, pois direta ou indiretamente, uma pessoa sofre ou exerce algum tipo de influência sobre a outra, numa relação interdependente. Moradias, alimentos, roupas, enfim, tudo o que o homem necessita para viver, depende da ação de uma ou mais pessoas. E, por usufruir desses benefícios, resultantes dos esforços de outras pessoas, o ser humano deveria cultivar o sentimento de gratidão e de retribuição aos outros.
O Buda Nitiren Daishonin sempre expressava sua gratidão a todas as pessoas, nunca se esquecendo de agradecer aos menores oferecimentos que recebia de seus discípulos, pois sabia das grandes dificuldades que eles enfrentavam para sobreviver e se devotar sinceramente à prática da fé.
Daishonin sentia gratidão também por seus piores inimigos que tentavam destruí-lo de todas as maneiras. Quando a tentativa de executá-lo em Tatsunokuti falhou, ele demonstrou profunda consideração por seus executores, oferecendo-lhes palavras de incentivo e saquê. Daishonin encarava seus oponentes de forma positiva, agradecendo-lhes pela oportunidade de comprovar a veracidade de seu ensino.
Por que ele agia dessa forma? Um de seus escritos esclarece: "A razão pela qual devem ter gratidão por todos os seres vivos deve-se ao fato de [uma vez que a vida se estende pelas três existências] todos os homens terem sido seu pai no passado, uma vez ou outra, e todas as mulheres terem sido sua mãe. Existência após existência, vocês ficaram em dívida com todos esses seres, é por isso que devem desejar que todos atinjam o estado de Buda." (Gosho Zenshu, pág. 1527.)
O sentimento de gratidão desperta na pessoa o desejo de retribuição. No caso de Daishonin, esse sentimento o levou a dedicar sua vida para tornar-se o homem mais sábio do Japão e assim, ajudar seus pais e o povo de sua época e das eras vindouras a desfrutarem a mesma felicidade que ele havia alcançado em vida.
Da mesma forma, seu discípulo-sucessor, Nikko Shonin viveu com esse mesmo espírito, e também os sucessivos líderes da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti, Jossei Toda e Daisaku Ikeda.
Daisaku Ikeda, presidente da SGI, disse em certa ocasião: "É importante jamais se esquecer do débito de gratidão que possuem com as pessoas que os ajudaram a desenvolver-se, que os apoiaram e os encorajaram. Por favor, empenhem-se para retribuir sinceramente a esse débito de gratidão. Esse é o caminho de uma vida verdadeiramente humana e vitoriosa.2
Pode-se dizer que manifestar esse nobre espírito requer uma luta contínua entre o lado negativo e o positivo, inerente na vida de cada pessoa.
O segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, comentava que o ser humano era essencialmente egoísta e que, naturalmente, iniciava sua prática budista a fim de solucionar seus problemas pessoais e não os alheios.
Mas, a partir do momento em que os benefícios decorrentes da prática da fé se manifestam, surge em seu coração a gratidão e começa a sentir a necessidade de proporcionar às outras pessoas a mesma felicidade que ele sente. Esse é o estágio ideal em que a pessoa atinge uma profunda compreensão dos ensinos budistas por meio de uma elevada condição de vida, o caminho de um bodhisattva.
O budismo classifica os estados de vida que constituem a experiência humana em dez mundos ou domínios que vão do menos ao mais desejável. O mundo do Inferno é uma condição em que o ser humano está submerso no sofrimento; o mundo da Fome é um estado no qual o corpo e a mente estão mergulhados nas chamas impetuosas do desejo; o mundo de Animalidade é uma condição em que se teme o mais forte e aproveita-se do mais fraco; pessoas que vivem no mundo da Ira desejam sempre vencer e dominar as outras; o mundo de Tranqüilidade é um estado calmo marcado pela capacidade de se fazer julgamentos racionais; o mundo de Alegria é um estado repleto de contentamento; o mundo de Erudição representa uma condição de aspiração à iluminação; o mundo de Absorção é caracterizado pela capacidade de perceber a verdadeira natureza dos fenômenos; o mundo de Bodhisattva é um estado de benevolência no qual busca-se salvar todas as pessoas do sofrimento; e, finalmente, o mundo do estado de Buda consiste numa condição de completa e perfeita liberdade humana.
Dentro de cada um desses dez estados ou mundos é igualmente encontrado o espectro dos dez mundos. Em outras palavras, o estado de Inferno contém cada um dos demais estados, desde o próprio Inferno ao estado de Buda. De acordo com a visão budista, a vida nunca é estática, ela está sempre em constante fluxo, resultando numa transformação dinâmica de momento a momento entre esses vários estados.
Portanto, a questão mais fundamental é qual desses dez estados, em meio ao vibrante fluxo da vida, forma a base da própria existência, a tendência de vida de uma pessoa.
Do ponto de vista do Budismo Nitiren, o destino, feliz ou infeliz, de uma pessoa resulta do acúmulo de ações efetuadas por ela pelos pensamentos, palavras e ações em existências passadas ou no presente.
Quando essas ações são baseadas em um estado de vida inferior, as pessoas realizam maus atos e acabam acumulando mais causas negativas e recebendo o efeito na forma de infelicidade. Por exemplo, se o estado dominante é a Fome, as causas que se faz tendem a produzir efeitos que intensificam esse estado, num eterno ciclo de sofrimento. Existem pessoas que aparentemente demonstram gratidão, mas no fundo, suas ações são motivadas pelo desejo de conseguir algo em troca.
Normalmente fatores externos influenciam o humor, o comportamento, as emoções das pessoas. Ou seja, elas reagem aos acontecimentos à sua volta, indo do estado de Alegria ao de Inferno de um momento a outro.
Já a prática do Budismo Nitiren incita as pessoas a tornarem-se "senhoras de sua mente". Isto é, a tornarem-se fortes ao ponto de quebrar esse ciclo, esse padrão negativo de comportamento que as arrastam pelas circunstâncias da vida.
A prática budista é o caminho de vida centralizado nos mais elevados estados - os de Bodhisattva e de Buda - e estes são considerados como uma existência humana ideal. Isso não quer dizer que é preciso erradicar os outros estados de vida e deixar de sentir ódio, alegria, sofrimento e prazer, pois eles fazem parte da natureza humana. No entanto, esses sentimentos podem ser direcionados de uma forma positiva, como por exemplo, sentir ódio pela guerra e ira pelas injustiças.
Quando uma pessoa recita o Nam-myoho-rengue-kyo e determina viver com o mesmo espírito de Daishonin, consegue revelar uma suprema condição de vida. Livre do egoísmo, ela experimenta um sentimento de gratidão de lutar pelo bem das demais pessoas e consegue vencer todas e quaisquer adversidades, resultando dessa postura, imensuráveis benefícios. O espírito de gratidão é o cerne da prática da fé e a eterna motivação que proporciona um avanço contínuo e ilimitado para todos aqueles que a manifestam.
"Entre todas as ações, a ação de cuidar dos pais é a mais importante. Ainda mais a ação de cuidar dos pais por meio da fé na Lei Mística é tão perfeita como a de colocar água límpida num vasilhame de ouro." (Gosho Zenshu, pág. 1.481.)
"Agora eu, Nitiren, nasci como um ser humano, algo difícil de conseguir, e encontrei os ensinos budistas, algo raro de encontrar. Além disso, pude encontrar o Sutra de Lótus. Quando paro para pensar na minha boa sorte, percebo que estou em dívida com meus pais, com o soberano e com todos os seres vivos. "Com relação à dívida de gratidão com os pais, o pai pode ser comparado ao céu e a mãe, à terra, e seria difícil dizer a qual deles devemos mais. Contudo, é particularmente difícil retribuir à grande bondade de uma mãe. "Se, desejando pagar essa dívida, a pessoa procura fazê-lo seguindo escrituras externas como os Três Registros e Cinco Cânones ou o Clássico da Devoção Filial, conseguirá ajudar a mãe nesta vida, mas não poderá auxiliá-la na próxima existência. Embora possa proporcionar-lhe o necessário materialmente, será incapaz de salvá-la espiritualmente. (...) Só o Sutra de Lótus revela que uma mulher pode atingir o estado de Buda e, portanto, percebi que este sutra é aquele que torna possível a verdadeira retribuição à bondade de uma mãe. Para pagar essa dívida, jurei habilitar todas as mulheres a recitarem o Daimoku deste sutra." (END, vol. 6, pág. 275.)
"A velha raposa3 jamais esquece a colina onde nasceu; a tartaruga branca retribui a gentileza que havia recebido de Mao Pao. Se mesmo criaturas inferiores sabem o suficiente para agir assim, então os seres humanos deveriam fazê-lo muito mais!" (END, vol. 4, pág. 17.)
"Aquele que estuda os ensinos do budismo não deve deixar de pagar as quatro dívidas de gratidão. De acordo com o sutra Shinjikan, a primeira das quatro dívidas é aquela para com todos os seres vivos. Se não fosse por eles, seria impossível fazer o voto de salvar inumeráveis seres vivos. Além disso, se não fosse pelas pessoas más que perseguem bodhisattvas, como esses bodhisattvas poderiam acumular benefícios? A segunda das quatro dívidas é aquela para com o pai e a mãe. Para nascer nos seis caminhos, a pessoa tem de ter pais. Se uma pessoa nasce numa família de um assassino, um violador das normas de conduta ou um caluniador da Lei, então, mesmo que ela própria não tenha cometido essas ofensas, na realidade forma o mesmo carma que as pessoas que o fazem. Com respeito a meus pais nesta existência, entretanto, eles não só deram-me a vida, mas também permitiram-me tornar um praticante do Sutra de Lótus. Assim, possuo com os meus atuais pai e mãe uma dívida muito maior do que teria se tivesse nascido na família de Bonten, Taishaku, um dos Quatro Reis Celestiais ou um Rei Girador da Roda" e, conseqüentemente, tivesse herdado o mundo tríplice ou os quatro continentes dos mundos e sido reverenciado pelos quatro tipos de seguidores dos mundos de Tranqüilidade e Êxtase." (END, vol. 5, pág. 131.)
Edição 424 - Publicado em 01/Dezembro/2003 - Página 2
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